terça-feira, 30 de dezembro de 2014

APRESENTO-VOS O MEU ANO NOVO



Cabelos de sabedoria.

Olhos de bondade e esperança.

Boca de verdade e justiça.

Braços de união e alegria.

Mãos de carinho e solidariedade.

Tronco de amor e felicidade.

Passos persistentes e determinados.

 

Este é o meu ano novo!

 

Para os que estão atentos, ao que escrevo aqui neste blog, pautado por linhas transversais e abrangentes, sim porque a vida, não é só feita, de lirismos bacocos e muito menos, de lamechices a caírem de podres, de tanta futilidade e banalidade.

O PALAVRAS DO MAR é uma extensão de mim, logo o que aqui escrevo em prosa ou poesia, são o espelho do meu ego.

Dessa forma, desfio uma Narrativa, ora mais rendilhada, ora mais simples, já que tenho facilidade de flanquear essas vertentes.

A minha escrita, não tem idade, faço de tudo e sobre tudo e para todos, não sou seu prisioneiro!

Daí, a maresia das palavras bonançosas, ou agrestes são incondicionalmente minhas.

Não presto subserviência as visualizações, nem mendigo visitas ao meu blog, na minha casa, fica quem se sentir bem, de outra forma, gentilmente fica o convite para sair.

Irei fazer uma triagem, dos blogs que sigo, procedendo a eliminação de todos aqueles que só estão aqui a fazer monte.

Nunca a quantidade, foi ou é, sinónimo de qualidade, ficam os que eu achar por bem.

Em 3 anos de blogosfera, estou longe de saber tudo, mas já deu para ver, os tiques hipócritas e jacobinos de muita gente, que por aqui anda.

Entristece-me constatar a falta de atitude, retratando-se como virgens ofendidas, por não haver uma retribuição sistemática aos seus blogs.

Sei que muitas vezes não ejaculo palavras macias, mas como a minha postura na vida nunca foi nem será agradar aos outros, repouso sobre a tranquilidade da minha consciência.

Irredutivelmente, serei sempre igual a mim próprio!

Ou se quiseres:

Não gostas, põem na beira do prato, ou desampara a loja!

 

Um próspero 2015!

 

 

DIOGO_MAR

sábado, 27 de dezembro de 2014

RETRATOS DA MINHA ALDEIA HISTÓRIA_10


 
Estávamos pela última semana de Dezembro, já reinava o inverno.

O frio apertava, tendo como aliado um vento agreste, que nos castigava as mãos e a cara.

Senário perfeitamente normal para a época nesta pequena aldeia do douro vinhateiro.

Encaminhei-me, até ao largo da minha aldeia, ponto de encontro de gerações.

Os mais velhos, jogavam cartas numa mesa que eles próprios improvisaram e estrategicamente montaram de fronte a tasca do Claudino, um ferroviário reformado, que encontrou os anos sabáticos nesta aldeia, onde tem as suas raízes e por entre copos de vinho e petiscos que a Glória, sua esposa confeciona de maneira exímia a estimular para mais uma caneca.

Batiam com as falanges dos dedos no tampo em sinal de convicção na jogada.

Dizia o Luís cocho:

Que havia perdido a parte inferior da perna direita num acidente de mota.

 

Eu corto:

Essa é minha!

 

Nem querias mais nada! Retorquiu-lhe o Sr. Bernardino, com voz firme.

Eu recorto!

Não esperavas esta, pois não?

AhAhAh!

 

Aqueles personagens de chapéus de aba larga e rostos encarquilhados pelas marcas do tempo, são monumentos vivos de sabedoria.

Alguns tinham laços familiares aos meus amigos.

Caso do Sr. João Fonseca, avô do André. Um bom homem.

Jogavam de forma tão envolvente, que nem davam pela nossa presença, ou estariam a ignorar-nos!

Por vezes, não havia um relacionamento muito cordial, porque tínhamos alguma dificuldade em os compreender, bem como eles a nós.

Coisas do foço do tempo.

Embora reconheça, que a nossa irreverência por vezes era extravasada por alguns excessos.

Mas no fundo, eles gostavam muito de nós.

Viam em nós a sua própria continuidade, embora com diferenças bastante acentuadas, épocas e mentalidades substancialmente diferentes.

O tal modernismo que eles criticavam, e que tinham alguma dificuldade em compreender.

Estávamos a romper com as enraizadas tradições.

Os nossos cortes de cabelo mais arrojados e os penteados, moldados com gel, fazendo por vezes colagens aos nossos ídolos do futebol, arrancava-lhes sorrisos.

Enquanto sacudiam o pó das cartas, tal como diziam, uns metros a frente, nós puxamos do bolso pelos nossos berlindes coloridos e de vários tamanhos e posemos em prática o afinco no jogo.

