quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

AOS MEUS AMIGOS



Que este Natal, seja despido de hipocrisia, egoísmo e preconceito.

Seja um Natal de igualdade, solidariedade e paz.

Sim, porque o Natal, sou eu, és tu, somos nós!

A todos que comigo escalaram a íngreme montanha do 2015, quero deixar-vos envoltos num abraçaço, imbuído do mais puro e verdadeiro espírito Natalício.

Assim se faz Natal!

Próspero 2016.

 

DIOGO_MAR

domingo, 20 de dezembro de 2015

CORRENTEZA DOS DIAS



Perco-me por aí, em abraços vazios, em palavras despidas.

Um turbilhão de sentimentos áridos de desejo.

Arrasto-me na torrente lamacenta, da luz das trevas.

Desfio os cabelos esbranquiçados do tempo.

Dedilho as gotas da chuva numa melodia efémera e sem brilho, em notas desafinadas pelos desencantos.

As minhas ânsias levitam pelo firmamento, num silêncio vestido de breu.

Vou ponteando as palavras, tentando remendar os escombros em que tudo a minha volta se tornou.

Eu aqui, embriagado por uma sofreguidão de sonhos alados, parto à conquista de uns olhos remoçados, que despontem dentro de mim, a flor da vida.

 

DIOGO_MAR

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

ACORRENTADOS



Porque algemamos os nossos sentimentos o nosso ego a nossa essência?

Porque somos tolhidos por medos e preconceitos, que asfixiam a liberdade de sermos nós?

Vivemos enclausurados, na redoma do aparato do faz de conta, famintos pelas nossas raízes.

Alimentamos a máscara da felicidade podre, que fica bem exibir para os outros venerarem.

Só fachada!

Inquinamos as nossas vontades, quereres e ambições, porque morremos de pavor que ao torná-las realidade, íamos certamente defraudar aqueles que nos rodeiam.

Daí, vivermos libres, numa prisão coletiva, revoltados e acorrentados às maiorias aglutinadoras asfixiantes, espelho de uma profunda e torturante e resignada crise de identidade.

Quero ser eu!

 

DIOGO_MAR

sábado, 21 de novembro de 2015

E TUDO O TEMPO LEVOU



Por vezes, dou por mim a rebobinar o filme percorrido até aqui.

São a retrospetiva de episódios que irão ter o seu epílogo.

Uma travessia, dos capítulos de vida, que vou esmiuçando retratando-a, ao fazer esta introspeção.

Nascemos expostos a todos os desafios que a nossa existência nos vai confrontar, como se tratasse do bilhete com o número a sortear pela lotaria da vida.

Se eu, passasse ileso as agruras causticas, será que tinha amadurecido, no trilhar escarpado pela erosão do implacável tempo corrosivo e cruel, que por vezes levanta-nos barreiras intransponíveis?

É um verdadeiro e penoso teste as nossas capacidades!

Lembro-me que até aos meus 16 anos, do espirito de conquista que era fazer as marcas na umbreira da porta do meu quarto, vendo orgulhosamente a minha desenvoltura física.

O relógio nem o calendário representavam nada para uma vida que eu próprio comandava.

Ou pensava eu que comandava!

Um ano que parecia infindável, havia-se tornado tão fugaz.

Os dias, meses, anos vestiram-se de volatilidade implantando em mim, uma escravatura a qual eu, estou irremediavelmente confinado.

Os braços do tempo, são como algemas invisíveis, que nos marca a cadência feroz, de metas que nos propusemos alcançar.

Sob o jugo do relógio e do calendário, tornamo-nos robotizados, por uma vida obcecada pela valorização pessoal.

O mundo cego e louco da competição.

Uma verdadeira lei da selva.

O salve-se quem poder.

Aglutinamos num verdadeiro turbilhão, todas as ambições que estabelecemos de forma sôfrega e doentia.

Já não temos tempo, para o tempo.

O relógio e o calendário tornaram-se uns ditadores implacáveis, com voz altiva onde já não cabe o contraditório.

São os nossos carrascos.

Esvanecem todas as estações da primavera da vida, que ilustrava um guião que tínhamos conjeturado.

