Faço por mostrar-te indiferença, para que compreendas que é
nessa mesma atitude profilática, que reside o antídoto, para aniquilar o veneno
da mentira e do engano, que a tua relutância persiste teimosamente em adiar.
Não sou teu amigo em moldes de completa aprovação e elogios.
Sou muitas das vezes o que menos gostarias de ter na tua
frente, porque te provoca, porque te afronta e desmonta os teus planos
falaciosos e te alerta para as tuas vulnerabilidades.
Mas por isso mesmo é que sou teu verdadeiro amigo.
Sabes, tu desconheces que a penalização é tão ou mais pedagógica,
que a sistemática aprovação avulsa e livresca.
Não gostes de mim, pelo que sou, mas sim pelo que faço.
A artificialidade humana, não é de todo a minha praia.
Para que saibas, até mesmo eu muitas vezes não gosto de mim,
mas parto as correntes que me estão a algemar, para cumprir com o pacto que fiz
para comigo:
Fiel ao meu trilho, valores e princípios.
Não consinto olhares de serpente que tentam despir-me.
Poucos são aqueles que de facto me conhecem na minha essência.
Prefiro palavras cáusticas, mas verdadeiras, que palavras
aveludadas e hipócritas.
Antes fraturante, que consensual e sentir-me prisioneiro de
mim mesmo.
A realidade é tão indesejada por alguns, preferem o bálsamo
do engano.
Jamais para mim, a mentira é verdade, do mesmo modo que a
verdade não é mentira.
Não uso hierarquias para as palavras nem poupo a ironia ou o
sarcasmo.
Prefiro morrer de pé, a viver uma vida ajoelhado.
Sou feito de maça bruta, eu sei que sim:
Mas pura e verdadeira.
Sei que magoou e defraudo algumas pessoas próximas, que se
renderam a uma vida maquilhada pela superficialidade e aparato.
Mais uma vez reafirmo:
Não é de todo a minha praia.
Acham-me inconveniente, e por vezes austero, por chamar os
bois pelos nomes, mas porque ei-de eu dar guarida ou perder o meu precioso
tempo a tentar compreender a imbecilidade humana?
Por tudo isto, sou livro sem folhas, sebenta sarrabiscada
pela mão trémula de anseios e desvaneios ancorados num cais de palavras sem idade.
DIOGO_MAR