Organizávamos campeonatos.

Para o campeão, era uma garrafa de litro de Gasosa, também conhecida por Pirolito e três Donuts.

Rapidamente o largo da aldeia, tornava-se palco de convívio entre gerações distintas, mas de carater e personalidade bem vincada, emprestando-lhe um contraste muito agradável de ver.

Agora as nossas vozes misturavam-se com as dos velhos.

Só na linguagem vernácula, que por vezes se ouvia, éramos iguais.

Mais adiante, as raparigas também davam largas a brincadeira.

Saltavam a corda, jogavam a macaca e ao jogo do lenço.

O nosso grupo, estava reduzido, já que o Daniel tinha ido passar o Natal a aldeia dos avós paternos.

Fiquei eu o Rafa o André e o Rodrigo.

A entrega ao jogo era tal, que por vezes levava-nos a ter despiques um pouco acesos.

O Rafa, tornava-se obcecado pela vitória, tinha mau perder.

Mal sabíamos, que a vida se iria encarregar de nos dar tantas vezes o trago amargo da derrota.

Era uma tarde como tantas outras, em altura de férias escolares.

A aldeia, adquiria a vida que lhe faltava nos dias em que estamos em aulas.

Ao longe via-se a magistral torre da igreja, com o seu imponente sino.

Tínhamos feito uma venda de rifas, tendo como objetivo, angariar dinheiro para o seu restauro.

Era um verdadeiro talismã da aldeia.

A estreita e íngreme ruela em paralelo desgastado pela erosão da história, serpenteia o velho casario aos ombros dos vinhedos, até chegar ao adro da igreja, emprestando à paisagem, um quadro profundamente nostálgico e bucólico, muito nosso.

O Sr. Jorge que tinha uma loja de eletrodomésticos na vila, ofereceu uma televisão para o primeiro prémio.

O Sr. António da mercearia deu um Presunto para o segundo prémio.

E a dona Georgina ofereceu do seu minimercado concorrente direto do Sr. António o terceiro prémio.

Um bacalhau e uma garrafa de azeite, e uma de vinho.

A tarefa até que não correu mal.

Vendemos na escola, aos professores e contínuos e na vila no dia de feira.

Aproveitamos a forte presença de muitos imigrantes, que vieram passar a quadra natalícia, para dessa forma darem um forte impulso, a realização das obras.

Agora já as nossas vozes tomavam conta do largo da aldeia, ecoando levadas pelo vento agreste, que varria aquelas paragens.

Era um belo momento de ócio que todas as idades estavam a disfrutar.

Matar o tempo?

Antes que ele nos mate a nós!

Para não fugir da regra, eu e o Rafael, entramos em diálogo aceso, pelo motivo da batota que estava a fazer.

Os meus Pais, sempre me ensinaram a saber ser vencedor, mas também assumir a derrota.

Entre algumas palavras mais ásperas e insinuações, por parte do Rafa, eis que o Rodrigo, toma a minha defesa.

Eu não queria isso, já que sabia do ciúme que ia despoletar junto do Rafael.

Ele como mais velho, não tinha problema, em bater ao Ródri, tendo eu que moderar as partes.

Nunca lhe admitia tal atitude.

O Rodrigo, gozava de um estatuto muito especial, era o Irmão que eu não tinha, além de ser afilhado dos meus Pais.

Embora reconhecesse, que todos nutriam por mim uma grande e forte amizade, sentia-me o elemento mais consensual, o elo mais forte.

Vá! Parem lá com isso gritei eu, em tão firme.

 

Esse palhaço arma-se e um destes dias, não vais ter Diogo que te valha.

Vou-te partir essa boca toda.

 

Disse o Rafa.

O Ródri, com os seus 11 anos, carregava uma enorme revolta, pela vivência familiar que herdara.

Só eu o conseguia persuadir, das atitudes intempestivas que por vezes adotava.

Olhei-o fixamente nos olhos e ele soube exatamente ler o que lhe pedia.

Remeteu-se ao silêncio, sabendo que dessa forma iria resfriar os ânimos.

 

Quando quiseres alguma coisa, vem ter comigo sozinho.

Acrescentou o Rafa, tentando provocar o Rodri, ganhando um pretexto, para um confronto físico.

 

Então, tive eu que tomar as rédeas do conflito.

Queres parar com isso Rafael?

Tu não tens nada que oferecer porrada ao Rodrigo.

Primeiro és mais velho 3 anos que ele.

Segundo, no dia em que lhe puseres a mão, vais ter que te haver comigo.

Eu tento ser justo. Lembra-te que és mais velho, mas eu não te tenho medo.

O André, já cansado daquele diálogo, disse:

 

Parem lá com isso.

Já chega, não acham?

