domingo, 3 de fevereiro de 2013

UMA ESPERANÇA ADIADA



A conjuntura económica da europa está mergulhada numa turbulência, que por contágio nos faz sentir na pele todo este efeito dominó, a que estamos expostos.
Este é o grande risco de uma economia encadeada, e porque não dizê-lo assente em grandes grupos económicos que manobram a seu belo prazer as velas do navio.
As convulsões sociais estão aí para durar.
O desemprego leva-nos ao caminho do desespero.
O flagelo da fome é um dado cruel e adquirido, ao qual já não podemos passar indiferentes.
O cinzentismo em que o velho continente mergulhou está a asfixiar famílias inteiras.
E até porque não dizer, dizimá-las.
Desmoronaram muitas das espectativas que acalentávamos.
As estruturas familiares nunca estiveram tão fragilizadas nos seus alicerces.
Perderam-se os valores de auto-estima.
Filhos que passam fome, e que já se viram privados de um ensino superior.
Prostituição consentida e camuflada.
Procura de alimento nos contentores do lixo.
Filas para a sopa dos pobres.
Escolas que servem refeições aos fins-de-semana e férias, para garantirem pelo menos uma refeição diária as crianças.
Mas que raios de europa solidária é esta?
Aqui fica bem presente o elevado grau de hipocrisia de todo sistema politico e financeiro do velho continente.
Os valores materiais suplantam os éticos e morais.
O sonho de uma europa una e patriótica,
Deu lugar a um continente de grandes clivagens sociais.
Os verdadeiros jogos de interesses, cilindram todos e quais queres valores.
Cavou-se um foço, onde imperam os ricos, transformados em abutres,
Que vão engordando a custa dos cadáveres que vão deixando pelo caminho.
Isto é insane.
Entramos numa verdadeira espiral politica do tem que ser.
Mas meus senhores, em vez do tem que ser,
Adoptem o que pode ser.
Porque sabem, há limites.
E os nossos já foram ultrapassados.
Os interesses económicos tornaram-se implacáveis, e até mesmo desumanos.
Já não há pudor nas decisões que tomam.
Afinal os campos de concentração que pensava terem sido abolidos,
Estão novamente aí, e em força.
Com a mesma força e crueldade que lhes conhecemos.
Não há camaras de gás, mas há a morte lenta da fome e da descrença.
Espalhada pelas cidades, Vilas e Aldeias.
Tornaram-nos em lixo humano, acorrentados ao jugo económico-financeiro, de um sistema politico falhado e falido. E desprovido de qualquer sensatez.
Fazem de nós autênticas marionetas aos olhos e nas mãos manchadas e conspurcadas de miséria, que esses senhores se pavoneiam de ter espalhado por vários Países europeus.
Morte a hipocrisia.
Morte aos abutres.
Adeus querida europa, sonhada e desejada!

DIOGO_MAR

domingo, 30 de dezembro de 2012

DE MIM E PARA MIM


Sou uma ínfima partícula de uma aldeia global onde mais que nunca estamos aglutinados e porque não dizê-lo acorrentados a um tipo de sociedade plástica, preconceituosa e consumista.

Vou vivendo o dia, a dia com aqueles que me preenchem o coração e alimentam a alma.

Eles sim, embora diferentes são o complemento do meu ego.

Transmitem-me o equilíbrio, no embalo das palavras, e emoções.

Tenho na minha corrente sanguínea, todos aqueles que sou eu.

Ou eu que sou eles!

Poderá parecer tudo muito estranho, mas no fervor da minha racionalidade eles estão sempre bem presentes.

Os personagens que nasceram e cresceram comigo.

A história que eles me contam a anos, e na qual os encerro, fazem-me sentir mais eu.

Dão-me o alento necessário para enfrentar as agruras de uma vida sinuosa, de desafios constantes, mas com um sabor a vitória, minha, e deles.

Mesmo nas derrotas elas têm um trago a vitória, tal é a nossa cumplicidade, união, e porque não dizer amor.

Esta, é uma loucura saudável, sei que algo enigmática ao mais comum dos mortais.

Para mim nada me importa, vou calcorreando este trilho que me trouxe a mim e aos meus personagens até aqui.

Como nunca prostitui o meu carater e personalidade não vai ser aos olhos conspurcados de uma sociedade ignóbil que me vou vergar.

Por tudo isto solto as minhas amarras e deixo-me embalar pelas ondas do mar, revolto mas fiel e generoso.

Sinto-me um cavaleiro na bruma ao encontro dos meus ideais que são os dos meus personagens.

