quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A UM PASSO DO ABISMO





Passamos uma vida inteira, com ela a passar-nos ao lado. Desembrulhamos os dias freneticamente, cansamo-nos precocemente, de tudo e todos.
O que hoje é algo de inovador, amanhã já se tornou rotineiro, tudo é tão fugaz, como se de uma pastilha elástica se tratasse, masca-se enquanto é doce, para de seguida lançar fora.
Olhamos para o nosso semelhante, com uma enorme carga de desdém, descartando as nossas responsabilidades.
Alimentamos o egoísmo egocêntrico e feroz, por mais, e ainda mais.

Vangloriámo-nos alarvemente, da vida materialista que nos embriaga. 
Aceitamos jogar com dados viciados, representamos no palco da vida, um papel no qual não nos revemos.
Vestimos o nosso cotidiano, com um fato de gala, de frustração preconceito, e intolerância.
Se não gostamos de nós, quem vai gostar?
É um verdadeiro labirinto existencial, que desemboca numa crise de identidade, onde só se conhece uma lei.
O o salve-se quem puder.
Como um rio, algemado pelas suas margens, também nós vivemos confinados a um caminho, com uma só direção, o abismo.
Fazemo-nos falsos demagogos, apregoando princípios avulsos que camuflamos, numa carapaça envolta num elevado grau de hipocrisia.
Um autêntico baile de máscaras fora de época.
Quem são os convidados?
São todos aqueles, desprovidos de carater e personalidade.
Ou que de forma leviana, a prostituem.
Cometemos o pecado mortal, da nossa vivência.
Confundimos liberdade com libertinagem, ou porque não dizer anarquia.
Dessa forma, adulteramos todos os mais elementares conceitos de sociedade.
Os valores morais e éticos, estão cadavéricos.
De forma livresca, isentamo-nos de culpas, com o dedo em riste, apontamos os erros levianamente aos outros, que sarcasticamente rotulamos com as imperfeições que não temos dignidade de assumir.
Pavoneamos a fachada que ostentamos engalanada de ambição exacerbada e sem limites.
Assim vamos calcorreando um trilho pantanoso, onde nem a flor de lotos germina.
Pobre homem, vegetas à esquina de uma vida asfixiada pelo garrote do narcisismo podre!

DIOGO_MAR
 

domingo, 24 de novembro de 2013

AOS OLHOS DA NOITE


 
Noite sem rosto, escura, gélida e enigmática.
Quem és tu?
Carregas no teu regaço uma verdadeira orgia de emoções e sentimentos, embriagados de loucuras, onde somos atores intervenientes.
Jorra da tua penumbra, todos os mistérios que em ti guardas, lágrimas de prazer e de dilaceração.
Escondes no teu ventre, os segredos do universo.
Brotam palavras de encanto e de desencanto, que parimos, perante a tua indiferença e altivez.
Das guarida, aos amantes, sob o teu manto, bordado de cumplicidade.
Fazes um pacto com a solidão para esmagar os passageiros que por ti deambulam.
És amada, e odiada.
O eco da tua voz austera e silenciosa, trespassa todas as histórias que te percorrem.
O breu das tuas palavras, cega a minha alma, sedenta dos moldes de amor, gravados no meu leito, que testemunhaste, com um olhar indiscreto.
Sabes, tu és uma estranha mas bela amante, onde as histórias ficam inacabadas.
Porque a noite segue dentro de momentos!

 



DIOGO_MAR

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O OUTONO NUM CARTUCHO DE NOTÍCIAS