Até parece, que não somos amigos, e que não partilhamos os bons e maus momentos de todos.

Vá, parem.

 

Foi uma atitude plena de sensatez e uma grande e incontornável lição.

Afinal somos todos amigos.

Sem darmos por isso, já a tarde tinha empalidecido e o sol já pouco ou nada aquecia.

Na torre da igreja, caíam as cinco horas.

Os galos e garnisés da Zulmirinha faziam coro com as badaladas, sinal que estava na hora de nos recolhermos.

Ainda tinha que ir dar alimento aos animais.

Galinhas, Coelhos e os perus, que estava ansioso por os ver no forno, porque são maus, já me tinham infligido alguns ataques nos braços e mãos.

Levantei-me e disse-lhes:

Bom, está no ir!

São horas.

Vou lanchar e tratar da bicharada, para quando os meus pais chegarem, estar tudo em ordem, tal como me recomendaram.

Gosto de cumprir com as minhas obrigações.

Hoje ganhaste Rafa, parabéns.

Mas tem lá calma, ainda faltam jogos!

 

Sim, eu sei Diogo.

Ainda faltam jogos para tu perderes, AHAHAH!

 

Ou não, murmurou o Rodrigo.

 

O Rafael, olhou-o de maneira fulminante, levantando-lhe a mão, para concretizar os seus intentos.

Mas rapidamente coloquei cobro as intenções dele.

Segurei-lhe o braço com firmeza e olhos nos olhos disse-lhe:

Ou paras de uma vez por todas com esse teu espirito agressivo, ou então deixas de ser meu amigo hoje aqui e agora.

Entendeste Rafael?

Entendeste mesmo?

Não vou voltar a repetir o que acabei de te dizer.

 

Isto é uma vergonha! Disse o André, que partilhava em muito a minha maneira de pensar e agir, além de fisicamente sermos tão parecidos, que diziam sermos irmãos gémeos.

Fazíamos uma diferença só de duas semanas de idade, estávamos pelos 13 anos.

 

Diogo, Mas ele?

 

Ele, tem nome. Chama-se Rodrigo.

Vive na mesma aldeia que tu, anda na mesma escola que tu e faz parte do nosso grupo de amigos.

Entendes?

Chau Rafa, fica bem.

Virei-lhe costas, sem o cumprimentar.

Foi para o fazer sentir, que estava magoado.

Mas pelo canto do olho, vi a expressão de arrependimento, que tinha no seu olhar.

O Rafa, como qualquer outro do meu grupo, tinha pavor de perder a minha confiança e naturalmente a minha amizade.

Convidei o André e o Rodrigo a virem lanchar a minha casa.

O André não quis já que tinha algumas tarefas para executar.

O Ródri, negou o meu convite de forma nada convincente, senti que ele estava com vontade de vir.

Bom André, até mais logo.

 

Até, Diogo e Rodrigo, chau.

 

Ródri, vá, anda lá a minha casa lanchar.

Os olhos dele, ficaram ainda mais azuis, e surrio.

 

Poço ir mesmo?

 

Claro que sim, de outra forma não tinha feito o convite.

 

Bom, Bora lá.

 

Dirigimo-nos para minha casa, onde no jardim, já estava o Dique a nossa espera.

Latia e estava com orelhas afitadas, a sua longa cauda agitava-se num movimento frenético, em sinal de satisfação e alegria por me ver de volta.

Ele nutria uma grande empatia pelo Ródri, já que era, uma visita assídua da minha casa.

Aliás, assim como todos do nosso grupo.

Por isso, não tinha qualquer preocupação, com o relacionamento do Dique com os meus amigos.

Ele sabia da nossa amizade e era muito cordial e simpático.

Era um cão bastante corpulento e forte, raçado de Lobo da Alsácia, de olhos azulados, pelo acinzentado com umas orelhas grandes e uma longa cauda, muito bonito e inteligente.

Claro está, que tive de proferir algumas palavras de ordem, para evitar as longas lambedelas e saltos, de alegria por nos ver.

Ele bem que se lembra, das nossas idas até ao rio, com ele para dar uns bons mergulhos no verão.

É um grande e verdadeiro amigo, com quem partilho muitas brincadeiras e com quem falo.

Dique, aí!

Estás a ouvir!

Quieto!

Ele obedecia-me, porque já sabia, que era sempre recompensado por isso.

Lá tinha um biscoito.

O Rodrigo, não passava sem lhe fazer uma festa e claro, em troca lá vai uma lambedela.

Pousava as patas dianteiras por sobre os nossos ombros, como se de um abraço se tratasse.

O meu cão, faz parte da nossa família e porque não dizer, da nossa vida.

Era mais um agregado familiar, lá em casa.