Adormeço com o embalo das palavras deles.

Sinto-me confortado ao receber tão grandes ensinamentos.

Associado a todos eles a paixão e intensidade com que preenchem a minha vivência, espelham o que de mais fascinante tenho dentro de mim.

Os meus melhores amigos e confidentes, tem nome, tem carater e personalidade.

São diferentes porque nenhum ser é formatado.

Adoro poder coabitar o mundo deles, a casa com eles, as vicissitudes da vida com eles.

Até mesmo decisões tomadas colhendo as opiniões de todos.

Estes são os alicerces basilares onde assentam as mais elementares regras de uma estrutura familiar da qual fazem parte os meus personagens.

E acreditem, não são uma miragem.

As palavras que trocamos, os conhecimentos que partilhamos, a reciprocidade existente entre nós, bem como a lagrima de tristeza ou de alegria fazem deles algo transcendentais.

Aqui ainda se segue o lema, um por todos, todos por um.

Mas para que esta velha máxima se cumpra, há algo de mais importante que nos liga.

Gostarmos de nós próprios, ainda mesmo antes de gostar dos outros.

Havendo estas referências estaremos perante uma sintonia e cumplicidade de profundo conhecimento, e claro está um amadurecimento contínuo.

Brota da minha alma a vontade louca de gritar:

AMO os meus personagens.

Com eles vou continuar nesta minha caminhada de um relacionamento inteligível, onde impera um elevado grau de tolerância para que não exista um conflito interior.

Aqui há sim, um verdadeiro encanto pela vida.

Aqui arde uma fogueira sem fogo.

Aqui ama-se o que parece inatingível.

Aqui dou vida a tudo que gostava de realizar.

Os meus personagens fazem-me ser mais esclarecido, até por vezes mais fraturante, menos consensual para o mundo exterior.

Mas acima de tudo, ser mais eu.

Este enlace de pensamentos e atitudes, bem como de emoções fazem-me viver momentos únicos e indescritíveis.

Gosto de ter este espelho para dentro de mim.

Gosto dos nomes que lhes atribui.

Gosto da melancolia doce ou agreste dos seus olhares.

Gosto dos seus defeitos e virtudes.

Gosto dos seus rostos desenhados por mim.

Gosto das suas palavras cáusticas, ou aveludadas.

Mas sempre fundamentadas e esclarecidas.

Os caminhos que divergem, mas que sempre em uníssono,

Desembocam em algo que nos liga.

O amor, e a união!

Diogo Mar

FELIZ ANO NOVO

O nosso caminho é feito
Pelos nossos próprios passos...
Mas a beleza da caminhada...
Depende dos que vão connosco!

À luz da ciência, a passagem de ano não passa de um limite cronológico, o período de 365 dias e 6 horas da translação, quando a Terra completa uma volta ao redor do Sol.

E a tradição nos permite dar a essa passagem o clima feérico que nos leva a saltar ondas, fazer brindes, vestir o branco, comer sultanas, romã e distribuir louros.

Debaixo das superstições, contagiados pela oportunidade que o novo começo nos dá de recomeçar, talvez seja a hora de mudar. E a mudança brota da consciência para se concretizar na química que nasce da união de coração e mente.

Quem sabe seja a hora de parar de fumar, de recuperar a boa forma, de buscar o novo trabalho, de comprar um carro, encontrar a cara-metade, morar na casa própria...

Mas, melhor seria que, ao mesmo tempo, tivéssemos olhos para as conquistas abstratas, para a renovação dos valores e das prioridades.

Já passou do tempo do ser humano entender que a felicidade não é um bem material, mas um estilo de vida que se adota e se preserva em cada atitude, em cada pensamento, em cada palavra. Demoramos a ver que as mansões de nada valem quando seus ocupantes são incapazes de transformá-las em lares. Desperdiçamos tempo sem perceber que anéis não reluzem sem dedos que os ostentem.

O mundo ainda gira em torno do homem e o homem se perde na vertigem de procurar numa busca desesperada do que só se encontra dentro de si próprio.

Que o ano novo exerça a magia e o poder de nos induzir à reflexão para que, nas entranhas do pensamento e do sentimento, cada um de nós se consciencialize de que o erro que nos beneficia hoje pode ser a cobrança do amanhã em forma de tragédia. Que as pessoas sejam capazes de fazer o bem sem olhar a quem, para receber o bem sem saber de quem. Que o respeito seja a moeda essencial nas relações humanas. Que a ética e a moral sejam práticas rotineiras em nome do bem coletivo. Que o mundo resgate o dom de se reinventar em suas verdadeiras evoluções, sem maquiar as mazelas que nos fazem reféns de sonhos vazios.