Resta-nos o outono da nossa vivência, com as suas folhas caducas a deixar-nos um trago de insatisfação e frustração de vida onde o vento parece varrer para bem longe a simplicidade de algo que se tornou inatingível, entapetando as realizações.

Que sabor amargo!

Em suma:

Uma mão cheia de nada!

Agora sou mais um, estandardizado e manietado, para onde me empurram, sem ter poder de escolha, restando-me um nó no peito de angústia.

Olho para as marcas ainda visíveis na umbreira da porta do meu quarto, e sinto uma vontade inconsolável, de regredir aos tempos em que o tempo não tinha tempo para mim.

Ou que eu tinha todo o tempo para ele!

 

DIOGO_MAR

sábado, 31 de outubro de 2015

ESCRITO À NOITE



Aquela gélida noite de Janeiro, tinha uma cara carrancuda, o céu vestia-se de um breu carregado.

O vento, feria-me os ouvidos, pela forma incessante como uivava, no pequeno postigo junto da lareira.

Por sobre a mesa um jarro com vinho e dois copos, e o cesto do pão.

Eram as marcas que restavam do jantar.

Ao canto, um cadeirão, com a madeira já carcomida, pela erosão dos anos.

Sobre o espaldar, uma manta, que servia de aconchego, à minha permanência, Junto da lareira, onde repousava no escano, palco de inspiração, à leitura de Neruda, brindado com o néctar dos deuses, numa cúmplice aliança feita com Baco.

Ali estava eu, entregue e rendido ao encanto daquele momento, no calor, e na luminosidade do lume, que me aquecia o corpo inerte.

Só à mestria das páginas que devorava, levava-me a viajar, perdendo-me nos recônditos cantos da noite.

O vento, com um cantar sinistro, lançava gritos lancinantes de fúria, encarnando a voz do demo.

Ia tentando exorcizar, a minha irritabilidade, perante aquele quadro em volto num manto negro, que esmagava o meu peito.

Só o tique taque do velho relógio de parede, e o crepitar da lenha numa fogueira já a empalidecer, marcavam a cadência do tempo.

Gostava de viver aquela intimidade enigmática, desafiadora e apaixonante.

De súbito, um piar estridente ecoou, despertando em mim a curiosidade.

Acerquei-me da janela, e após alguns minutos de espera vislumbrei uma coruja que seria mensageira da noite, que fazia voou picado para o seu ninho, na copa de um imponente carvalho secular, na encosta sobranceira à minha casa.

As árvores vergavam-se às ordens do vento, como se de uma vénia se tratasse, ao vergastá-las de maneira severa e impiedosa.

Ao longe, vi uma luz que rasgava a escuridão vinda da janela do casario, no povoado.

Alguém que tal como eu, estaria a fazer serão, ou deixaria a luz acesa, para afugentar as almas penadas, que diziam divagar em senários como aquele.

O facho de luz, desventrava o manto de luto, que aquela gélida e misteriosa noite ocultava.

Fechei as portadas, e tranquei a porta.

O lume já se despedia, emprestando um ambiente sorumbático, à cozinha.

No velho relógio caíam as duas horas.

Fumei um cigarro, bebi o último trago de vinho, e encaminhei-me para o quarto.

Nesse percurso, fui assaltado por um arrepio, ao deparar-me com os olhos do Farruco, que mais pareciam duas lanternas.

Era um belo e enorme gatarrão.

Ali imóvel, Esperava pacientemente, pelo meu recolher aos aposentos.

Era um ritual que ele fazia questão de me oferecer, na sua gratidão felina.

Quando me via pegar num livro, de imediato ocupava um lugar bem perto de mim, para eu lhe ler a história.

Por vezes dava com ele, a colocar uma das patas dianteiras, por sobre a página, parecia crer tatear as letras impressas no papel.

O Farruco, é um bom amigo e confidente.

Já tinha ocupado o seu lugar, na poltrona ao canto do quarto, onde pernoita.

Eu reconfortado no meu leito, moldei o meu corpo, aquela figura angelical com quem dividia a vida, emparcelada no mapa de um amor, dedicado e de corpo inteiro.

Dormia profundamente.

O calor bem como o cheiro da sua pele, era o melhor bálsamo para esquecer aquela noite tenebrosa.