Finalmente já na cozinha, preparamos o nosso lanche.

Ainda haviam vestígios de sobras de iguarias do Natal.

O que claro está, nos agradava imenso.

Depois de termos aconchegado o estômago, fomos tratar dos animais, que reclamavam, lembrando-nos que estava na hora do repasto.

Dirigi-me ao galinheiro, enquanto o Ródri, foi tratar dos coelhos.

Depois tinha a tarefa mais complicada, os perus.

Raios de animais parvos e maus.

Tinha de lhes dar comida, sempre prevenido com um pau na mão esquerda, para qualquer investida.

Lembro uma vez, tive de recorrer a violência e desferi uma paulada certeira na cabeça do peru, que o deixei em nocaute durante uns minutos.

No momento fiquei preocupado, pensei que o tinha morto.

Ia ser tarefa complicada, de dizer aos meus Pais.

Mas se tivesse de ser, lá tinha que assumir as consequências do meu ato.

O que é certo ele não morreu e ainda durou mais uns tempos, até o meu Pai lhe dar o merecido prémio, o forno.

Bom, sempre vos digo que me deu grande prazer espetar-lhe o dente.

Era a minha vez de me vingar, dos ataques que por vezes eu era vítima.

Concluída a tarefa, eis de regresso.

O Rodrigo, começou a olhar incessantemente para o relógio ficando nervoso, já que tinha de estar em casa, antes da chegada do Pai.

 

Diogo, desculpa, mas sabes que por mim, ficava aqui mais tempo, ou até para sempre, mas tenho de ir embora, para não haver problemas.

Mesmo assim vamos ver como ele vai chegar.

Estou cansado desta vivência, de discussões e acreções lá em casa.

Um destes dias, se a minha mãe não fizer queixa a polícia, sou eu que o faço.

Aquilo é um monstro, bêbado intratável.

Ele é meu Pai, pena é que o seja só de nome.

Ser Pai, é ser como é o Padrinho.

Tens muita sorte, e mereces ter um Pai assim Diogo.

Digo sorte, porque não somos nós que escolhemos os nossos Pais.

Logo, não devíamos nascer para sofrer desta forma.

Um dia, que seja Pai, vou dar tudo que eu nunca tive aos meus filhos.

Eles não pedem para nascer, logo eu só tenho de dar o meu melhor a eles.

Estou-te a dizer isto ati Diogo, porque és o meu melhor amigo.

Aliás, és um irmão.

Tens feito tudo por mim.

 

Acrescentou já com a voz trémula.

 

Nunca te vais arrepender disso, podes ter a certeza.

 

Rodrigo, não faço mais que a minha obrigação como teu amigo.

Sinto-me realizado em dar aos outros, preenche-me o coração.

Fico feliz, ao ver que o meu contributo, minimiza o sofrimento de alguém que é meu amigo.

Selamos aquele momento, com um forte e sentido aperto de mão, como que perpetuasse a nossa já longa e pura amizade.

 

Até a manhã Diogo, e obrigado pela companhia, e pelo lanche.

A, e obrigado por seres meu amigo.

 

Vá, deixa-te lá disso Ródri.

A minha casa, tem as portas abertas para os meus amigos.

Olha, já vais?

Não falta nada?

 

Não!

O quê?

 

Meti a mão ao bolso e tirei uma chicla gorila.

Toma.

 

Obrigado Diogo!

Quero que saibas, que a minha amizade por ti, não é interesseira, peço-te, para não me dares nada.

Continuarás a ser o meu Irmão.

Mais uma vez obrigado Diogo.

 

Dirigiu-se para o portão acompanhado pelo dique a quem deu uma bolacha que tinha guardado do lanche.

 

Vá, toma lindo.

 

O Dique retribui-lhe com uma lambedela, agradecendo-lhe o gesto.

 

Tchau Diogo.

 

Tchau Rodri.

O seu paço, era retraído, notava-se a ausência de vontade de ir para casa, pelas razões que bem conhecemos.

Eu, ficava triste, por estar sozinho, Embora os meus Pais, estivessem para chegar, mas acima de tudo, pelo sofrimento do Rodrigo.

Ele não merecia. Aliás, ninguém merece sofrer.

Chegado a esquina da rua, olhava sempre para traz para me dizer adeus acenando com a mão.

Eu retribuía o gesto.

Já era um ritual nosso.

Amanhã por certo, havia-mos de voltar a estar juntos, para mais um dia de brincadeira, e mais uma aula da escola da vida, onde o tempo é o mestre, e nós meros aprendizes.

 

 

DIOGO_MAR

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O MEU PIÃO



Olá pião

Tantas vezes dançaste na minha mão.

 

Mão hábil e certeira

Lançamento perfeito para a brincadeira.