A dieta dos relacionamentos está relacionada às impurezas (sentimentos negativos, ódio, vingança, mágoa, inveja, egoísmos, etc.), aos conflitos internos e das relações, do respeito às diversidades, das escalas de valores, o ego como produtor de impurezas em nossa vida.

A dieta dos relacionamentos restabelece a energia do amor. Assim como precisamos eliminar as impurezas que afetam o corpo, precisamos também eliminar as impurezas que afetam as nossas relações, Não deixe que os interesses ou vantagens pessoais governem o curso da sua vida.

Aprendi com uma pessoa o seguinte: "ninguém pode ver os laços que nos unem, mas todos podem ver as intrigas que nos separam”. O ego é o maior produtor de impurezas da nossa vida.

Para se satisfazer ele precisa se alimentar da gordura da realização dos nossos interesses e do açúcar da aparência de quem não somos.

Eu já estou fazendo a minha e sinto-me muito melhor. Que tal, iniciar esta dieta para uma melhor qualidade de vida? Então, comece agora.

Assim, neste NOVO ANO que está próximo de se iniciar
Possamos caminhar mais e mais, juntos...
Em busca de um mundo melhor, cheio de PAZ, SAÚDE, COMPREENSÃO e MUITO AMOR.


O ano se finda e tão logo o outro se inicia...
E neste ciclo do "ir" e "vir"
O tempo passa... E como passa!

Os anos se esvaem...
E nem sempre estamos atentos ao que
Realmente importa.
Deixe a vida fluir
E perceba entre tantas exigências do cotidiano...
O que é indispensável para si!

Tchin tchin.

 

DIOGO MAR

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Um belo texto, que vale a pena ler.

A Obesidade Mental - Andrew Oitke
Por João César das Neves


O prof.  Andrew Oitke publicou o seu polémico livro «Mental Obesity», que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral.
Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna.
«Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada.
Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses.»
Segundo o autor, «a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono.
As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas.
Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada.
Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema.
Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação.»
O problema central está na família e na escola.
«Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate.
Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas.
Com uma «alimentação intelectual» tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada.»
Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma:
«O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. 
A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.»
O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante.
«Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais.»
Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura.
«O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades.
Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy.
Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve.
Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam porquê.
Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto».
As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras.
«Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência.
A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia.
Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo.
Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da civilização, como tantos apregoam.
É só uma questão de obesidade.
O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos.
O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos.
Precisa sobretudo de dieta mental.»

