quinta-feira, 13 de novembro de 2014

UMA MORTE ANUNCIADA



Lavramos os dias, calcorreando caminhos inóspitos vestidos de breu e amargura, prenhos de incógnitas, num palco de realizações e frustrações, onde não passamos, de meros atores, espezinhados, e reduzidos a uma ínfima partícula numerada.

Regamos incessantemente, a planta da esperança, que não é mais que um falso alimento para a alma, um pedido de empréstimo, contraído à felicidade, pautada por um adiamento perpétuo.

Nós, prisioneiros, de pés acorrentados a bolas de ferro incandescente, arrastamo-los ensanguentados, desfalecendo impotentes, por sobre os nossos desgarrados sonhos, reduzidos a lágrimas lúgubres de sofrimento, tornando-os numa miragem.

Estamos exaustos, ultrajados e sem rumo!

A realidade nua e crua, cilindra a espuma dos dias, emprestando-lhe uma cor pardacenta, um lusco-fusco onde pairam as nossas silhuetas cadavéricas, num desalento ferido de morte.

Abortamos ou adiamos planos, que nos conduzem a tão almejada felicidade, que fugidia, se perde pelos recônditos cantos viciados e empedernidos de um inusitado narcisismo doentio.

Não passamos de meros objetos usados e abusados, pelo fundamentalismo religioso, bem como pela promiscuidade, do tabuleiro do xadrez político e financeiro.

Este é o preço inevitável da globalização, excêntrica e aglutinadora.

A sociedade entrou numa verdadeira espiral de intolerância, é um verdadeiro vulcão a expelir raiva e ódio.

Perdemos o norte e as referências, que nos foram incutidas e pelas quais regíamos a nossa conduta, agora escravizada, amordaçada e rendida ao gáudio do materialismo.

Vegetamos na sombra dos dias, com a vida a passarmos ao lado, irremediavelmente condenados as clivagens sociais, da guilhotina cega e raivosa, do capitalismo voraz, sem pejo em decepar-nos o futuro.

Esta aldeia global, está a ser varrida, por ventos que transportam uma desumanidade férrea, demolidora e implacável.

Para onde vamos???

 

“Os inteligentes construíram o mundo. Mas quem disfruta dele e triunfa são os imbecis.”

Pino Aprile

 

 

Diogo Mar

4 comentários:

  1. Não preciso de escrever muito. Identifico-me com os "desabafos" presentes no texto...
    É sempre um ato de coragem pertencer à minoria...
    Remar contra a maré? Sim, sempre, embora não saiamos do mesmo sítio.
    E com a citação dizes/dizemos tudo... Infelizmente.
    Bom gosto musical!
    Bjo, Diogo :)
    (Só um reparo: tenho alguma dificuldade em ler pelo facto de usares letra muito pequena. Se puderes postar em outro tamanho, facilitava muito.)
    Ah, já esquecia: ontem escrevi um poema cujo título inicial era "Morte anunciada" mas mudei para "Morte(s)"...

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  2. Um texto escrito com muita mestria.
    Parabéns, como é hábito por aqui...

    Grande abraço

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  3. Sempre com o enorme talento que te possuí :)
    Abraçaço

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  4. É verdade, amigo. Mas apeguemo-nos ainda e sempre a esse tênue fio de esperança. Muito lúcido seu texto. Parabéns!
    Obrigada por sua visita e um abração!

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