 

Brincadeira inocente e colorida

Olho para ti, recordando esse patamar da minha vida.

 

Vida de criança pura e verdadeira

Tantas vezes foste meu companheiro de algibeira.

 

Algibeira carregada de esperança

Exibias felicidade contagiante na tua dança.

 

Uma dança por vezes desengonçada

Tombavas, deixando em mim uma mão cheia de nada.

 

Um nada, que aprendi a contrariar

Gira meu pião

Ensina-me acreditar!

 

Acreditar no tempo vindouro

Pula, gira dança

Para sempre, serás o meu pião de ouro.

 

Pião de ouro preso a mim pelo baraço

Jamais esquecerei os momentos que juntos passamos meu amigalhaço.

 

Amigalhaço de uma vida de brincadeira

Agora ocupas lugar de destaque na prateleira.

 

Prateleira da estante de recordações

Gira dança meu pião

Eu canto para ti uma das tuas canções!

 

 

(Eu tenho um pião, um pião que dança

Eu tenho um pião mas não to dou não.

 

Gira, que gira o meu pião, mas eu não to dou nem por um tostão

 

Eu tenho um pião, um pião que dança

Eu tenho um pião mas não to dou não.)

 

 

DIOGO_MAR

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

AS FLORES DO TEU CANTEIRO



As flores do teu canteiro

Dão forma e vida a este amor, de corpo inteiro.

 

Nunca na tua terra germinaram ervas daninhas

Fertilizo-te com o meu amor

Saciando a seiva que apadrinhas

 

Pétalas que surriem com o sol

Que choram com os pingos da chuva

Corpo do jardim da vida

Cabelos prateados da cor da lua.

 

Da tua boca brota a mais pura água do universo

Olhos sôfregos de paixão, aquela que eu te peço.

 

Terra que eu desventrei, numa vontade louca de cio animal

Equação de igualdade, desta raiz tão sensual.

 

Grito aos sete ventos, troando no desfiladeiro

És o meu mundo

Eu?

O teu forasteiro!

 

Minha incógnita de vida, num coeficiente de fator derradeiro

Eu sou a tua semente.

Tu?

O meu canteiro!

 

 

DIOGO_MAR

sábado, 20 de dezembro de 2014

ANIVERSÁRIO DO BLOG PALAVRAS DO MAR



Foi a Vinte de dezembro de 2011 que nasceu este blog.

Quando me prepus a ter na blogosfera este canto, nunca foi meu prepósito entrar para a galeria dos blogs notáveis, nem mendigar visitas.

Jamais em circunstância alguma a quantidade é sinonimo de qualidade.

Acima de tudo, foi sim, dar um cunho muito próprio e pessoal, da minha essência, quer em prosa ou poesia, espalhar a brisa do meu ego.

O Palavras Do Mar, é um blog transversal e abrangente a múltiplas vivências, nas quais nos podemos rever.

É sob o olhar atento, de muitos que vão seguindo a espuma das palavras, que vão desfiando por aqui, embalando na docilidade, de um mar ora revolto, ora bonançoso, na calmaria, ou na tempestuosidade da realidade da vida.

Neste percurso de três anos, tenho a humildade suficiente para vos dizer, que a escrita é uma estranha e bela amante, da qual sou cúmplice.

Mas sempre igual a mim próprio.

Não embarco, em escritas floreadas torneadas e rendilhadas, mas podres de tão inócuas que são.

Criei laços de amizade, numa blogosfera que deve ser vista como um todo, e não como muitos pensam ao porem-se em bicos de pés, achando que são os melhores.

Para esses, fica a minha compaixão pela pobreza de espirito, e leviandade que demonstram.

Continuarei de forma sóbria e paulatina, a ondular este blog.

Desde já, o meu muito obrigado, a todos que vão navegando e absorvendo, as PALAVRAS DO MAR.

 

SIM, PORQUE O MAR, TAMBÉM É TEU!!!

 

FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO.

 


DIOGO_MAR

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O MEU PINHEIRO DE NATAL



Natal é, sinonimo de simplicidade e de verdadeiro altruísmo.



Raízes de felicidade



Tronco de união



Ramos de amor e solidariedade



Luzes de esperança.



Este é o meu pinheiro de natal.

 

 

DIOGO_MAR

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

UM NATAL MAIS QUE PERFEITO HISTÓRIA_9


 
Lembro aquele natal inesquecível, foi o mais terno e feliz, que a minha família podia ter.

O processo de guarda do Rodrigo, requerido pelos meus Pais e Padrinhos, junto do tribunal, ficando com a sua custódia, finalmente teve o seu epílogo.

Os meus Pais, em conjunto com o nosso advogado, interpuseram recurso, devidamente fundamentado, de forma categórica e inequívoca, rebatendo a primeira tomada de decisão, que não nos tinha sido favorável.