Afaguei-lhe os cabelos, sussurrei-lhe uma boa noite, e selei aquele momento com um demorado beijo, nos seus lábios da mais pura seda oriental.

Mergulhamos no sono dos justos, esperando pelo raiar de uma nova aurora.

Até amanhã amor.

 

 

DIOGO_MAR

terça-feira, 27 de outubro de 2015

LAÇOS E NÓS EDUCACIONAIS



Abomino a falta de educação de alguns filhos, que tratam de forma e atitudes insultuosas arrogantes e grosseiras os Pais.

Infelizmente já testemunhei lamentáveis e execráveis episódios destes e acreditem, não se circunscrevem só a crianças e a adolescentes.

É revoltante, ver a passividade dos Pais, achincalhados e humilhados a deixarem-se reduzir a fonte financeira, para sustentarem os caprichos dos seus rebentos.

Eles impávidos e serenos querem é:

Cama mesa e roupa lavada mais mesada e combustível para o carro ou mota, mais ainda para as orgias de álcool e sabe-se lá para que mais.

Falar de padrões de educação em relação aos filhos, é matéria que dava pano para mangas, já que cada caso é um caso e nunca indissociável da estrutura familiar, alicerce basilar para um futuro promissor.

As traves mestras, transversais e abrangentes, pelas quais nos devemos reger, são vitais para uma boa e correta construção educacional dos nossos filhos, eles que carregam aos ombros o amanhã.

Ou seja:

A mesma boca que diz o sim, deve também saber dizer de forma inequívoca não, mas atenção, muito importante é fazer a criança ou o adolescente perceberem o motivo dessa tomada de atitude.

Responder, não porque não, consegue ser uma resposta mais parva e plena de ambiguidade que o erro cometido.

Incutir-lhes o sentido de responsabilidade, e nunca o facilitismo na obtenção de algo, que almejam.

Não educar na base do suborno, de se fizeres bem, és presenteado.

É importante haver exigência e responsabilização dos seus atos.

A criança e o adolescente, devesse-lhes incutir uma conduta de caracter, cimentando de forma sólida a sua personalidade.

O erro crasso dos Pais, é terem confundido educação com aliciamento dos filhos, embriagando-os de materialismo.

Os filhos não se compram, educam-se.

Entre o casal, nunca na presença do filho, devem divergir em relação à tomada de atitude a ter, no que concerne a decisões que lhe digam respeito.

Ele, nunca se deve aperceber da dualidade de critérios da Mãe em relação ao Pai, ou vice-versa.

Fico-me por aqui, neste texto já longo, mas sobre um tema apetecível, e de inegável importância, que nos diz respeito a todos, já que falamos dos futuros Homens no sentido lato da expressão, do amanhã.


DIOGO_MAR

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

TÃO LONGE TÃO PERTO



Voei nas asas do vento, entregue a minha sorte

A luz resplandecente da tua candura, nunca me fez perder o norte.

 

Bati à tua janela, tímido e envergonhado

Flamejava no meu peito a esperança de ser o teu amado.

 

De par em par, franqueaste as portadas para me receber

A fome do meu amor

Era a sede do teu viver.

 

Fundeei no teu corpo, com uma ânsia sem limite

Mata-me o desejo

Por ti morro de apetite!

 

Nas linhas da minha cartilha, sou bonançoso ou agreste,

Virtuoso ou errante

A minha sofreguidão, reclama-te de corpo inteiro num grito latejante.

 

Bordamos os dias, sob os arpejos de uma inigualável melodia

Numa matriz impregnada de cumplicidade e mestria.

 

Beijei a tua boca, com toda a sofreguidão

Quero ser o teu náufrago

Ancorados neste oceano de paixão.

 

DIOGO_MAR

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

PARA O MEU PAI



Pai, Hoje partiste, deixaste-nos um legado que honrarei até ao dia do nosso reencontro.

No teu percurso terreno, foste um verdadeiro hino ao trabalho, à honestidade, dignidade, educação e respeito, virtudes das quais muito me orgulho e faço bandeira.

Pai, de onde estás, repousa o teu olhar sobre nós, dá-nos a tua mão a tua ajuda e proteção.

Amamos-te muito Pai!

