Lembro hoje, com ternura muitos dos meus brinquedos, que em
cada fase da minha vida, me proporcionaram momentos únicos, de prazer.
O meu lego, e um exemplo acabado disso mesmo.
Todas as construções que eu fazia, dando largas a minha imaginação.
Carros, aviões, castelos, bombas de gasolina, camiões.
Sozinho, ou com os meus amigos, ele era efetivamente um
atrativo as nossas brincadeiras.
Era um privilegiado já que cada caixinha pequena de lego,
chegava a custar 500 escudos.
Isto só estava ao alcance de alguns, mas que os meus Pais me
presenteavam, sabendo do enorme prazer que me dava fazer lego, além da importância
para o meu desenvolvimento cognitivo.
Eram tempos diferentes dos de hoje, mas que tenho a
sensação, que para lá estamos a caminhar.
Já que volto a assistir a clivagens sociais de veras
preocupantes e até mesmo assustadoras.
Hoje mais que nessa altura, porque neste espaço de tempo
perderam-se muitos dos valores solidários, que outrora tínhamos, e que
norteavam a nossa conduta de vida.
Hoje cada um olha para o seu umbigo, pavoneando os seus bens
materiais.
Nesse tempo, as pessoas, não tinham que se expor, para
dizerem que sentiam fome.
Nós éramos vizinhos de proximidade, que sabíamos quem na
verdade precisava de ajuda, e dizia-mos presente.
Hoje, tudo é diferente, temos fome na porta ao lado da
nossa, mas por desconhecimento, ou porque queremos ignorar,
Pouco ou nada fazemos.
Mas voltando, as minhas coloridas e criativas construções de
lego, por vezes carregadas de muita ilusão e de sonhos, dos objetivos de
qualquer miúdo de 9 anos.
Uma casa grande, um carro era tudo aquilo que eu acalentava.
Lembro-me de um dia em que se levantou vento,
A cortina da janela do meu quarto resolveu ir dar um abraço,
a uma grande construção que eu tinha feito, E que se encontrava por sobre
a cómoda.
Era um avião enorme e muito bonito.
Levou-me semanas a construir.
Sim, digo era, e sabe porquê?
Quando no retorno da cortina para o seu sitio,
Ela arrastou uma das azas, que por sua vez precipitou todo o
meu avião, fazendo em pedaços.
Quando mais tarde regressei ao meu quarto, dei de caras com
um autêntico mar de lego, por tudo quanto era canto.
Claro está que soltei uns impropérios e roguei algumas
pragas ao vento.
Bom, só me restava recolher tudo para dentro de uma enorme
caixa, e pensar numa outra construção, que havia de tornar realidade, assim
como muitos dos meus sonhos.
Fiquei com um sentimento de perda, mas a que fazer das
fraquezas forças, e não cair em desânimo.
Eu adorava sentar-me no chão a dar corpo através do lego ao
que eu idealizava.
Espalhava tudo, para ser mais fácil visualizar as peças que
queria, e dessa forma tornar o meu trabalho mais desenvolto.
Nem os meus Pais se atreviam a entrar no meu quarto nestes
momentos.
Enquanto eles fugiam, da confusão, eu estava feliz afogado
no lego.
Mas para o senário estar perfeito, dava sempre uma fugida ao
armário da cozinha, a buscar as línguas-de-gato, que ainda hoje sou grande
apreciador.
Elas já tinham ganho um lugar de destaque na lista de
compras lá de casa.
Esquecia-me das horas, perdia-me no tempo.
Também com 9 anos que pressa queria eu ter?
Tinha todo o tempo do mundo.
Só dava conta das horas quando a minha mãe me chamava para
as refeições.
Diogo!
Sim Mãe!
Já vou!
Sempre gostei da minha pacatez e do meu quarto.
É aqui que tenho os meus brinquedos, e a coleção de peluches,
que um destes dias vos ei-de trazer uma história.
Em suma é o meu espaço, e o palco de todas as minhas
vivências, sonhos e ilusões!
DIOGO_MAR
Fizeste recuar-me aos tempos de criança, onde o tempo parecia não passar :)
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