Reuníamos todas as condições socioeconómicas, para ficarmos com o Rodrigo.

Além disso, éramos uma família solidamente estruturada.

O meu Pai, sabia muito bem esgrimir os seus direitos de Padrinho, e não se deixava vencer facilmente.

Tudo se resume, a uma questão de caráter e personalidade, da qual sou orgulhosamente herdeiro.

Era determinado na luta e defesa das causas.

Esta, era do afilhado, de quem tanto gosta.

A prepotência ditatorial do homem, e das leis, não podem padecer de tão profunda e cruel cegueira.

 

Acredita em nós Diogo.

 

Estas palavras e a forte convicção dos meus Pais, deixavam-me tranquilo.

Eu não tecia comentários, sobre o assunto ao Rodrigo, para não lhe elevar, os índices de ansiedade, tinha receio, que cometesse algum ato irrefletido.

Dado adquirido, ninguém da aldeia e da escola, aceitava que ele fosse para uma instituição, a começar por ele próprio.

Eu era muito contido no que concerne a esta matéria.

Seguia todas as instruções, que os meus Pais me tinham dado.

Não lhe devia alimentar, falsas espectativas.

Dizia-lhe sempre para ter esperança.

O Rodrigo, mostrava-se bastante revoltado, pelo empasse em que estava a decisão, do recurso entreposto.

Mas depositava nos meus Pais, toda a confiança, e desabafava dizendo.

 

Diogo, só os Padrinhos me podem salvar.

 

Eu todas as noites, rezava para que tudo corresse a nosso contento.

Fiz uma promessa à Santa Rita, dar-lhe nove velas, tantas como a idade do Rodrigo.

Pedia-lhe, para nos ajudar a ganhar esta questão, e dessa forma dar-me, o irmão que eu tanto queria.

A minha Mãe, depois da gravidez de alto risco, a quando da minha gestação, ficou impossibilitada de ter mais filhos.

Um de nós esteve a morrer, mas felizmente estamos cá os dois, e muito felizes.

Tenho a melhor Mãe do mundo, e eu tudo faço para ser um bom filho.

Ao fim de uma luta titânica, por parte dos meus Pais, fazendo valer o grau de parentesco de Padrinhos, tudo chegou a bom porto.

Foi um processo que esbarrou em vários obstáculos, já que o tribunal, mostrava-se intransigente, em abdicar da decisão de institucionalizar o Rodrigo.

Todos sofremos muito com esse fantasma a pairar sobre as nossas cabeças.

Era uma guilhotina, que a qualquer momento podia decepar a vida do Rodrigo, ferindo de morte, no seu amor-próprio, e a nossa, pelo amor que todos lhe temos.

A frieza e por vezes indiferença, que as mais altas instâncias, abordam e tratam, estes processos, são execráveis.

Eu sempre acreditei, na capacidade e eficiência do meu Pai, e do advogado a conduzir este assunto, tão melindroso.

Por vezes via-o de semblante carregado, quando lhe preguntava como ia o processo.

Ele era lacónico na resposta, outras vezes algo evasivo, Evitando o meu sofrimento.

Estava ciente da importância que eu dava a adoção do Rodrigo.

O meus Pais sempre me diziam.

 

Diogo, mantém a calma, tudo está a ser feito com o intuito de trazer para nossa casa definitivamente o Rodrigo.

Temos de dar tempo ao tempo.

Saber esperar é uma virtude, e devemos saber lidar com isso.

Escuta bem filho.

Faz disto um lema de vida.

Contra a teimosia, nada melhor que a abnegação e persistência.

 

Estávamos pela primeira semana de dezembro quando chegou a resposta pela boca do advogado.

Deslocou-se a nossa casa, reunimos na sala.

Aquele hiato de tempo, de abrir a pasta, pegar nas folhas, foram minutos transformados em horas.

Os meus Pais, transpareciam uma calma aparente, eu estava mais tenso.

 

Diogo, o Rodrigo é teu irmão.

Ganhamos o recurso.

Foi dado o veredicto final.

 

Não cabia em mim de tanta felicidade.

O sonho de ter um irmão, realizava-se.

Saltei do sofá, gritando.

Ganhamos ganhamos ganhamos.

Abracei os meus Pais a chorar de alegria.

Com tanta emoção, só sabia agradecer-lhes.

Vi lágrimas nos olhos dos meus Pais.

O semblante do advogado, transparecia felicidade, pelo dever cumprido.

Terminava ali o caminho tormentoso do Rodrigo e Os maus tratos, que o Pai lhe infligia, mais o calvário deixado, pelo abandono da Mãe.

Agora juntos, Íamos desbravar novos horizontes, para um traçado de vida em comum.

