quarta-feira, 1 de outubro de 2014

BRUMAS DE SILÊNCIO



A sala estava gélida, não pairava no ar o cheiro do teu perfume, nem a marca indelével do teu olhar e sorriso contagiante, que ofuscava os mais belos nenúfares da espuma dos dias.

A festa que outrora foi palco, deu lugar a um manto de cinzas empedernidas de nostalgia que me esmaga o peito, e se perdem pelas ameias da saudade.

Nas paredes, os quadros, eram janelas de pó.

Os meus passos, ecoavam como batuques a fervilharem mensagens dantescas.

Nunca o silêncio, me havia cravado no peito dor tão lancinante.

Os cristais, empoeirados pelo tempo.

As velas gastas e ressequidas.

Para lá do espaldar das cadeiras a longa mesa, com uma toalha, de renda amarelecida, cheia de vazio.

Ao centro, uma jarra, abandonada e despida.

Corri as cortinas carunchentas.

As portadas de madeira, imitiram um ranger estridente de desespero.

Os vitrais, outrora resplandecentes estavam mortiços, indiferentes à cadência dos dias.

O imponente piano de cauda, estava órfão a um canto, não sentia o calor da mestria dos teus dedos de veludo que o acariciavam como ninguém.

A sonoridade que outrora enchia a sala, com as melodias ternas e doces, que me projetavam, além do infinito.

Sobrava um silêncio ensurdecedor, polvilhado de ecos e vozes nostálgicas.

Partiste, não sei de ti.

Os meus olhos estão prenhos de ausência.

As lágrimas de sofrimento e amargura, escrevem no chão o teu nome.

Abraço o vazio enigmático, implorando a tua presença.

Restam despojos cristalizados num sentimento de saudade atroz.

Vergastado, pela dor da ausência, sinto-me um passageiro à margem do tempo.

O silêncio é castrador e sepulcral.

Ali estava eu, inerte, projetando-me ao tempo, em que havia vida, balbuciando palavras efémeras, num cálice de mosto analgésico.

Tudo me diz tanto de ti!

O velho relógio de parede adormecido, já não marcava o compasso da cumplicidade do nosso amor.

Agora, limito-me a um monólogo, que se esvai no culminar de um ciclo, o virar de página, o desfeche de um capítulo.

Uma história inacabada, nas estrias melancólicas da memória!

 


Diogo_Mar

4 comentários:

  1. Memórias... Nostalgia...As histórias ficam sempre inacabadas...
    Gostei muito...
    Obrigada pela partilha.
    Beijos e abraços
    Marta

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  2. Wow, parabéns... descreves o silêncio de tal forma que se torna nobre...
    Existe imensa leveza e poesia na história... é a forma como lhe dás cor mesmo no sofrimento.
    Belissimo.
    Adorei este post.

    Um abraço grande

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  3. Uma experiência que não terminou... uma história inacabada como todas as nossa histórias...

    Linda melodia! : )

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  4. Memórias duma história, dum amor, dum silêncio que ás vezes doi um pouco..... Mas o Diogo que namora tão bem com a escrita, sabe dar-lhe uma certa beleza que dá gosto a quem lê. Jinho

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