A sala estava gélida, não pairava no ar o cheiro do teu
perfume, nem a marca indelével do teu olhar e sorriso contagiante, que ofuscava
os mais belos nenúfares da espuma dos dias.
A festa que outrora foi palco, deu lugar a um manto de cinzas
empedernidas de nostalgia que me esmaga o peito, e se perdem pelas ameias da saudade.
Nas paredes, os quadros, eram janelas de pó.
Os meus passos, ecoavam como batuques a fervilharem mensagens
dantescas.
Nunca o silêncio, me havia cravado no peito dor tão
lancinante.
Os cristais, empoeirados pelo tempo.
As velas gastas e ressequidas.
Para lá do espaldar das cadeiras a longa mesa, com uma
toalha, de renda amarelecida, cheia de vazio.
Ao centro, uma jarra, abandonada e despida.
Corri as cortinas carunchentas.
As portadas de madeira, imitiram um ranger estridente de
desespero.
Os vitrais, outrora resplandecentes estavam mortiços, indiferentes
à cadência dos dias.
O imponente piano de cauda, estava órfão a um canto, não
sentia o calor da mestria dos teus dedos de veludo que o acariciavam como
ninguém.
A sonoridade que outrora enchia a sala, com as melodias
ternas e doces, que me projetavam, além do infinito.
Sobrava um silêncio ensurdecedor, polvilhado de ecos e vozes
nostálgicas.
Partiste, não sei de ti.
Os meus olhos estão prenhos de ausência.
As lágrimas de sofrimento e amargura, escrevem no chão o teu
nome.
Abraço o vazio enigmático, implorando a tua presença.
Restam despojos cristalizados num sentimento de saudade atroz.
Vergastado, pela dor da ausência, sinto-me um passageiro à
margem do tempo.
O silêncio é castrador e sepulcral.
Ali estava eu, inerte, projetando-me ao tempo, em que havia
vida, balbuciando palavras efémeras, num cálice de mosto analgésico.
Tudo me diz tanto de ti!
O velho relógio de parede adormecido, já não marcava o
compasso da cumplicidade do nosso amor.
Agora, limito-me a um monólogo, que se esvai no culminar de
um ciclo, o virar de página, o desfeche de um capítulo.
Uma história inacabada, nas estrias melancólicas da memória!
Diogo_Mar
Memórias... Nostalgia...As histórias ficam sempre inacabadas...
ResponderEliminarGostei muito...
Obrigada pela partilha.
Beijos e abraços
Marta
Wow, parabéns... descreves o silêncio de tal forma que se torna nobre...
ResponderEliminarExiste imensa leveza e poesia na história... é a forma como lhe dás cor mesmo no sofrimento.
Belissimo.
Adorei este post.
Um abraço grande
Uma experiência que não terminou... uma história inacabada como todas as nossa histórias...
ResponderEliminarLinda melodia! : )
Memórias duma história, dum amor, dum silêncio que ás vezes doi um pouco..... Mas o Diogo que namora tão bem com a escrita, sabe dar-lhe uma certa beleza que dá gosto a quem lê. Jinho
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