Estarás sempre bem presente nas nossas vidas.
Beijos Pai Eterno

DIOGO_MAR

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

RETALHOS



Divago ao acaso sem norte nas asas da insatisfação, fossilizada nos dias, onde a noite é eterna.

Quero o que não quero!

O meu peito é uma casa cadavérica onde só restam paredes carcomidas pela erosão do tempo, déspota e implacável.

Esta insatisfação, embriaga uma louca mas sadia vontade de me encontrar, nas avenidas frondosas da realização.

A noite, ofusca um sol cumplicie da timidez.

Os dados estão viciados no tabuleiro de uma vida de langor.

Qual o certo, qual o errado?

O meu traçado, vestiu-se de farrapos manchados pelo sangue da saudade.

Os pássaros, escabeceiam num bailado ao sabor da orquestra do desalento.

O seu chilrear, são como alfinetes de alegria a cravejar num peito de dor e pranto de vontades adiadas.

O presente assassinou o futuro, o passado ficou órfão de realizações vazias.

A esperança, deu lugar à resignação.

Não sei de mim!

 

DIOGO_MAR

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

DESESPERO



Peguei no pincel dos dias, fiz riscos e sarrabiscos com palavras florescentes na tela invisível da vida, porosa e agreste.

Tentei sorrir!

O meu olhar, submerge À sentença do garrote da melancolia.

Deambulei ao encontro nem eu sei bem do quê!

O cinzentismo havia-me empedernido o meu viver, os ombros curvavam-se fazendo uma vénia ao desespero.

Os dias mortiços, não acordavam as cores!

Tentava erguer-me deste sonambulismo profundo, abria as mãos trémulas, para agarrar de forma sôfrega a alegria de viver, como se do primeiro brinquedo se tratasse.

Mas que luta tão desigual!

Ó peito esmagado e crivado de espinhos, levado pela correnteza das águas de um rio prenho de desejos adiados.

Perdi a identidade do calendário, os dias sucedem-se às noites definhando num labirinto existencial.

Vida floresce para mim!

Mostra-me as cores do teu sorriso!

Não me imponhas uma paleta de tons lúgubres de desespero.

Diz-me que vale apena!

 

DIOGO_MAR

terça-feira, 21 de julho de 2015

CARRINHO DE ROLAMENTOS



O meu carrinho de rolamentos

Corrida desenfreada de tantos sentimentos.

 

Rolamentos, pregos, corda e madeira

Eram os acessórios, que construíam tão efusiva brincadeira.

 

Tosco ou requintado

Competias com lealdade

Carrinho de rolamentos, eras espelho da nossa criatividade.

 

Corre, voa, meu carrinho de rolamentos

Amigo de partilha de tão agradáveis momentos.

 

Eras o número sete, veloz como uma seta

Inundavas-me o rosto de felicidade, quando eras o primeiro a cortar a meta!

 

Batizei-te com o nome de arco-íris

Campeão de tantas emoções

Foste o brinquedo preferido de tantas gerações.

 

No caminho do monte, ou na rua da aldeia

Corrias contra o tempo

Fazendo daquele instante uma verdadeira epopeia.

 

Competias com os rivais

Com perícia e velocidade

Foste um símbolo que ainda hoje me orgulho, da minha tenra idade.

 

Sem pista nem mapa de navegação

Meu carrinho de rolamentos, era a fonte de toda a minha ilusão!

 

 

DIOGO_MAR

domingo, 5 de julho de 2015

NOSSO HINO DE AMOR



Nos braços cúmplices da noite transpira o fogo de um amor errante,

Vagueio perdido pelas ruas à tua procura para te suplicar um só instante.

 

Faço um pacto com o vento,

Na loucura de um desejo

Imploro à lua para fechar os olhos,

Quero-te roubar um beijo!

 

Pelos becos da paixão,

Nas avenidas do meu crer,

Jorrados no nosso leito,

Franquiamos as fronteiras do amor até ao amanhecer.

 

Alisava os teus cabelos,

Numa ansia sem limite,

Mata-me a minha fome

Por ti morro de apetite!

 

As tuas mãos de fada boca favo de mel,

Sacias-me minha abelha rainha cândida e fiel.

