domingo, 25 de janeiro de 2015

MESTRA



O teu sorriso é a fragância pura da felicidade.

Eu, discípulo imundo, possuído pelos vícios da maldade.

 

Tu, afagas a vida com mãos de mestria

Eu, vegeto petrificando a alegria.

 

Tu, paixão inusitada de fervor

Eu, rastejo na terra envenenando-a com a minha dor.

 

Tu, encerras um mundo de esperança

Eu, mergulhado no calvário da relutância.

 

Tu, desnudas-te num verdadeiro altruísmo

Eu, empunho a bandeira do egoísmo.

 

Agora sou eu que te imploro uma oportunidade

Tu, afagas-me com um olhar de piedade.

 

Eu, suplico-te, só uma vez

Tu, confortas-me despojada de qualquer altivez.

 

Eu, sou um mero aprendiz a quem deste grandes lições

Agora fundidos

Imergimos num oceano de emoções.

 

Tu, és o meu talismã de humildade

Eu, aprendi a ser um homem de verdade!

 

 

DIOGO_MAR

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

TANTO POR NADA



Percorro o caminho que serpenteia o teu corpo.

Abraço o inatingível, com a ânsia de viver, com a fome de te desejar.

Estou sedento, sinto-me morto.

 

Esmagas o meu desejo, numa indiferença atroz,

Embargas a minha vida

Silencias a minha voz.

 

É na gélida soleira do tempo, onde pouso a cabeça de um corpo inerte que jaz sobre a terra

Lanço um grito lancinante, de uma alma em busca de paz e a quem tu brindas com guerra.

 

Altivez cruel cega e raivosa

Entapetaste o caminho de espinhos, desta mão que te oferendou uma rosa.

 

Cama de chão, lençóis feitos de vento

Travesseiro de solidão

Confidente do murmúrio deste meu lamento.

 

Rosto lavado em lágrimas

De uma ausência crucificadora

Sonho desalentado

Na penumbra demolidora.

 

As tuas memórias, despertam em mim a primavera

Deste inverno taciturno

Dá guarida, ao meu amor mendigo, no teu paraíso de mundo.

 

Restitui-me a luz do dia

Nesta alegoria de desespero

A razão da minha existência

Tornou-se num pesadelo.

 

DIOGO_MAR

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O JOELHO DA SOLIDARIEDADE HISTÓRIA_12



Aquela manhã a aldeia despertou, sob um denso manto de neve.

Da janela de sacada do meu quarto, gozava de uma paisagem de privilégio, já que a casa da minha Avó, fica inserida numa quinta sobranceira ao povoado.

De pantufas, pijama e com a minha mantinha por sobre os ombros, com a casa confortavelmente aquecida, aquela janela, era a fronteira que delimitava o aconchego, do agreste.

Eu, já sabia, que os invernos por estas paragens são rigorosos, os velhos, dizem que é bom presságio que assim seja.

A sabedoria do grupo que frequenta o largo da aldeia, num jogo de sueca, ou na taberna do Sr. António, diz que a neve trata da terra mata a bicharada, tornando o solo mais fértil para as sementeiras.

Eles, bem que sabiam interpretar o livro da vida, onde o tempo é o mestre.

Estava rendido a tão belo fenómeno.

Eis que ecoa nos meus ouvidos a voz doce e terna da minha avó.

 

Diogo, vem tomar o pequeno-almoço.

 

Soltei mais um bocejo retardatário.

 

Sim Avó, já desço!

O frio que está lá fora, transmitia-me uma vontade acrescida de preguiçar, e quanto mais junto da lareira melhor.

Como eu dizia muitas vezes fazer vida de gato, deitado no escano, a ler um livro, a compasso do crepitar da lenha.

Chegado à mesa, lá me esperava o que eu apelidava de manjar do marquês.

De resto, não sei porquê, os netos estão sempre magros aos olhos dos Avós!

Pão, marmelada, compotas variadas, confecionadas pelas suas mãos ternurentas, cheias de mundo.

Mas não ficava por aqui.

Torradas queijo, fiambre presunto e até por vezes ovos mexidos.

Tudo isto acompanhado por leite e café feito numa grande cafeteira com água onde se dissolvia o pó do café.

Por isso batizei-o, por café da Avó.

Era delicioso.

O quanto era agradável sentir as minhas narinas, inundadas por tão reconfortante cheirinho.

Ela repetia a frase:

 

Vá come Diogo, tens de ficar forte.

Come o que quiseres.

 

Eu sei Avó, obrigado.