 
Da janela do meu quarto, ergo os meus olhos para um céu tricotado de nuvens indiscretas.
Deslisam num movimento frenético, ziguezagueando.
Que mensagens transportam?
Serão elas as mensageiras do além?
Evidenciavam uma cara carrancuda.
Pareciam repreender-me, de algo que nem eu próprio sei.
Faziam desenhos algo enigmáticos, como se estivessem numa passerelle, a desfilar para mim.
Estávamos em pleno reinado do outono.
O jardim, encontrava-se despido.
A ausência dos transeuntes, agregada as árvores desnudadas, emprestavam-lhe um ar sinistro e desolado.
O vento varria aquela manta morta, entapetando o chão.
O fervilhar daquele ruido rastejante, eram os ecos de um outono anunciado.
Os bancos, autênticos confidentes de múltiplas histórias que se perdem no tempo, estavam tristes e abandonados.
Os velhos não ocupavam o seu lugar à mesa do jogo da sueca.
As crianças, não o coloriam com o bulício das suas brincadeiras.
Até as aves se tinham divorciado daquelas paragens.
Restava o vendedor de castanhas, colocado estrategicamente à esquina da rua, na confluência de várias estradas, e vidas.
Naturalmente residia nele a esperança de fazer um bom negócio, mesmo sabendo que não depende em exclusivo de si.
Temos sempre a nossa vida a prémio.
Aquele quadro profundamente nostálgico, mexia comigo.
Sentia um aperto no peito, como se estivessem a arrancar-me um pedaço de mim.
Tive necessidade de colocar música, para quebrar aquele silêncio ruidoso, e pesado que me asfixiava.
Fiz um olhar corrido pelo meu arquivo de CDS, e aminha escolha recaiu inevitavelmente sobre a minha banda preferida.
Os Pink Floyd.
O ambiente, denso e impessoal, tornou-se num clima bem mais agradável.
Agora os meus ouvidos, eram inundados pelo som dos Floyd, e nas mãos tinha o Neruda.
Sim, esse mesmo Pablo Neruda.
É um dos meus autores de eleição.
De vez enquanto piscava o olho ao que se passava para lá do vidro da minha janela de sacada.
Sentia-me na fronteira de dois mundos.
Constatei que a chuva já marcava a sua presença, e o céu, já se apresentava completamente toldado, pintando de um cinza carregado aquela tarde envolta numa melancolia, a que eu me negava a resignar.
Corri ligeiramente a janela, para inalar o cheiro a terra molhada.
O vendedor de castanhas, que estava a ganhar a vida, embrulhada em folhas de jornal, com as quais fazia os cartuchos que as transportava, pôs ponto final a sua tarefa.
Recordo uma tarde em que me abeirei dele comprando uma dúzia.
Quentes e boas freguês.
Era um momento mágico, por toda a sua envolvência.
O fumo, o cheiro, despertava olhares apetitosos, pelo fruto, que caracterizava o outono.
Fazia uma alternância, de mão para mão, já que elas fumegavam.
Foi então que senti uma vontade inadiável de coçar o nariz.
Num movimento instintivo, lá vai disto.
Reparei ao passar à porta da barbearia do Bernardino, num olhar de soslaio para o espelho, que tinha-o enfarruscado, da tinta da folha de jornal, onde transpiravam as minhas apetitosas castanhas.
Bom, o melhor é deixar-me ficar por aqui, de outra forma iria alastrá-lo a toda a cara, já que as mãos haviam mudado de cor.
Eu estava feliz, mesmo a sentir a sensação que todos os olhares repousavam sobre mim, não me inibiam o apetite.
Sentei-me num dos bancos para degustar as tão apetitosas castanhas.
Sentia-me um intruso num jardim triste e deserto, ao sabor de um vento árido, a cantar notas de solidão.
Era como um ator sozinho num palco sem plateia.
Sobre os meus ténis, já se tinham plantado algumas folhas daquelas árvores que praticavam um nudismo desavergonhado.
Eram a caducidade e os aromas dos dias, com os quais o calendário não se compadece.
A paleta de cores estava circunscrita aos castanhos, e cinzentos.
Cheguei à última castanha.
Colocava no lixo as cascas, desfazia o cartuxo, restituindo-lhe a sua forma inicial.
Agora bem mais amarrotada, e com linhas e letras, algo impercetíveis.
Ali estava a folha de jornal que me havia saído.
Que noticia, ou noticias teria eu ali?
Taxa de desemprego origina debandada de jovens a procura de outros países.
Cantinas Escolares abrem no período de férias para garantir refeições as crianças.
Aldeias do interior de Portugal, entregues ao abandono, originando um significativo aumento dos Indicies de suicídio, tendo como origem o isolamento e o desespero das famílias abraços com o flagelo do desemprego.
A minha consciência tocou a rebate.
Afinal o momento de felicidade que tinha disfrutado ao saborear a dúzia de castanhas, via-se agora ensombrado por vidas destruídas na sua essência.
Fiz uma pausa de reflexão, velando o sofrimento do meu semelhante.
Desemprego, fome e morte.
Uma realidade nua e crua, num retrato de vidas condenadas a um amontoado de destroços resumidos numa folha de jornal, decepando os sonhos desejados, sob a guilhotina do tempo, onde não passamos de meros passageiros, de histórias inacabadas!