 

Dizes que sou louco,

Por te amar tanto assim,

Retribuo afagando a tua sedosa pele,

És a mais bela flor que desabrochou dentro de mim.

 

Embriago-me na tua essência,

Ó força bruta da natureza

Bebo de um só trago a tua divinal beleza.

 

O relógio parou,

Quis ser nosso aliado,

Desta forma se cumpre uma dourada página de uma história com sabor a pecado.

 

Diogo_Mar

terça-feira, 23 de junho de 2015

RELÍQUIAS




Mais um brilhante poema do meu AMIGO Rodrigo!


Fiz um “x” neste mapa,

Enriqueci a procura,

Não importa se a carne é fraca,

Se a alma é obscura,

Só amei,

Nunca odiei,

Todas as pessoas que conheço,

Sei que não receberei,

Nem metade do que dei.

 

Dei o que tenho sem segundas intenções,

Felicidade é recompensa,

Não necessita de compensações,

Só uma mente forte,

Reconhece a matéria,

Tornei os meus poemas,

Numa simples artéria.

 

O meu maior defeito,

É a minha maior virtude,

Num espírito pobre e seco

Embora isso as vezes mude.

 

Carreguei a fantasia,

Por cima dos ombros,

Quebrei as regras,

Ultrapassei escombros.

 

Vive sem medo,

O teu carácter é enorme,

Não deixes que a sociedade

Te transtorne.

 

Rodrigo Paredes

 

sexta-feira, 29 de maio de 2015

O AVESSO DOS DIAS



As minhas palavras cheiram a terra queimada pelo desespero.

O que escrevo é levado pela impetuosidade do vento sinistro a polvilhar de cinzas este mundo inóspito, onde já só germina a semente da descrença.

Fica-me a boca encortiçada, pelo trago amargo da exclusão social.

O meu corpo moribundo, arrasta-se feito restolho, entapetando o chão da esperança adiada, sem tempo nem idade.

Aqui estou jogado, na sargeta do ultraje, de uma terra que me pariu, deixando-me entregue as sortes de um futuro asfixiado e órfão.

O presente, foi esquartejado, perfilhando a incógnita, Projetando-me para os braços da puta da vida nua e crua, exibindo o resplandecente da luxúria madrasta.

Entraram em putrefação os sonhos, que não passam de um falso alimento para a alma, num cálice a transbordar de ilusões ébrias.

O néctar dos dias, fermenta o ódio e a intolerância, violando os mais elementares princípios que regem a dignidade humana.

Sobra o gáudio resplandecente e inusitado, do materialismo exacerbado.

Os dias, vestiram-se de breu, aterrorizados pela silhueta da amargura e indefinição.

Por fim, resta a esperança, que não passa de ser um empréstimo contraído a felicidade.

Quando a vamos saldar?

 

DIOGO_MAR

segunda-feira, 25 de maio de 2015

ZONA DE VIRAGEM



No principio é simples, navego sozinho,
Bebo a razão num copo de vinho,
Digo que o meu passado está moribundo,
Dei a volta a ti, dei a volta ao mundo,
Suga em mim a voz rouca destroçada:
Onde tudo é nada, onde o medo é estrada.

 

Peço descanso por mais curto que seja,
Apago as dúvidas num mar de cerveja,
Onde de uma escolha fiz um desafio,
Navego sem mar, sem barco ou navio,
Suga em mim a voz rouca destroçada:
O futuro recente de uma vida passada.

 

Brindo aos amores com amigos em casa,
Na enchente da vida vi a maré vaza,
Entrei de rastos e saí firme e refeito,
Lutei por tudo e por nada que levei a peito,
Suga em mim a voz rouca destroçada:
Onde sei que sei tudo mais sobre nada.

 

Entretanto o tempo fez do silêncio barulho,
Tive vontade de mudar, mas mudou-me o orgulho,
Bebi de um copo vazio, um 
shot de coragem,
Da fenolftaleína numa zona de viragem,
Suga em mim a voz rouca destroçada:
De um corpo frágil de uma alma arrasada.



RODRIGO PAREDES

terça-feira, 5 de maio de 2015

HINO DE AMOR



Incondicionalmente sofro por ti.

Irrompem lágrimas rubras de paixão, pelas ameias da nossa loucura.

