sexta-feira, 29 de maio de 2015

O AVESSO DOS DIAS



As minhas palavras cheiram a terra queimada pelo desespero.

O que escrevo é levado pela impetuosidade do vento sinistro a polvilhar de cinzas este mundo inóspito, onde já só germina a semente da descrença.

Fica-me a boca encortiçada, pelo trago amargo da exclusão social.

O meu corpo moribundo, arrasta-se feito restolho, entapetando o chão da esperança adiada, sem tempo nem idade.

Aqui estou jogado, na sargeta do ultraje, de uma terra que me pariu, deixando-me entregue as sortes de um futuro asfixiado e órfão.

O presente, foi esquartejado, perfilhando a incógnita, Projetando-me para os braços da puta da vida nua e crua, exibindo o resplandecente da luxúria madrasta.

Entraram em putrefação os sonhos, que não passam de um falso alimento para a alma, num cálice a transbordar de ilusões ébrias.

O néctar dos dias, fermenta o ódio e a intolerância, violando os mais elementares princípios que regem a dignidade humana.

Sobra o gáudio resplandecente e inusitado, do materialismo exacerbado.

Os dias, vestiram-se de breu, aterrorizados pela silhueta da amargura e indefinição.

Por fim, resta a esperança, que não passa de ser um empréstimo contraído a felicidade.

Quando a vamos saldar?

 

DIOGO_MAR

segunda-feira, 25 de maio de 2015

ZONA DE VIRAGEM



No principio é simples, navego sozinho,
Bebo a razão num copo de vinho,
Digo que o meu passado está moribundo,
Dei a volta a ti, dei a volta ao mundo,
Suga em mim a voz rouca destroçada:
Onde tudo é nada, onde o medo é estrada.

 

Peço descanso por mais curto que seja,
Apago as dúvidas num mar de cerveja,
Onde de uma escolha fiz um desafio,
Navego sem mar, sem barco ou navio,
Suga em mim a voz rouca destroçada:
O futuro recente de uma vida passada.

 

Brindo aos amores com amigos em casa,
Na enchente da vida vi a maré vaza,
Entrei de rastos e saí firme e refeito,
Lutei por tudo e por nada que levei a peito,
Suga em mim a voz rouca destroçada:
Onde sei que sei tudo mais sobre nada.

 

Entretanto o tempo fez do silêncio barulho,
Tive vontade de mudar, mas mudou-me o orgulho,
Bebi de um copo vazio, um 
shot de coragem,
Da fenolftaleína numa zona de viragem,
Suga em mim a voz rouca destroçada:
De um corpo frágil de uma alma arrasada.



RODRIGO PAREDES

terça-feira, 5 de maio de 2015

HINO DE AMOR



Incondicionalmente sofro por ti.

Irrompem lágrimas rubras de paixão, pelas ameias da nossa loucura.

Desabotoo a volúpia insaciável por mais, ainda mais, fundindo os nossos corpos no molde do amor mais que perfeito.

Enlaço-me no teu corpo, faminto de prazer.

Desnudo os preconceitos e desvaneios, crucificadores.

Jorro de amor nas vielas da paixão, desaguando na Encruzilhada do lívido desejo de te devorar.

Os pontos cardiais do nosso amor, convergem-nos ao mapa do nosso quarto.

Acorrentados ao prazer, ébrios de paixão, onde os adjetivos, esgotam o dicionário do éden.

O nosso mundo, estava confinado a 20 metros quadrados, delimitados por uma porta, 4 paredes e uma janela.

No ar pairava a essência do teu perfume provocador e irresistível.

Lá fora o tempo corria de forma frenética fria e impessoal.

O vento entoava sons mundanos, pelas frinchas da janela.

Ficamos indiferentes à cadência do tique taque do relógio, que fazia contrapasso com o galopar de um cavalo tresloucado de sio no peito, saciando a sua cede no caudal do nosso amor perene.

Vivias permanentemente, com o pavor, que o primeiro beijo, trouxesse consigo agarrado o espetro de um último.

Eramos peregrinos no templo do pecado consentido, saboreando o mel sensual, onde submergiam os nossos corpos.

Aqui não há culpa, nem culpado.

Não há vitorioso nem derrotado.

Há a mais pura reciprocidade, num desempenho de predadores racionais exorcizados pelo amor voraz.

Há um cocktail de ejaculações, num brinde ao amor omnisciente.

Somos náufragos, deleitados num verdadeiro oceano de prazer, presos ao cordel dos deuses, Fecundando um amor de marés e monções, na noite silente a gravitar ventos de outono, num mar de calmaria.

 

 

DIOGO_MAR

sexta-feira, 1 de maio de 2015

CRIPTOSIGNIFICADO



Morrer e amar.

Dois verbos tão belos,

Se não soubéssemos os seus significados.

 

Significados esses,

Que nos causam transtorno,

Ao longo da vida,

De tão parecidos que são,

Um mata de verdade,

O outro não,

Mas corrói a vontade de viver,

Transforma-nos noutro ser

Durante um período de tempo.

 

De um ao outro,

Não sei qual escolher:

Amar ou morrer?

Eis a questão!

Não desejo ter um final

Em que os dois se complementem.

Morrer a amar.

Amar a morrer.

Não, não quero.

Apenas quero sentir a emoção,

De correr todos estes riscos

Por um bem maior,

A satisfação:

Eu.

 

RODRIGO PAREDES