 

Diogo_Mar

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

CARTA SEM ROSTO



Olá, estou-te a escrever estas linhas, que se perdem na imensidão, de histórias que fomos cúmplices.
Lembras-te das nossas brincadeiras inocentes, com um fim sempre imprevisível?
Era o desbravar de um caminho, carregado de interrogações, que nos havia de levar à encruzilhada da vida.
Os teus cabelos de vento, olhos de mar, sorriso de sol, faziam o rascunho mais que perfeito, da sebenta, que ainda hoje transporto no peito.
O fascínio dos segredos que balbuciamos ao ouvido indiscreto do mundo.
Lembras-te?
Sim, eu sei que já faz tempo, mas são as tuas impressões digitais que permanecem bem vivas.
Se eu pudesse subtrair alguns anos!
Mas o que de mais significativo acontece na nossa vida, só tem encanto uma vez.
O tempo é tão escaço, sobra-nos as memórias!
Sabes, ainda guardo os bilhetes que trocávamos, numa escrita de riscos e sarrabiscos, que facilmente descodificávamos.
Tu gostavas que eu desenhásse com o meu olhar, as palavras, como se de um filme mudo se tratasse.
Tudo é tão fácil quando absorvemos o ADN da amizade.
Os verdes anos de uma aguarela, pintada com as cores da simplicidade e inocência, fazia desta etapa o patamar onde gostávamos que os dias se multiplicassem, e as palavras se fundissem, num vocabulário ainda escaço, e envolto numa timidez, de mostrar os sentimentos muito baralhados, e indefinidos, mas belos.
Começavam os preparativos, para o banquete de desafios para os quais não fomos convidados.
De forma implacável, lançaram-nos para a mesa do mundo.
Sobre ela, uma longa toalha de injustiça, bordada pelas mãos da hipocrisia, presidida pelo tempo.
Personagem de semblante carregado, o seu rosto encortiçado estava vincado pelas rugas da história, cabelos brancos de sabedoria, olhar distante, mãos a transbordar de mundo.
As cadeiras eram feitas de ambição, ostentando a vontade exacerbada de vitória.
O faqueiro, afiado, cintilava de covardia e falsidade.
As travessas de ingratidão, contrastavam com os pratos de egoísmo.
As taças de cristal resplandecente da ganância, deixavam-nos na boca um trago amargo de revolta.
Limpávamos a boca ao guardanapo da mentira.
Foi então que se fez ouvir a voz cáustica e firme do tempo.
Todos que estão há minha mesa serão escravos e prisioneiros dos vossos atos.
A mim só me cabe o papel de observador atento do vosso percurso.
Sou o vosso juiz.
Todos nascem libres, depois cada um escolhe as algemas que o irão aprisionar a vida.
Não esqueçam, o perdão e o arrependimento, são o bálsamo que serve de analgésico, para me curar as feridas.
Sirvo-vos a esta mesa o que de pior a vida tem.
Mas sabem porque o faço?
Porque é perante as adversidades das forças negativas é que adquirem as defesas que vos vão tornar imunes, aos sentimentos e as atitudes ignóbeis.
A chave para um percurso de vida íntegra, reside no caracter e na personalidade que cada um cultiva!