Desabotoo a volúpia insaciável por mais, ainda mais, fundindo os nossos corpos no molde do amor mais que perfeito.

Enlaço-me no teu corpo, faminto de prazer.

Desnudo os preconceitos e desvaneios, crucificadores.

Jorro de amor nas vielas da paixão, desaguando na Encruzilhada do lívido desejo de te devorar.

Os pontos cardiais do nosso amor, convergem-nos ao mapa do nosso quarto.

Acorrentados ao prazer, ébrios de paixão, onde os adjetivos, esgotam o dicionário do éden.

O nosso mundo, estava confinado a 20 metros quadrados, delimitados por uma porta, 4 paredes e uma janela.

No ar pairava a essência do teu perfume provocador e irresistível.

Lá fora o tempo corria de forma frenética fria e impessoal.

O vento entoava sons mundanos, pelas frinchas da janela.

Ficamos indiferentes à cadência do tique taque do relógio, que fazia contrapasso com o galopar de um cavalo tresloucado de sio no peito, saciando a sua cede no caudal do nosso amor perene.

Vivias permanentemente, com o pavor, que o primeiro beijo, trouxesse consigo agarrado o espetro de um último.

Eramos peregrinos no templo do pecado consentido, saboreando o mel sensual, onde submergiam os nossos corpos.

Aqui não há culpa, nem culpado.

Não há vitorioso nem derrotado.

Há a mais pura reciprocidade, num desempenho de predadores racionais exorcizados pelo amor voraz.

Há um cocktail de ejaculações, num brinde ao amor omnisciente.

Somos náufragos, deleitados num verdadeiro oceano de prazer, presos ao cordel dos deuses, Fecundando um amor de marés e monções, na noite silente a gravitar ventos de outono, num mar de calmaria.

 

 

DIOGO_MAR

sexta-feira, 1 de maio de 2015

CRIPTOSIGNIFICADO



Morrer e amar.

Dois verbos tão belos,

Se não soubéssemos os seus significados.

 

Significados esses,

Que nos causam transtorno,

Ao longo da vida,

De tão parecidos que são,

Um mata de verdade,

O outro não,

Mas corrói a vontade de viver,

Transforma-nos noutro ser

Durante um período de tempo.

 

De um ao outro,

Não sei qual escolher:

Amar ou morrer?

Eis a questão!

Não desejo ter um final

Em que os dois se complementem.

Morrer a amar.

Amar a morrer.

Não, não quero.

Apenas quero sentir a emoção,

De correr todos estes riscos

Por um bem maior,

A satisfação:

Eu.

 

RODRIGO PAREDES

 

sábado, 11 de abril de 2015

UM DIA NA FEIRA HISTÓRIA_14



Um dos meus roteiros preferidos, era ir a feira com os meus Pais.

Gostava de respirar aquele ar, carregado de múltiplos aromas.

Juntando a tudo isto, toda a variedade de produtos, bem como o colorido e pregões que se ouviam, misturados com conversas fragmentadas, e saudações efusivas e calorosas, emprestava-lhe uma grande singularidade.

Era o ponto de encontro de gerações oriundas de várias paragens do concelho, de todos os estratos sociais.

Nós já estávamos familiarizados com os feirantes, e os artigos que vendiam.

Claro está que eu tinha uma grande preferência pela dona Carlota, que vendia uns doces caseiros maravilhosos.

Era uma personagem pitoresca.

Gordinha, faces rosadas, olhar terno, vestia um avental de cores garridas bem alegres, com um grande bolso onde estava bordado (Doces da Carlota).

Além de simpática, nutria por mim um carinho muito especial, vá-se lá saber porquê!

Era dotada de uma longa e farfalhuda bigodaça que fazia inveja a muitos homens.

Eu que nunca fui dado a beijos, naquele momento sentia-me feliz por tal facto, pois não gostaria nada de me sentir beijado por uma boca encaixilhada em tão másculo bigode.

 

Ó meu amor, estou a pôr dois bolinhos a mais para comeres na viagem.

 

Não o estrague com mimos dona Carlota, disse a minha Mãe sorrindo.

 

A agora!

Uma coisa tão bonita tem de ser mimada.

Só é pena que seja por uma velhota.

Não é Diogo?

