sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O MEU LEGO_HISTÓRIA_4



Lembro hoje, com ternura muitos dos meus brinquedos, que em cada fase da minha vida, me proporcionaram momentos únicos, de prazer.

O meu lego, e um exemplo acabado disso mesmo.

Todas as construções que eu fazia, dando largas a minha imaginação.

Carros, aviões, castelos, bombas de gasolina, camiões.

Sozinho, ou com os meus amigos, ele era efetivamente um atrativo as nossas brincadeiras.

Era um privilegiado já que cada caixinha pequena de lego, chegava a custar 500 escudos.

Isto só estava ao alcance de alguns, mas que os meus Pais me presenteavam, sabendo do enorme prazer que me dava fazer lego, além da importância para o meu desenvolvimento cognitivo.

Eram tempos diferentes dos de hoje, mas que tenho a sensação, que para lá estamos a caminhar.

Já que volto a assistir a clivagens sociais de veras preocupantes e até mesmo assustadoras.

Hoje mais que nessa altura, porque neste espaço de tempo perderam-se muitos dos valores solidários, que outrora tínhamos, e que norteavam a nossa conduta de vida.

Hoje cada um olha para o seu umbigo, pavoneando os seus bens materiais.

Nesse tempo, as pessoas, não tinham que se expor, para dizerem que sentiam fome.

Nós éramos vizinhos de proximidade, que sabíamos quem na verdade precisava de ajuda, e dizia-mos presente.

Hoje, tudo é diferente, temos fome na porta ao lado da nossa, mas por desconhecimento, ou porque queremos ignorar,

Pouco ou nada fazemos.

Mas voltando, as minhas coloridas e criativas construções de lego, por vezes carregadas de muita ilusão e de sonhos, dos objetivos de qualquer miúdo de 9 anos.

Uma casa grande, um carro era tudo aquilo que eu acalentava.

Lembro-me de um dia em que se levantou vento,

A cortina da janela do meu quarto resolveu ir dar um abraço, a uma grande construção que eu tinha feito, E que se encontrava por sobre a cómoda.

Era um avião enorme e muito bonito.

Levou-me semanas a construir.

Sim, digo era, e sabe porquê?

Quando no retorno da cortina para o seu sitio,

Ela arrastou uma das azas, que por sua vez precipitou todo o meu avião, fazendo em pedaços.

Quando mais tarde regressei ao meu quarto, dei de caras com um autêntico mar de lego, por tudo quanto era canto.

Claro está que soltei uns impropérios e roguei algumas pragas ao vento.

Bom, só me restava recolher tudo para dentro de uma enorme caixa, e pensar numa outra construção, que havia de tornar realidade, assim como muitos dos meus sonhos.

Fiquei com um sentimento de perda, mas a que fazer das fraquezas forças, e não cair em desânimo.

Eu adorava sentar-me no chão a dar corpo através do lego ao que eu idealizava.

Espalhava tudo, para ser mais fácil visualizar as peças que queria, e dessa forma tornar o meu trabalho mais desenvolto.

Nem os meus Pais se atreviam a entrar no meu quarto nestes momentos.

Enquanto eles fugiam, da confusão, eu estava feliz afogado no lego.

Mas para o senário estar perfeito, dava sempre uma fugida ao armário da cozinha, a buscar as línguas-de-gato, que ainda hoje sou grande apreciador.

Elas já tinham ganho um lugar de destaque na lista de compras lá de casa.

Esquecia-me das horas, perdia-me no tempo.

Também com 9 anos que pressa queria eu ter?

Tinha todo o tempo do mundo.

Só dava conta das horas quando a minha mãe me chamava para as refeições.

Diogo!

Sim Mãe!

Já vou!

Sempre gostei da minha pacatez e do meu quarto.

É aqui que tenho os meus brinquedos, e a coleção de peluches, que um destes dias vos ei-de trazer uma história.

Em suma é o meu espaço, e o palco de todas as minhas vivências, sonhos e ilusões!

 


DIOGO_MAR

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

FINGIMENTO



O engano faz-se verdade, nas linhas sinuosas e ziguezagueantes que escrevo.

O meu peito escarpado no desejo de um grito lancinante de emancipação, na noite onde estendo o lençol do tempo, escarnando os sentimentos num orgasmo imaculado.

As minhas palavras são pedras rudes e frias, que dilaceram um coração moribundo, em busca do puro-sangue da verdade.

Os meus ombros vergam-se, ao peso do mundo leviano e acusatório.

A razão esvai-se, nas asas do vento fugidio.

Eu aqui fico, ancorado neste porto longínquo, em busca do norte.

Arrebato ao coração sepulcrais vontades assassinadas ao desejo.

Venero os gigantes do tempo, à luz do divino e do pagão.

A cicatriz sangra, tatuando a franja dos dias.

A mesma mão que masturba, é a mesma que escreve e atira a pedra.

Não, não me chames de poeta.

Sou um qualquer, a saber de mim, no fundo de uma caverna, de costas voltadas para a verdade da razão, em palavras retorcidas, confinadas a uma ânsia asfixiante.

Espelho mentiroso.

Arco-íris de uma só cor.

Rio esmagado pelas margens.

O garrote do tempo, anuncia a chegada do carrasco, com mãos de libertação.

Das trevas se faz luz!

Será isto, a resignação, racional?

Ou a covardia irracional?

 

DIOGO_MAR