Lavramos os dias, calcorreando caminhos inóspitos vestidos
de breu e amargura, prenhos de incógnitas, num palco de realizações e
frustrações, onde não passamos, de meros atores, espezinhados, e reduzidos a uma
ínfima partícula numerada.
Regamos incessantemente, a planta da esperança, que não é
mais que um falso alimento para a alma, um pedido de empréstimo, contraído à
felicidade, pautada por um adiamento perpétuo.
Nós, prisioneiros, de pés acorrentados a bolas de ferro incandescente,
arrastamo-los ensanguentados, desfalecendo impotentes, por sobre os nossos desgarrados
sonhos, reduzidos a lágrimas lúgubres de sofrimento, tornando-os
numa miragem.
Estamos exaustos, ultrajados e sem rumo!
A realidade nua e crua, cilindra a espuma dos dias, emprestando-lhe
uma cor pardacenta, um lusco-fusco onde pairam as nossas silhuetas cadavéricas,
num desalento ferido de morte.
Abortamos ou adiamos planos, que nos conduzem a tão almejada
felicidade, que fugidia, se perde pelos recônditos cantos viciados e empedernidos
de um inusitado narcisismo doentio.
Não passamos de meros objetos usados e abusados, pelo
fundamentalismo religioso, bem como pela promiscuidade, do tabuleiro do xadrez
político e financeiro.
Este é o preço inevitável da globalização, excêntrica e aglutinadora.
A sociedade entrou numa verdadeira espiral de intolerância,
é um verdadeiro vulcão a expelir raiva e ódio.
Perdemos o norte e as referências, que nos foram incutidas e
pelas quais regíamos a nossa conduta, agora escravizada, amordaçada e rendida
ao gáudio do materialismo.
Vegetamos na sombra dos dias, com a vida a passarmos ao
lado, irremediavelmente condenados as clivagens sociais, da guilhotina cega e
raivosa, do capitalismo voraz, sem pejo em decepar-nos o futuro.
Esta aldeia global, está a ser varrida, por ventos que
transportam uma desumanidade férrea, demolidora e implacável.
Para onde vamos???
“Os inteligentes construíram o mundo. Mas quem
disfruta dele e triunfa são os imbecis.”
Pino Aprile
Diogo Mar
Não preciso de escrever muito. Identifico-me com os "desabafos" presentes no texto...
ResponderEliminarÉ sempre um ato de coragem pertencer à minoria...
Remar contra a maré? Sim, sempre, embora não saiamos do mesmo sítio.
E com a citação dizes/dizemos tudo... Infelizmente.
Bom gosto musical!
Bjo, Diogo :)
(Só um reparo: tenho alguma dificuldade em ler pelo facto de usares letra muito pequena. Se puderes postar em outro tamanho, facilitava muito.)
Ah, já esquecia: ontem escrevi um poema cujo título inicial era "Morte anunciada" mas mudei para "Morte(s)"...
Um texto escrito com muita mestria.
ResponderEliminarParabéns, como é hábito por aqui...
Grande abraço
Sempre com o enorme talento que te possuí :)
ResponderEliminarAbraçaço
É verdade, amigo. Mas apeguemo-nos ainda e sempre a esse tênue fio de esperança. Muito lúcido seu texto. Parabéns!
ResponderEliminarObrigada por sua visita e um abração!