Por vezes, dou por mim a rebobinar o filme percorrido até
aqui.
São a retrospetiva de episódios que irão ter o seu epílogo.
Uma travessia, dos capítulos de vida, que vou esmiuçando
retratando-a, ao fazer esta introspeção.
Nascemos expostos a todos os desafios que a nossa existência
nos vai confrontar, como se tratasse do bilhete com o número a sortear pela
lotaria da vida.
Se eu, passasse ileso as agruras cáusticas, será que tinha
amadurecido, no trilhar escarpado pela erosão do implacável tempo corrosivo e cruel,
que por vezes levanta-nos barreiras intransponíveis?
É um verdadeiro e penoso teste as nossas capacidades!
Lembro-me que até aos meus 16 anos, do espirito de conquista
que era fazer as marcas na umbreira da porta do meu quarto, vendo
orgulhosamente a minha desenvoltura física.
O relógio nem o calendário representavam nada para uma vida
que eu próprio comandava.
Ou pensava eu que comandava!
Um ano que parecia infindável, havia-se tornado tão fugaz.
Os dias, meses, anos vestiram-se de volatilidade implantando
em mim, uma escravatura a qual eu, estou irremediavelmente confinado.
Os braços do tempo, são como algemas invisíveis, que nos
marca a cadência feroz, de metas que nos propusemos alcançar.
Sob o jugo do relógio e do calendário, tornamo-nos robotizados,
por uma vida obcecada pela valorização pessoal.
O mundo cego e louco da competição.
Uma verdadeira lei da selva.
O salve-se quem poder.
Aglutinamos num verdadeiro turbilhão, todas as ambições que
estabelecemos de forma sôfrega e doentia.
Já não temos tempo, para o tempo.
O relógio e o calendário tornaram-se uns ditadores implacáveis,
com voz altiva onde já não cabe o contraditório.
São os nossos carrascos.
Esvanecem todas as estações da primavera da vida, que ilustrava
um guião que tínhamos conjeturado.
Resta-nos o outono da nossa vivência, com as suas folhas
caducas a deixar-nos um trago de insatisfação e frustração de vida onde o vento
parece varrer para bem longe a simplicidade de algo que se tornou inatingível,
entapetando as realizações.
Que sabor amargo!
Em suma:
Uma mão cheia de nada!
Agora sou mais um, estandardizado e manietado, para onde me empurram,
sem ter poder de escolha, restando-me um nó no peito de angústia.
Olho para as marcas ainda visíveis na umbreira da porta do
meu quarto, e sinto uma vontade inconsolável, de regredir aos tempos em que o
tempo não tinha tempo para mim.
Ou que eu tinha todo o tempo para ele!
DIOGO_MAR
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