Era tratado de forma principesca.

Nada podia faltar ao neto.

Por tudo isto os meus Pais, gracejavam dizendo:

 

A tua Avó estraga-te com mimos!

 

Já com o estômago devidamente aconchegado, fui ter com os meus amigos da aldeia, sem antes ouvir os concelhos que me dava.

Agasalha-te!

Faz atenção com os locais para onde vais brincar!

Diogo, quando ouvires o relógio da torre da igreja dar as badaladas do meio-dia, chega-te para casa.

 

Sim Avó.

Despedi-me dela, com um abraço e o beijinho que tanto gosta e merece.

Era muito bonita, tinha um olhar doce e terno, uma ou outra impressão digital, que o tempo havia gravado, no seu lindo rosto em forma de ruga.

Lá fui a conquista dos montes e vales, ao encontro dos meus amigos.

Embora tivesse bicicleta, o piso estava com gelo, e neve que inviabilizava a sua utilização.

Logo ouvi chamar por mim.

 

Diogo!

 

Veio o Rui, esbaforido ao meu encontro.

Anda estamos no adro da igreja a jogar futebol.

 

Bora lá vamos para ver se aqueço.

 

Hoje está mesmo muito frio, não está Diogo?

 

Mesmo!

Já quase junto do grupo escorrego numa placa de gelo, embatendo com o joelho esquerdo numa pedra, estatelando-me ao cumprido sobre aquela coisa tão fria.

Soltou-se uma gargalhada em uníssono.

 

Então Diogo?

Já não te seguras de pé?

 

Dizia outro:

 

O que bebeste ao pequeno-almoço pa?

 

Esbocei um sorriso, misturado com uma máscara de dor.

O Rui ajudou-me a levantar.

Caminhei para junto deles, mas logo me sentei.

As dores tornavam-se mais intensas.

 

Então Diogo, não jogas?

 

Não, o joelho está a doer-me bastante.

Subi a perna esquerda da calça, e deparei-me com um cenário que me assustou.

O joelho havia enxado de forma galopante.

Foi então que eles se aperceberam da gravidade da minha situação.

 

Ei, Diogo, é melhor chamar uma ambulância.

 

Todos procuravam uma forma de me ajudar.

Eu uma certeza tinha, não conseguiria chegar a casa pelo meu pé.

E a minha Avó como ia ficar!

Foi então que o Rui tomou o comando das operações.

 

Vá, em vez de estarmos aqui a lamentar vamos levar o Diogo para casa.

Eu vou do teu lado esquerdo põe o braço por sobre os meus ombros e dessa forma já não apoias o pé no chão.

 

Rui, espera, eu vou ver se o meu Pai, ainda não saiu, ele leva de carro o Diogo, disse o Jorge.

 

Ok, vai rápido!

 

As dores eram intensas, eu tentava suster as lágrimas.

Era confortado por todos.

 

Tem calma Diogo, vais ver que não é nada de grave.

 

Eis que se ouve o barulho do motor de um carro.

Era o Pai do Jorge.

 

Então rapaz, o que te aconteceu?

 

Escorreguei no gelo, bati com o joelho numa pedra e não consigo andar.

As lágrimas já irrompiam.

 

Mostra lá.

Eilá!

Isto está feio!

Melhor é irmos diretamente ao hospital.

 

Não por favor não.

Quero a minha Avó.

Leve-me até ela se faz favor.

 

Claro que sim, mas se ela achar por bem levo-te de seguida ao hospital.

 

E o Sr. João o endireita?

 

Questionou o Rui.

 

Não acha uma boa ideia Sr. Henrique?

 

Olha, agora é que falaste acertado Rui.

Vamos diretos lá, pode ser que ele nos diga o que será melhor fazer.

Queres Diogo?

 

Sim quero.

 

Vá eu ajudo-te.

 

Pegou em mim meteu-me no banco traseiro.

 

Só pode vir um comigo.

 

Não te importas que eu vá com o teu Pai Jorge?

 

Claro que não Rui!

 

Vamos lá rápido.

 

Chegados a casa do Sr. João, ele estava a tratar dos animais, a esposa foi chamá-lo, era uma casa de lavoura, mas muito asseada.

 

Então Henrique, o que te traz por cá?

 

Desculpe vir chateá-lo trago-lhe o neto da dona Rita.

 

Que Rita?

 

Da quinta dos Sonhos.

 

A da serra?

 

Sim essa mesmo.

 

Senta aqui neste banco, como te chamas?

 

Diogo.

 

O que te aconteceu?