Partilhar os mesmos Pais, a mesma casa, a mesma mesa e as mesmas brincadeiras.

Deixei que fossem os meus Pais a darem a notícia ao Rodrigo.

Foi no almoço de sábado em minha casa, que lhe foi transmitido, tão ansioso desfeche.

Os olhos tinham um azul cintilante, sedentos por saber qual o destino que o esperava.

Estava de rosto algo fechado, vi-lhe muito medo, daquele momento.

Foi então que o meu Pai, disse.

 

Rodrigo, este natal vai ser diferente.

 

Aquela pausa, parecia infindável.

 

Como assim Padrinho?

 

Esta casa é tua, o Diogo é teu irmão, nós os teus Pais.

 

Caiu num choro convulsivo, abraçado a mim, dizendo: finalmente somos irmãos!

Não cabia nele, de tanta euforia.

 

Somos irmãos Diogo!

Deus existe!

A Santa Rita também!

 

Abraçou o meu Pai dando-lhe um beijo, obrigado Padrinho, és um herói.

 

Rodrigo, não há heróis, há sim, garra e determinação, de lutar pelos nossos objetivos.

 

Acabou no colo da minha Mãe, momento carregado de enorme singularidade, e afeto.

Não tinha memória, de ser acolhido pelo único e melhor regaço do mundo, o de Mãe.

 

Adoro-te Mãe.

Agora não vos trato por Padrinhos, mas sim por meus Pais.

Tudo vou fazer, para vos retribuir e agradecer, todo o empenho na defesa desta minha causa.

Saberei estar a altura, da aposta que fizeram, e do investimento que vão fazer em mim.

Obrigado Pai, Mãe e mano, aquece-me o coração, poder prenunciar estes nomes.

 

Rodrigo, vamos-te ministrar os mesmos padrões educacionais do Diogo.

A partir de hoje, tens os mesmos direitos e obrigações do teu irmão.

 

Sim Pai, é justo que assim seja.

 

A minha Mãe afagava-lhe o rosto, e cobria-o de beijos, da forma carinhosa que eu bem conhecia.

Fui inundado por uma inusitada felicidade.

 

Bom, meninos, sabem qual vão ser as vossas tarefas para esta tarde?

 

O quê Pai?

 

Preparar o quarto do Rodrigo, e depois uma surpresa.

 

Qual?

Preguntamos em uníssono.

 

Vamos todos fazer a nossa árvore de natal, este ano ela reveste-se de um significado, redobrado e especial.

 

Boa, o pinheiro de natal vai-se chamar Rodrigo!

 

Não Diogo, vamos é deitá-lo no presépio!

 

Gracejou o meu Pai.

Soltamos em coro, uma sonora gargalhada.

Respirava-se um ar pleno de felicidade.

 

Agora meninos, acabou o secretismo relacionado com o processo do Rodrigo.

Quanto aos trâmites que faltam, nos próximos dias tudo ficará concluído.

Já podem dizer na aldeia, e na escola que ele está definitivamente em nossa casa, e que faz parte integrante da nossa família.

Assim se faz o natal!!!

 
DIOGO_MAR

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O AVESSO DO NATAL



Ora aí está, mais uma vez o frenesim e o consumismo exacerbado do Natal, circunscrito aos bens materiais.

Temos mais do mesmo é assim todos os anos.

Haja dinheiro e créditos, que esta gente embriaga-se de compras.

Compras e mais compras, como se não houvesse amanhã.

Gasta-se o que se tem, e o que não se tem.

Mas eu quero!

E continuo a crer, e crer muito!

É esta mentalidade irrealista, possuída pela sofreguidão vorás que nos conduzi-o a esta realidade pantanosa, onde submergiram os valores.

Muita gente, carrega orgulhosamente o estandarte dessa praga que descaracterizou esta época festiva.

Mais grave, é a herança que passaram e teimosamente continuam a passar aos seus descendentes.

A correria desenfreada a bens supérfluos, só porque fica bem exibi-los perante os outros transforma o espírito natalício, num espírito de hipocrisia doentio.

Tudo se esfuma, na manhã do dia seguinte, num oceano de papéis de embrulho e numa montanha de caixas, agora despojadas de sonhos e ilusões.

Depois vestem a pele de falsos moralistas quando confrontados com este flagelo social.

Haja pudor!

 


Diogo Mar

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

HISTÓRIA SEM IDADE História_8





Foi numa daquelas tardes pardacentas de verdadeiro ócio, que despoletou em mim a vontade de viajar até ao velho sotam.

Tinha espreitado pela janela do meu quarto, e constatei do frio que estava lá fora, de mão dada com um céu toldado de nuvens a prometer chuva a qualquer momento.