DIOGO_MAR

terça-feira, 12 de novembro de 2013

O AMARGO DOS SENTIMENTOS




Desdobro as palavras, numa ânsia voraz de te encontrar.
A minha vida, tornou-se numa dolorosa imensidão, com as paredes a imanarem o perfume dos nossos momentos longincos, eu sei, mas ainda brotam lampejos de uma saudade demolidora da tua presença.
Rasgo o tempo, em pequenos confetes coloridos para derramar sobre o chão frio da ausência.
Bebo os dias de um só trago, para não degustar o amargo da derrota.
Penteio as flores do meu jardim, onde busco o alento, para procurar sentir-me um vencedor, nem que por um só dia, eu vivesse esse espírito de conquista.
Faço um vou rasante sobre as imponentes árvores que ladeiam a minha casa.
Essas mesmas árvores, que no breu da noite, fazem um estranho e sinistro bailado ao sabor do vento, carregando gigantes adormecidos nos seus braços.
Tenho medo.
Ó cruel saudade!
Assalta-me a memória, os momentos idos de um amor exilado, que o seu encanto se diluiu em desencanto.
Onde estás!
Lembras-te dos momentos de devassa que os nossos corpos testemunhavam, numa louca loucura de enlouquecer?
Tudo se transformou, num atalho escarpado na montanha da solidão.
O meu coração, é retalhado pela incisiva lâmina da faca do tempo.
Jorra o sangue, embriagado pela saudade deste vazio, que me corta a respiração.
As minhas mãos trémulas desafinam as notas do piano adormecido no canto da sala.
A luz da vela empalideceu, como as forças que me vão faltando.
Prostrado na Lage da saudade, suplico ao consílio dos deuses do olimpo, que voltes.
Sou um pássaro que vai escabeceando numa liberdade prisioneira.
As minhas salobras e gretadas palavras salpicam uma atmosfera de ausência.
Vejo à esquina do tempo, mutilado pela melancolia de um regresso adiado.
As janelas da minha casa, são montras indiscretas para um mundo que olho de forma ténue.
Por favor volta!
Abraço as recordações moldadas de incertezas, num horizonte de múltiplas interrogações.
Já só restam, um amontoado de destroços, de um navio outrora de felicidade, despedaçado no cais.
Agora o meu peito, aproado de ilusões, mergulha na penumbra de um marasmo onde me perco.
Quero saber de mim.
Quero acordar, deste pesadelo.
Quero amar, e ser amado.
Vida, porque negas tu tantas vezes o direito ao contraditório?
Não te sentes incómoda na pele de madrasta?
A distância não passa de uma guerra fria, regada por lágrimas, onde não há vencidos nem vencedores!

 
 


Diogo_Mar

terça-feira, 5 de novembro de 2013

AOS PÉS DO TEMPO




Eu, aqui me apresento:
Sou o tempo, o dono do mundo.
Tenho o aos meus pés.
As minhas leis, são irredutíveis e intemporais.
Sou aquele a quem tu vergas a tua vontade, e velas os teus sacrifícios.
Tudo em meu nome.
Umas vezes teu inimigo!
Outras teu aliado.
Confidente dos teus segredos, e desabafos, das tuas lágrimas e sorrisos.
Coabitas um mundo sob a minha voz altiva, e implacável.
Tens pavor de mim, corres contra mim, e dizes que vais lutar contra o tempo, matar o tempo, e queimar o tempo.
Vivo na tua sombra, sou o teu mestre, imponho-te o biorritmo.
O relógio e o calendário são pautas, de uma orquestra, onde eu sou o maestro.
Prestas-me vassalagem, do minuto que nasces, ao que morres.
Imploras-me lentidão, nos momentos de felicidade.
Rapidez, nos momentos de sofrimento.
Quando te derroto, dizes que vais dar tempo ao tempo, ou fintar o tempo.
Eu riu.
Gosto de ver a tua submissão.
Sou déspota?
Sim.
Tens pavor de mim, eu sei.
Mas não vives sem a minha presença.
Sangro ou apago, as cicatrizes que eu desfiro sobre ti.
Chegas a ter saudades minhas.
Sou o alimento gratuito da vida, culpas e desculpas os teus atos, em nome do tempo.
Tu que dominas o mundo, com uma ganancia voraz, desesperas ao veres-te impotente, às minhas mãos.
Tenho-te algemado nos meus braços.
Rastejas aos meus pés, implorando-me que te conceda um empréstimo, para pagares com o tempo.
Eu não sou moeda de troca!
Esquartejaste-me em parcelas.
Dias, meses anos.
Criaste estações, onde eu não paro, só mudo de vestuário.
Impuseste-me, horas, minutos e segundos.
Reduziste-me a uma ínfima partícula, com a ambição de me esmagares.
Entras numa corrida cega e desenfreada, contra o tempo, a conquista dos teus ideais.
Acorda!
Eu sou o autor das vitórias e derrotas, de um caminho tortuoso que tens de percorrer.
Eu sou o tempo, amante da vida, que se perde na história, e não há história sem tempo!