 

Escorreguei numa placa de gelo, e embati com o joelho numa pedra, dói-me muito.

 

Tira essa perna para fora das calças.

 

Ora deixa la ver.

 

Chi!

Isto está muito enxado!

Eu vou mexer, vais ter que ser forte, ok?

 

Sim.

Segurei com força a mão do Rui.

Podes apertar Diogo, força!

Amordacei o grito de dor, as lágrimas rolavam em fio.

Senti-me desfalecer.

Lembro-me de ser amparado pelo Rui, e pelo Sr. Enrique.

Depois, acordei deitado numa cama, ao som da cadência do tique taque de um relógio de cabeceira.

 

Então, já estás melhor?

 

Sim, eu desmaiei não foi?

 

Exatamente Diogo.

 

Bebe este copo de água com açúcar.

 

Desculpem, só estou a dar trabalho.

Olhei as horas no velho relógio, 12 e 30.

Tenho de ir, a minha Avó, já deve estar a ficar preocupada, ela recomendou-me que fosse para casa, pós as badaladas do meio-dia.

 

Tem calma Diogo, atua Avó já sabe o que aconteceu, e que estas aqui.

 

Meu deus Rui, deve estar muito preocupada. Quero ir para junto dela.

 

Já vamos, só estávamos a espera que ficasses melhor.

 

Obrigado Sr. Enrique, e Sr. João.

Não vai ser necessário ir ao hospital pois não?

 

Não Diogo.

 

Mas não vais poder exercer preção sobre a perna durante 10 dias.

Vais ter de estar em repouso.

Fizeste um traumatismo violento, que desenvolveu um processo inflamatório agudo.

Mas nada de grave.

 

Estava com joelho envolto numa ligadura, e com menos dores.

 

O Sr. João, era o massagista da equipa de futebol la da terra.

Dizem que tem mãos milagrosas.

 

Vais esfregar 3 vezes ao dia esta pomada, feita por mim, com ervas medicinais e tem que se comprar na farmácia este antinflamatório.

 

Ok Sr. João, eu desde já lhe agradeço muito, e depois a minha Avó faz contas com o Sr.

 

Deixa lá isso rapaz, o importante é que fiques bom, e eu um destes dias passo lá para te fazer uma visita.

 

Com todo o gosto!

Chegado a casa fui ajudado por todos os meus amigos, que me esperavam na sala.

Abracei a minha Avó, e confortei-a.

Já estou melhor Avó, já passou o susto.

Tenho fome!

Ri, para desanuviar o clima.

 

Meu Deus Diogo!

Os teus Pais o que vão dizer!

 

Dona Rita, aconteceu ao Diogo, como podia acontecer a um de nós.

 

Avó, tu sabes que eles vão compreender!

 

Henrique, obrigado, e quanto lhe devo?

 

Ora essa dona Rita, não deve nada, só falta ir comprar um antinflamatório, eu de tarde tenho de me deslocar a vila, e poço trazer.

 

Faça-me esse favor.

Já lhe dou o dinheiro e desculpe toda esta trabalheira.

 

O importante, são as rápidas melhoras do Diogo.

 

Obrigado Rui, e a todos claro.

 

Obrigado por quê dona Rita.

Até parece que não conhece os hábitos da nossa aldeia.

Um por todos, e todos por um.

 

Quero agradecer-vos, em me terem dado esta grande prova de amizade.

 

Está bem Diogo, agora, o importante é ficares bom, e não esqueças, repouso.

 

Bom vamos andando.

 

Depois do almoço venham até cá.

Jogamos monopólio, e batalha naval!

 

Ok, combinado!

 

Fixe, assim tenho-vos junto de mim, e os dias tornam-se mais agradáveis.

 

Eu vou buscar a casa uma canadiana esquerda para te trazer.

Tenho lá um par, quando o meu irmão teve o acidente de mota.

 

Ok Rui obrigado.

 

Vai e avisa a tua Mãe que almoças aqui.

 

Está bem dona Rita, obrigado, venho já!

 

O Rui, era como um neto para ela, tinha acompanhado muito de perto o seu crescimento, criando fortes laços, já que a Mãe granjeava, as terras na quinta dos meus Avós.

Estava a ter mais uma grande e inequívoca prova, da solidariedade que impera nas gentes daquela aldeia.

Agora já estava mais confortável, sob a guarda, carinho e amor da minha Avó e da grande amizade e solidariedade, dos meus amigos, destacando o Rui, que sempre foi o meu eleito.

O Ruca para os amigos!

