Ali estavam as paredes imponentes rudes e toscas, resistentes
à erosão dos anos, da casa onde germinaram todos os meus sonhos.
Transpiravam suor acre-doce, das raízes da memória dolente a
venerarem o passado.
Amores e desamores, derrotas e vitórias, aos ombros derreados
do velho gigante do tempo, de cabelos imaculados de sabedoria.
Eu, sentado à janela de sacada, debruçado no parapeito da
melancolia, com olhar rasgado, sobre a imensidão daquele vale a segredar-me,
lendas e preces, onde crepitam histórias de vidas a perder de vista, entrecortado
pelo bailado das águas cristalinas do rio, ora manso ou feroz, mensageiro de abundância,
ou fome, esculpido nos rostos encortiçados, pela labuta e angústia, que é a incógnita
da generosidade divina das colheitas.
Folheio os dias desbotados, afagando-os com mãos de mundo, gretadas
pela enxurrada da saudade a diluir-se, por entre os dedos finados de ânsia.
Repouso sentado à soleira do tempo, embalando histórias de
uma travessia, que se eclipsou em cinzas deste peito, escavado por uma lânguida
recordação.
Agora já só restam páginas impercetíveis, no rumorejar da
saudade.
DIOGO_MAR
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