domingo, 16 de setembro de 2012

Homoafetividade: o direito à diferença

O preconceito de início vem da família, pois todas as expectativas sonhadas pelos os pais, como um casamento, ter filhos, ou seja, viver numa sociedade como seres ditos "normais", são ligeiramente quebradas quando a verdade chega à tona, afinal para muitos é impossível obter uma vida "saudável" nesta condição, julgando a homossexualidade como doença e ainda como sinônimo de promiscuidade. Ao buscar-se identificar o conceito de família, a primeira visão é a da família patriarcal, nitidamente hierarquizada, com papéis bem definidos, constituída pelo casamento, com uma formação extensiva. Hoje a família é nuclear, horizontalizada, apresentando formas intercambiáveis de papéis, sem o selo do casamento.
Inquestionavelmente, ocorre o preconceito de terceiros, de forma direta e indiretamente. Ainda que a sociedade se considere heterossexual. O homossexualismo é um fato que se impõe e não pode ser negado, estando a merecer a tutela jurídica, ser enlaçado como entidade familiar. Necessário mudar valores, abrir espaços para novas discussões, revolver princípios, dogmas e preconceitos.
Os grandes pilares que servem de base à Constituição são os princípios da liberdade e da igualdade. Tais enunciados não podem se projetar no vazio, sendo necessária conceber sua eficácia jurídica. A valorização da dignidade da pessoa humana, como elemento fundamental do estado democrático de direito, não pode chancelar qualquer discriminação baseada em características individuais. Repelindo-se qualquer restrição à liberdade sexual, não se pode admitir tratamento desigualitário em função da orientação sexual.
Portanto, se duas pessoas passam a ter vida em comum, cumprindo os deveres de assistência mútua, em um verdadeiro convívio estável caracterizado pelo amor e respeito mútuo, com o objetivo de construir um lar, inquestionável que tal vínculo, independentemente do sexo de seus participantes, gera direitos e obrigações que não podem ficar à margem da lei.
Assim, as uniões estáveis homossexuais não podem ser ignoradas, não se tratando de um fato isolado, ou de frouxidão dos costumes como querem os moralistas, mas a expressão de uma opção pessoal que o Estado deve respeitar. Mais do que uma sociedade de fato, trata-se de uma sociedade de afeto, o mesmo liame que enlaça os parceiros heterossexuais.
Se todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, aí está incluída, por óbvio, a opção sexual que se tenha, estabelecendo que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, consagra a promoção do bem de todos sem preconceitos de sexo.
A mais tormentosa questão que se coloca, e que mais divide as opiniões, é quando se questiona sobre a possibilidade de os parceiros virem a adotar.
Contando com a analogia que o Judiciário deve reconhecer, a união estável, no entanto, tem como inconcebível fazer tal analogia, encontrando-se praticamente fechadas as portas para essa realidade, quem sabe com o propósito de não vê-la e, assim, fazê-la desaparecer.
No Brasil como em outros Países, milhares de crianças estão institucionalizadas em abrigos e orfanatos. A esmagadora maioria delas permanecerá nesses espaços de mortificação e desamor até completarem 18 anos, porque estão fora da faixa de adoção provável. Tudo o que essas crianças esperam e sonham é o direito de terem uma família no interior das quais sejam amadas e respeitadas. Graças ao preconceito e a tudo aquilo que ele oferece de violência e intolerância, entretanto, essas crianças não poderão, em regra, ser adotadas por casais homossexuais.
Será possível que a estupidez histórica construída escrupulosamente por séculos de moral lusitana seja forte o suficiente para dizer que é preferível que essas crianças não tenham qualquer família a serem adotadas por casais homossexuais, ou será que o que todas as crianças precisam é de cuidado, carinho e amor.
Aquelas que foram abandonadas foram espancadas, negligenciadas e/ou abusadas sexualmente por suas famílias biológicas. Por óbvio, aqueles que as maltrataram por surras e suplícios que ultrapassam a imaginação dos torturadores, que as deixaram sem terem o que comer ou o que beber, amarradas tantas vezes ao pé da cama, que as obrigaram a manter relações sexuais ou atos libidinosos eram heterossexuais, não é mesmo?
Dois neurônios seriam, então, suficientes para concluir que a orientação sexual dos pais não informa nada de relevante, quando o assunto é cuidado e amor para com as crianças. Por hora, parece o bastante apontar para o preconceito vigente contra as adoções por casais homossexuais, afinal que valor moral é esse que se faz cúmplice do abandono e do sofrimento de milhares de crianças.
Porém, enquanto a lei não acompanha a evolução dos usos e costumes, as mudanças de mentalidade, a evolução do conceito de moralidade, ninguém, muito menos os aplicadores do direito, podem, em nome de uma postura preconceituosa ou discriminatória, fechar os olhos a essa nova realidade e se tornar fonte de grandes injustiças. Não se podem confundir as questões jurídicas com as questões morais e religiosas.
Uma sociedade que se quer aberta, justa, livre, pluralista, solidária, fraterna e democrática, às portas do novo milênio, não pode conviver com tão cruel discriminação, quando a palavra de ordem é a cidadania e a inclusão dos excluídos. Com isso, acabam cometendo a infâmia pecaminosa, havendo a superação de uma sociedade hipócrita, que se julgam o ideal e acaba por se tornar condenável perante a mesma.
Há também o grande preconceito que provém das religiões. A concepção bíblica vem do preceito judaico de busca de preservação do grupo étnico, e toda relação sexual deveria dirigir-se à procriação.  A Igreja Católica considera uma aberração da natureza, transgressão à ordem natural, uma verdadeira perversão. Considerando uma depravação e uma ameaça à família e à estabilidade da sociedade. A contradição entre os princípios da instituição da Igreja e uma sociedade que respeite a diversidade e a liberdade das pessoas é inegável.
A homossexualidade - tema encharcado de preconceitos, tabus e mitos - acompanha a idéia de que tudo que se situa fora dos estereótipos acaba por ser rotulado de "anormal", ou seja, fora da normalidade, o que não se encaixa nos padrões, visão polarizada extremamente limitante.
Interessante pensar que muitos dos homossexuais repudiam e abominam a prática da androginia. A mulher como mulher. O homem como homem. Em imagens projetadas, parece um conceito demasiado estereotipado, colar o sexo biológico ao gênero. Haja liberdade de escolha, haja criatividade, inventem-se novos conceitos, é apenas preferência estética de cada um, do contrário nada mais é do que os preconceituados preconceituando.
E assim , ao invés de um ponto final sobre este assunto, fica este tema como reticências, visto que este assunto são, em regra, questões de lenta maturação. Com a evolução dos costumes, a mudança dos valores, dos conceitos de moral e de pudor, o tema referente à opção sexual deixou de ser "assunto proibido" e hoje é enfrentado abertamente, sendo retratado no cinema, nas novelas, na mídia em geral.
É do foro psicológico de cada um, uma coisa é o que se vê, outra é o que vai por dentro do ser - humano e os métodos usados para camuflar o que realmente se é, o que se sente, ou então não. É-se e pronto.
Afinal cada um de nós é uma semente livre que pode fazer do futuro um motivo de comemoração.