 

Corei e sorrindo agradeci-lhe.

 

De nada meu amor, dei porque quis.

Voltem sempre, gosto de saber que estão bem.

 

Seguimos viajem, a lambuzar-me com um daqueles bolos deliciosos.

Os meus Pais olhavam para mim e riam.

O que foi?

 

Diogo, limpa a boca e o nariz. Já tens farinha do bolo por todo o lado.

 

Comia com tanto entusiasmo, que o meu Pai gracejou dizendo:

 

É pá, até parece que não comes há 15 dias!

 

Pois, mas o que é doce nunca amargou, não é filho?

 

Respondeu-lhe a minha Mãe.

 

O meu Pai acercou-se da barraca do Claudino, mais conhecido por spock, já que as suas orelhas eram avantajadas.

Ele vendia sementes e utensílios diversos para jardinagem.

 

Diogo, não (bulas) mechas nisso, podes-te cortar na lâmina, recomendou-me ele.

 

Íamos caminhando a desfrutar da magia de toda aquela panóplia de produtos, cheiros e pregões.

 

Ó freguesia, olhem calças, é (pró) para menino, e (prá) para menina!

Ó riqueza, não quer calças para o menino?

São da moda!

Olha que calças bonitas meu amor!

Não gostas?

Tenho mais modelos!

E são de marca!

 

Não, obrigado não quero.

 

Hoje não, acrescentou a minha Mãe.

 

A dona Natália valia-se dos seus dotes vocais para se fazer ouvir.

Ó freguesia!

Olhem o (pijame) pijama barato, para ter sonhos cor-de-rosa!

 

Achava piada ao tratamento dos feirantes para com os clientes.

Ó riqueza, ou ó meu amor.

As vozes misturavam-se com o megafone do Sr. Augusto que leiloava jogos de cama, e atoalhados.

 

Quem dá mais?

É a última oportunidade.
Ninguém dá mais?
Fica para aquele cavalheiro.


Depois tínhamos a banca do Sr. Jorge que vendia cassetes e cds com uma enorme variedade de estilos musicais.

 

Olhe!

Ó senhor!
Tá a ouvir!

(Bote) coloque a tocar o Quim Barreiros!


Sugeria uma transeunte.
Era um barulho diversificado, mas ao mesmo tempo agradável, pela beleza que emprestava ao recinto da feira.

Naqueles dias a vila ganhava outra vida, tinha um bulício que em circunstâncias normais não acontecia.

Estávamos nós a passar junto dos vendedores de galinhas, quando uma delas fugiu, esvoaçando em direção a uma senhora assustando-a, que por sua vez, me abalroou.

Quase me deitava por terra.

Agrediu-me com os seus longos e avantajados seios.

 

Magoei-te?


Não!


Desculpa meu amor!
Diabos levem a galinha!

 

Não faz mal, disse eu, a recompor-me daquele episódio.

Olhei para os meus Pais que disfarçadamente riam, a bom rir, principalmente o meu Pai.

 

Tem uma piada?

O meu desabafo ainda estimulou mais as gargalhadas do meu Pai.

 

Deixa lá filho, já passou, dizia a minha Mãe, ao ver-me com uma expressão de aborrecido, e envergonhado.

 

Aqueles personagens de aventais coloridos e a irradiar alegria exerciam sobre nós um verdadeiro contágio, ao qual não podíamos ficar indiferentes.

Os meus Pais lá foram comprando os artigos que precisavam, cujos preços fossem convidativos.

Eles sabiam regatear com os vendedores o custo dos produtos que pretendiam adquirir.

Principalmente a minha Mãe que esgrimia todos os argumentos para poder comprar o mais barato possível.

Estava ali bem patente o instinto de dona de casa, saber gerir é uma virtude, e a minha Mãe tem-na.

Entre saudações do meu Pai a várias pessoas, já que era bastante conhecido na vila, bem como a minha Mãe, eu, também ia encontrando colegas de escola, e até mesmo professores e funcionários.

A feira, não há dúvida, que mais se assemelha a uma peça de teatro, onde os atores são os vendedores, e nós os figurantes.

É um local de convívio e de alegria, assente na mais perfeita reciprocidade de quem vende, e quem compra!

 

DIOGO_MAR