Vesti um fato de treino, de resto é a indumentária que mais gosto de trazer por casa.

Corri a tampa do alçapão de acesso ao sótão, era como se estivesse a abrir a janela do tempo, onde estão guardados anos de múltiplas vivências.

Mal esta deslisou, as minhas narinas foram inundadas por pó, e um cheiro marcante a mofo.

Depois de uma série de espilros, lá continuei a minha cruzada de remover pó e algumas teias de aranha, que pareciam ter feito uma barreira protetora as minhas recordações.

Ali estava ao canto o meu velho cavalinho de madeira, a quem fiz um poema publicado aqui no blog.

Abria cada caixa como se fosse uma prenda acabada de receber.

Era uma verdadeira incógnita o que lá estaria dentro.

Até o frenesim de as abrir me faziam voltar aos tempos de criança, faminta de saciar a minha curiosidade.

A primeira estava cheia de carros de coleção, alguns já oxidados pelo tempo.

Eles foram os meus campeões em corridas que fazia com os meus amigos.

O meu preferido era um carro vermelho que de tanto uso estava gasto a cor já esbatida.

Contemplei-o durante alguns minutos, rebobinando o filme da minha memória.

Chi!

Agora, era tão pequeno na minha mão crescida, cheia de mundo.

Filo deslisar no chão do sótão.

Estava lento, tinha perdido o fulgor de outros tempos!

Tirei-os para fora da caixa, um a um, como se folheasse um livro de episódios, de memórias de anos longincos, mas que eu gostava de reviver.

Deixei-me embalar pelo berço do tempo, das horas morrentes de saudade.

Não tinha reparado que bem lá no fundo estava uma cobra e uma tarântula de borracha que faziam as minhas delícias para assustar as pessoas pelo carnaval.

Ups!

Desta vez quem se assustou fui eu!

Logo eu, que detesto répteis.

Esfreguei os braços, já que tinha ficado com pele de galinha e recoloquei-os onde estavam.

Ainda recordo, o grande susto, que preguei a Miquinhas padeira, quando lhe pendurei, no puxador da porta a cobra.

Brincadeira, que me custou uma bofetada da minha mãe, e um castigo, já que a senhora, sentiu-se mal, chegando mesmo a desmaiar.

Abri a segunda caixa.

Estava cheia de animais, que vinham como brinde, no interior de uma marca de detergente em pó, para lavar roupa.

Bom, tanta bicharada que dava certamente, para fazer um jardim zoológico completo.

Libertei os todos.

Sentado no chão, agora estava rodeado por carros e animais.

Reparei nos cavalos que punha ao serviço dos guardas do castelo, que fazia em lego.

Fui para a terceira caixa, era a maior de todas, tinha vindo lá dentro a máquina de lavar roupa.

Abri as tampas, carregadas de pó, la vieram mais meia dúzia de espilros.

Atchim!

Acho que por este andar vou sair daqui sem nariz.

Soltei uma gargalhada, ao deparar-me com a minha primeira mochila, tinha estampado o Marco.

Personagem de uma boa série, que passava na televisão.

Contempleia, assim permaneci durante alguns instantes.

Tinha transportado nela muito daquilo que hoje sei.

Foi o primeiro degrau de uma longa escadaria, de aprendizagem e conhecimento.

Fui inundado, por uma nostalgia revestida de um misto de alegria e saudade.

Foi como se o relógio parasse.

Vasculhei toda a caixa, numa verdadeira ânsia de ver as histórias, que ali estavam guardadas.

Fisgas, bolas, pião, cubo mágico, ioiô, berlindes, lego, carros telecomandados e uma velha locomotiva.

Seria ela a máquina do tempo, de uma viagem que eu estava a ser o maquinista?

Mas esta panóplia de recordações não se ficava por aqui.

Os meus jogos do micado, o sabichão, o monopólio e a batalha naval.

Eis que surgem as barbatanas os óculos e as boias de levar para a praia.

Dentro da minha velha e gasta mochila, lá encontrei as minhas cadernetas de cromos que folheei lentamente como se estivesse a venerar os meus heróis, de tempos idos.

De repente cai um pequeno papel, olhei, fiquei pregado.

Eu não acredito!

Era um dos bilhetes que trocava com a Rita, a minha primeira namorada.

Ó saudade!

No meu estojo, ainda morava um lápis, aguça a borracha e os cromos repetidos, bem como o cartão de estudante, com uma fotografia dos meus 10 anos.

Sem que eu desse por isso, estava uma tarde muito bem passada.

Dei início a tarefa, de encaixotar cuidadosamente, todos os capítulos, que narram uma história bem presente.

Tinha dado corpo a uma cúmplice aliança, com tempos idos, que fazem parte do meu eu, onde gosto de me perder!

 

DIOGO_MAR