Juliana Ribeiro Arantes

Psicóloga

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

UM DIA ISTO TINHA DE ACONTECER

Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida. 
 
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações. 
 
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
 
Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
 
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
 
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.
 
Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
 
Foi então que os pais ficaram à rasca.
 
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
 
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.
 
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!
 
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.
 
Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
 
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.
 
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
 
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
 
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
 
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
 
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
 
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.
 
Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
 
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros, e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.
 
E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!
 
Novos e velhos, todos estamos à rasca.
 
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
 
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.
 
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la. Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.

Mia Couto

TANTA VERDADE QUE ATÉ DOI!

Conselho aos Filhos de Portugal

O nosso País visto por alguem do lado de fora


Se és um jovem português,
atravessa a fronteira do teu País
e parte destemido
na procura de um futuro com Futuro
  
Porque no teu País
A Educação é como uma licenciatura
tirada sem mérito e sem trabalho,
arquitectada por amigos docentes
e abençoada numa manhã dominical
  
Porque no teu País
É mais importante a estatística dos números
que a competência científica dos alunos.
O que interessa é encher as universidades,
nem que seja de burros
  
Porque no teu País
A corrupção faz parte do jogo
onde os jogadores e os árbitros
são carne do mesmo osso
e partilham o mesmo tempero
  
Porque no teu País
A justiça é ela própria uma injustiça
porque serve quem é rico e influente
com leis democraticamente pobres
  
Porque no teu País
As prisões não são para os ladrões ricos
porque os ricos não são ladrões
já que um desvio é diferente de um roubo
  
Porque no teu País
A Saúde é uma doença crónica
onde, quem pouco tem
é sempre colocado na coluna da despesa
  
Porque no teu País
Se paga a quem nada faz
e se taxa a quem pouco aufere
  
Porque no teu País
A incompetência política
é definida como coragem patriótica
  
Porque no teu País
 O mar apenas serve para tomar banho
e pescar sardinhas
  
Porque no teu País
Um autarca condenado à prisão pela justiça
pode continuar em funções em liberdade
passeando e assobiando de mãos nos bolsos
  
Porque no teu País
Os manuais escolares são pagos
enquanto a frota automóvel dos políticos
é topo de gama
  
Porque no teu País
Há reformas de duzentos euros
e acumulação de reformas de milhares deles
  
Porque no teu País
A universidade pública deixou cair a exigência
e as licenciaturas na privada
tiram-se ao ritmo das chorudas mensalidades
  
Porque no teu País
Os governantes, na sua esmagadora maioria
apenas possuem experiência partidária
que os conduz pelas veredas do "sim ao chefe"
  
Porque no teu País
O que é falso, é dito como verdade,
sob Palavra de Honra!
São votos ganhos numa eleição
  
Porque no teu País
As falências são uma normalidade,
o desemprego é galopante,
a criminalidade assusta,
o limiar da pobreza é gritante
e a venda de Porsche e Ferrari ... aumenta
  
Porque no teu País
Há esquadras da polícia em tal estado
onde os agentes se servem da casa de banho
dos cafés mais próximos
  
Porque no teu País
Se oferecem computadores nas escolas
apenas para compor as estatísticas
do saber "faz de conta" em banda larga
  
Porque no teu País
Se os teus pais não forem ricos
por mais que faças e labutes
pouco vales sem um cartão partidário

 
Porque no teu País
Os governantes não taxam os bancos
porque, quando saírem do governo
serão eles que os empregam
  
Porque no teu País
És apenas mais um número
onde o Primeiro-Ministro se chama Alice
que vive no País das Maravilhas
mesmo ao lado do teu.