 

 

DIOGO_MAR

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

GRITO DE SILÊNCIO



Embalo os dias vazios, num olhar melancólico, vestido de abandono a percorrer o teu retrato, emoldurado pela mão carrasca e impiedosa da saudade.

Ó, tempo longínquo a perder de idade.

 

Peito desventrado, pela força implacável e incandescente da ausência.

Lagrimas derramadas num chão de sofrimento.

Coração peregrino a pulsar evocando esse momento.

 

Fogueira de gelo, petrificada pela cristalização dos dias

Arranco ao peito o grito exuberante, mas amordaçado do beijo que me pedias.

 

Recorto as palavras com o bisturi da paixão

Naufrago na terra do desencanto, prostrado por sobre a laje da solidão.

 

Dispo-te, no olhar fecundado de um amor que partiu

Correnteza da amargura asfixiante, das margens do desespero que me pariu.

 

És a luz das trevas que ilumina o meu ser

És a mágica noite de êxtase infinita, sem amanhecer.

 

Não,

Não corras mais meu coração louco

Não podes agarrar a vida já passada

Deambulo feito pássaro perdido, escabeceando nesta vida de langor e desabrigada.

 

O meu peito, explode em fogo de napalm

Jorrado na lama do sofrimento sangram as cicatrizes da alma

Por favor enlaça-me na tua âncora de abrigo, no teu abraço de mundo

Imploro-te!

Vem!

Sacia-me a fome!

 

 

DIOGO_MAR

sábado, 3 de janeiro de 2015

VIVÊNCIAS DA MINHA ALDEIA HISTÓRIA_11



 
Estava eu pelos meus 14 anos, idade essa que se permite ter todos os sonhos e fantasias.

Depois crescemos, e constatamos que não é bem como nós alicerçamos os nossos projetos.
Como de um quadro se tratasse, que pintávamos com tons vivos e coloridos, mas com o decorrer do tempo, ia adquirindo alguns sombreados.
Eram as fintas e rasteiras da nossa vivência.
Processo por vezes doloroso, mas que nos faz amadurecer.
estávamos na fasquia entre os 12 e os 15 anos.
Ou seja: os mais novos do grupo eram o Rodrigo e o Daniel
Pelo meio estava eu e o André
O mais velho era o Rafael.
Olhando a proximidade das nossas idades, padecíamos dos mesmos problemas e ânsias, da adolescência.
Acalentávamos um futuro desenhado e projetado por nós.
Que idade tão bonita.
Idade de saborear todas as travessuras, e sentirmo-nos os verdadeiros campeões os donos do mundo.
Tempo das primeiras namoradas, dos amores inocentes, como se de um filme se tratasse, onde desempenhávamos o papel de atores principais.
Ainda não se tinham banalizado, princípios morais e éticos.
Os patamares da vida tinham outro encanto.
A par de tudo isto, os nossos Pais iam-nos incutindo o sentido de responsabilidade, através das tarefas pelas quais nos incumbiam.

Felizmente que não éramos embriagados pelo facilitismo irresponsável agora reinante.

Claro está que os padrões de educação eram algo diferentes, os melhores que os nossos progenitores achavam para nós.
Como pássaros livres, nós também vivíamos em perfeita harmonia com a natureza.
Sabíamos respeitá-la, mesmo porque tínhamos a consciência que dela dependíamos.
O amanho da terra, as sementeiras, as colheitas o cuidar dos animais.
Tudo isto eram tarefas às quais dedicávamos parte do nosso tempo.
Era um orgulho ver os campos asseados, eram os jardins da nossa aldeia.
Os animais bem tratados, transpirando saúde.
Eles a seu tempo iam entrar na nossa cadeia alimentar.
A lei justa da sobrevivência.
Embora eu tivesse alguma relutância quanto a isso, já que havia animais pelos cuais ganhava afeição.
E não aceitava muito bem a sua morte.
Principalmente os coelhos.
Isto já não se aplicava aos perus e as galinhas, que achava animais estúpidos e pasmacentos.
Sempre que se procedia à morte de animais lá em casa, ou na aldeia eu nunca ia assistir.
Os meus Pais respeitavam essa minha vontade, e nunca me forçavam a ver tal tarefa.
Os meus amigos gozavam comigo, e com o André que partilhava da mesma atitude.
Por alturas da matança do porco, a família do Rafael convidava-nos para esse ritual.


Então Diogo, não vens?


Espicaçava-me ele, num tom provocatório, sabendo da minha resposta.
Olha Rafa, vai dar uma volta, bem sabes que não.


