sexta-feira, 15 de agosto de 2014

UMA TARDE NO RIO_HISTÓRIA_2



Preguiço na cama do tempo, como se ele fosse o relógio,

Onde os anos são horas,

Os meses os minutos,

Os dias segundos.

Percorro esse longo e íngreme caminho que me trouxe até aqui.

Vasculho na minha memória passagens que fizeram o meu livro de vida, que vou partilhando no meu blog, em forma de prosa, ou de poesia.

Vai daí, e já estou pronto para vos transmitir mais uma peripécia da minha adolescência, essa idade onde quase tudo nos é permitido fazer.

Só ainda não encontrei a definição correta, já que fico dividido entre:

Puberdade, ou pobre idade lol!

Seja lá como for, é o patamar mais aparvalhado, mas o mais belo da nossa existência.

 

Foi numa tarde, sob um sol escaldante, que castigava o alto Douro, como de resto é normal no pico do verão, que fomos até ao rio.

Era sempre assim, quando a temperatura, nos convidava a uns bons mergulhos, Naquele belo espelho de água, que banha aquela região.

Nós não nos fazíamos rogados.

O rio Douro, é o nosso ex-líbris da paisagem, parece que joga ao esconde esconde, por entre vales e montanhas, assim, como chama a si, a responsabilidade, por aquele microclima que disfrutamos naquelas paragens.

Ténis, calções, t-shirt e boné montados nas nossas bikes aí estávamos nós prontos para uma tarde de grandes emoções.

Eramos seguidos de perto pelo Dique, o meu Cão, que estava eufórico porque já sabia onde íamos, pela direção que estávamos a tomar.

Tenho que reconhecer, que vestir um fato de pelo, em dias de calor não devia ser nada agradável.

Por isso, toda a sua alegria desconcertante e trapalhona.

Tínhamos que o reprender por vezes, já que se atravessava por entre as bicicletas, atentando a nossa integridade física.

 

Vá, Dique, calma!

 

Repreendeu o André.

O caminho foi-se estreitando, seguíamos em fila indiana, o cão tomou a dianteira do pelotão.

Quanto mais nos aproximávamos, mais ele corria, língua de fora arfava com intensidade, agitando a cauda.

Íamos em roda livre, aproveitando a inclinação do traçado, que serpenteava os vinhedos.

As nossas narinas eram inundadas pelo perfume do mosto, sinal de uvas boas e maduras.

Eis chegados.

Encostamos as bicicletas, tiramos os ténis, as t-shirts e os bonés, e lá vai disto.

O Dique já estava todo encharcado.

Ladrava, expressando toda a sua alegria, parecia dizer que a temperatura da água, estava boa.

Claro está, provocando-nos para as brincadeiras que sempre fazemos com ele.

O Daniel e o André, foram os primeiros a lançarem-se a água, imediatamente seguidos por mim, o Rodrigo e o Rafael.

Sabíamos, dos cuidados que tínhamos de tomar, já que 3 anos antes, um rapaz de uma aldeia vizinha, tinha morrido afogado num local mais acima.

Daí a nossa atenção.

Embora, todos nadássemos bem, mas de heróis está o cemitério cheio.

Entre braçadas piruetas e brincadeiras com o Dique, a quem lançávamos um pau, e logo ele se atirava a água para o ir buscar.

Levamos uma bola, para darmos uns toques.

Estavam reunidos todos os requisitos para uma fantástica tarde de verão.

Não demorou, que mais gente chegasse.

O rio, era um ponto de encontro de diferentes gerações, nos dias quentes.

Não tínhamos que nos preocupar com os nossos haveres, já que dessa tarefa o Dique se encarregava.

Ninguém estranho ao nosso grupo, ousava aproximar-se do sítio onde estavam Os nossos pertences.

Tomava conta de tudo e até de nós.

Quando eu, ou o Rodrigo nos afastávamos mais da margem, ele ficava nervoso, ladrava freneticamente, como se nos estivesse a repreender.

 

Diogo, e Rodrigo, não nadem para longe, o cão não se cala!

 

Pedia o Rafa.

Nós era-mos profundos conhecedores daquele local, mas não fosse o Diabo tecê-las.

Regressamos ao perímetro em que o Dique nos consentia estar.

 

Vá, tem calma já cá estamos meu lindo.

 

Disse-lhe o Rodrigo.

Cobria-nos de lambidelas de satisfação, por nos ter de volta.

 

Diogo, ao teu cão, só lhe falta falar!

 

Diziam os outros rapazes, que foram chegando.

Fizemos um joguinho de futebol, e rematamos com mais um bom e reconfortante mergulho.

Amarramos as t-shirts aos guiadores das bikes e começamos a pedalar para casa, disfrutando daquela frondosa paisagem em anfiteatro que a natureza nos oferecia.

Fizemos uma paragem junto de um pessegueiro onde comíamos os mais saborosos e suculentos pêssegos.

Ao longo do percurso, fomos colhendo algumas amoras e uvas, das quais eramos apreciadores.

O que na ida para o rio era fácil, já que íamos quase em roda livre, agora tínhamos que pedalar com afinco.

Em alguns pontos, o caminho tornava-se bastante sinuoso.

 

Já dava outro mergulho Diogo!

 

Dizia o Rafa.

 

Até eu, retorquiu o Daniel.

 

Mesmo em tronco nu, o calor castigava.

Quando chegarmos a minha casa ligo a mangueira sugeri eu.

 

Diogo, tenho melhor ideia.

 

Qual André?

 

O meu Avô, tem o tanque cheio, para regar mais logo, por isso podemos lá ir dar um mergulho.

 

Boa, isso mesmo.

Bora lá, só vou a casa, deixar o Dique, e vou lá ter convosco.

Abri o portão fronteiriço, para o meu cão entrar.

Ele estava sequioso, e cansado.

Fiz-lhe uma festa, e segui viagem para casa do Avô do André, o Sr. Fonseca, um senhor muito simpático, de quem todos nós gostávamos.

 

Então rapazes, não chegou o banho no rio?

 

Quando se chega aqui acima, já temos de tomar outro banho.

Respondeu-lhe o André.

 

Temos por arte mágica, inverter a posição do caminho!

 

Gracejou o Rodrigo.

 

Pois, para baixo todos os santos ajudam, o pior é na vinda.

Mas vocês são novos e valentes!

Vá divirtam-se.

 

Obrigado Sr. Fonseca.

 

De nada Diogo.

 

Se quiserem comer, tu André, conheces os cantos a casa, e a tua Avó prepara-vos um merendeiro.

 

Ok, Avô, obrigado.

 

Não viemos para aqui, para dar trabalho, disse-lhe eu.

 

Ora essa, Diogo mas que trabalho que carapuça.

Gosto de vocês, e são amigos do meu neto.

Em minha casa, os amigos são sempre bem-vindos e bem recebidos!

 

Esta é a bandeira, que define as gentes Alto-durienses, serem amigas do amigo, e hospitaleiras.

 

Até logo rapazes.

 

Obrigado, e até logo, dissemos nós em uníssono.

E agora, 1 2 3!

Mergulhooo!!!

 


DIOGO_MAR

2 comentários:

  1. Oi Diogo
    Que sumida tu deste!
    Meu cãozinho também chamava Dique, morreu de câncer, tadinho
    Belas reminiscências dos tempos de meninos
    Beijos
    Lua Singular

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  2. Uma infância/adolescência bem presente e narrada.

    Saudades...não?


    Beijinhos

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