 



DIOGO_MAR

 

sábado, 2 de novembro de 2013

MÃO CHEIA DE NADA




Sentado nesta janela de sacada, repouso o meu olhar sobre o frenesim de uma cidade a contas com o seu norte.
Um bulício de vidas que há muito perderam a sua identidade.
Agora tudo está circunscrito a um vai e vem que as obrigações nos impõem.
Dias que cabem numa hora de uma loucura desenfreada de tudo fazer.
A vida vai passando por nós, sem que disso se dê conta.
Abraçamos o vazio, que nos castiga, como areia fina que nos escapa por entre os dedos.
Tornamo-nos herméticos, ao suco que jorra da saudade, que nos trespassa a alma, e corrói as mais profundas entranhas, do nosso fragilizado corpo.
O marasmo em que mergulhamos é um caminho sem rumo, nem direção.
Somos uma amálgama de incertezas de insatisfações.
Nesta cálida e pardacenta tarde de outono, as tonalidades ficam esbatidas.
O cinzento da atmosfera, e desta granítica cidade, alastra-se aos semblantes agastados e moribundos, de viver uma vida, sem vida.
Nem o sol da esperança ressuscita a vontade de dar cor a tela que nós próprios esborratamos de forma negligente.
A caducidade da nossa vivência afoga-se num mar de folhas que despem as árvores.
Retrato a la minuta onde refletimos projetos de um futuro adiado.
Que nos importa ter tanto e saber, a tão pouco?
Tornamo-nos indiferentes a tudo, e a todos, envoltos numa carapaça de egocentrismo, que nos impede, de olhar para o nosso semilhante.
Já só sopram ventos agrestes e sinistros, da irracionalidade, a que nos esposemos.


 

DIOGO_MAR

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

E TUDO O TEMPO LEVOU


 
Por vezes, dou por mim a rebobinar o filme percorrido até aqui.

São a retrospetiva de episódios que irão ter o seu epílogo.

Uma travessia, dos capítulos de vida, que vou esmiuçando retratando-a, ao fazer esta introspeção.

Nascemos expostos a todos os desafios que a nossa existência nos vai confrontar, como se tratasse do bilhete com o número a sortear pela lotaria da vida.

Se eu, passasse ileso as agruras cáusticas, será que tinha amadurecido, no trilhar escarpado pela erosão do implacável tempo corrosivo e cruel, que por vezes levanta-nos barreiras intransponíveis?

É um verdadeiro e penoso teste as nossas capacidades!

Lembro-me que até aos meus 16 anos, do espirito de conquista que era fazer as marcas na umbreira da porta do meu quarto, vendo orgulhosamente a minha desenvoltura física.

O relógio nem o calendário representavam nada para uma vida que eu próprio comandava.

Ou pensava eu que comandava!

Um ano que parecia infindável, havia-se tornado tão fugaz.

Os dias, meses, anos vestiram-se de volatilidade implantando em mim, uma escravatura a qual eu, estou irremediavelmente confinado.

Os braços do tempo, são como algemas invisíveis, que nos marca a cadência feroz, de metas que nos propusemos alcançar.

Sob o jugo do relógio e do calendário, tornamo-nos robotizados, por uma vida obcecada pela valorização pessoal.

O mundo cego e louco da competição.

Uma verdadeira lei da selva.

O salve-se quem poder.

Aglutinamos num verdadeiro turbilhão, todas as ambições que estabelecemos de forma sôfrega e doentia.

Já não temos tempo, para o tempo.

O relógio e o calendário tornaram-se uns ditadores implacáveis, com voz altiva onde já não cabe o contraditório.

São os nossos carrascos.

Esvanecem todas as estações da primavera da vida, que ilustrava um guião que tínhamos conjeturado.

Resta-nos o outono da nossa vivência, com as suas folhas caducas a deixar-nos um trago de insatisfação e frustração de vida onde o vento parece varrer para bem longe a simplicidade de algo que se tornou inatingível, entapetando as realizações.

Que sabor amargo!

Em suma:

Uma mão cheia de nada!

Agora sou mais um, estandardizado e manietado, para onde me empurram, sem ter poder de escolha, restando-me um nó no peito de angústia.

Olho para as marcas ainda visíveis na umbreira da porta do meu quarto, e sinto uma vontade inconsolável, de regredir aos tempos em que o tempo não tinha tempo para mim.

Ou que eu tinha todo o tempo para ele!

 

DIOGO_MAR