Pois, mas depois gostas de comer os rojões! Lol.


Mas logo se apressou a dizer:


Estou na brincadeira contigo Diogo.
Nós sabemos bem que tu e o André não gostam de ver matar.


Não fosse eu levar aquele comentário asseriu, e rejeitar o convite.


Depois vão lá ter para o almoço ok?


Sim, depois eu e o André vamos la ter.
Rafael: Poço convidar o Rodrigo?


Sim, claro que sim, a questão é que o Pai dele deixe.


Sendo a pedido do meu Pai, ele não se atreve a negar.
O Armando era um personagem bastante problemático, já contava no seu curriculum com uma passagem pela cadeia.

O Rodrigo era afilhado dos meus Pais, pessoas a quem o Armando respeitava e temia.
Já que o meu Pai o reprendia pelos maus tratos que infligia à família.
Não admitia essa postura animalesca da parte do Pai do Rodrigo.

Pairava no horizonte a possibilidade dos meus Pais, requererem a guarda dele fazendo valer a posição de Padrinhos.
Situação que me agradava imenso, já que ganhava o irmão que não tinha.
O Armando, não nutria grande simpatia por mim, porque eu o afrontava, em defesa Do Rodrigo.
As suas ideias ditatoriais passavam-me ao lado, eu sabia rebatê-las.
Não tardou, e os gritos lancinantes do suíno ecoavam pela aldeia.
Eu punha o som da música mais alto para abafar aquele estridente ruido.
Depois dessa fase traumática para mim, já podia por pés ao caminho para ir chamar o Rodrigo.
Acompanhado pelo André lá fomos enfrentar aquela figura austera e rude que era o Armando.


O que querem?


Primeiro, bom dia.
Fica bem dizer-se.
Segundo, venho chamar o Rodrigo para ir almoçar connosco a casa do Rafael, estão lá todos, e os meus Pais fazem gosto que ele vá.


De forma grosseira, lá chamou o filho.
O Rodrigo acercou-se do portão.


Vais, mas não te quero aqui tarde.
Estás a ouvir pá?


Também não vamos comer apressadamente para ele vir para casa, é falta de educação sair da mesa antes que todos acabem de almoçar.
Bem como, não se vai a casa de ninguém só para comer e logo sair.
São regras de boa educação que os meus Pais me ensinaram, e claro está, também querem que o afilhado tenha.
Certo?

 

Isto não pode ser assim Diogo.


Bom, isso é um assunto que você deve falar com o meu Pai.
Ele enquanto está na nossa companhia está bem, ao contrário daquilo que você acha.
Há, e está feliz.
O Rodrigo tal como eu e todos, tem direito a felicidade.
Não acha?


Bom, vamos ficar por aqui, respondeu o Pai do Rodri já com um semblante carregado.


Senti que tinha vontade de descarregar a sua fúria em cima de mim, mas nem se atrevia a tal.
O Rodrigo, dava-me toques, em sinal para eu me calar, tendo receio, que eu ao entrar em despique com o Pai, hipotecasse a ida dele ao almoço.
Mas eu, que sempre fui e sou de fortes convicções, não me deixava amedrontar, pelo tom ríspido e intimidatório do Armando.
Para mim, antes quebrar que torcer.
Com a minha razão ninguém me cala.
Dobramos a esquina da rua, e o Rodrigo logo esboçou um sorriso que lhe inundou o rosto, contrastando com o azulado dos seus olhos.
Parecia ter ganho um uma nova vida.
Era sempre assim, quando eu o arrancava de casa.


Obrigado Diogo, só tu para me libertares.


Para mim, não há nada que pague a felicidade de alguém de que gostamos muito.
Era esse o caso, o Rodri era um irmão.
Agora já em casa do Rafa, com um forte cheiro a rojões e a sarrabulho, e com toda aquela gente, vivia-se um ambiente de alegria pura, e contagiante.
Deram-nos as boas vindas, e ficaram felizes ao verem o Rodrigo.


Ó meu amor, tu vieste!

Que bom!

 

Arrancou um enorme beijo da Zulmirinha e da minha Mãe e Madrinha, que ele adora.

O Avô do André, levou um acordeão, o meu Pai pegou no cavaquinho, o Pai do Rafael nos ferrinhos.
Estava montado o cenário para uma tarde de convívio, que cada escalão etário aproveitava da melhor forma.
Foi festa rija até a noite.
Bem a moda do Alto-Douro.

 

 

DIOGO_MAR