domingo, 2 de novembro de 2014

AS CINZAS DOS DIAS



Dedo em riste, palavras de ferro incandescente, jorrado à tua altivez faraónica, arrasto-me feito restolho, pelos ventos agrestes e sinistros que pela noite cantam.

As paredes febris transpiram lágrimas envenenadas pela solidão.

A janela indiscreta é a montra para o abismo, de um mundo infame e sem norte, num bulício frenético, ébrio de desalento, que devora sôfrego e alarvemente o egocentrismo.

Os valores submergem num oceano de águas cruéis salgadas pela indiferença.

Perdemo-nos, na metamorfose da penumbra de becos lamacentos, onde reina a obscuridade.

Não sei de mim!

Este labirinto existencial, de relutância na aceitação de uma sociedade efémera e petrificada pela escravatura do materialismo, asfixia as minhas referências tornando-as moribundas na minha memória.

Sinto-me perdido!

Terra, faminta e carente, pelo fertilizante do verdadeiro altruísmo, regada com a dignidade.

Alma cega

Coração de pedra

Lábios de chumbo

Sociedade em delírio, acorrentada e vergada ao jugo da superficialidade e da fachada, onde não cabe a verticalidade e carater.

Encerro a janela indiscreta, tranco-a com os ferrolhos lúgubres e corro a cortina do desencanto.

Lá fora, o mundo em ruinas, vegeta de forma penosa, venerando exuberantemente o egoísmo no crepúsculo do desalento.

 

 

Diogo Mar

6 comentários:

  1. Gostei muito e a música foi muito bem escolhida

    :)

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  2. Um texto profundo e muito bem escrito.]
    Adorei. Musica e video perfeito
    para ocasião
    beijos

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  3. Textos com temas e palavras marcantes, e boas opções musicais...
    Vou tentar passar por aqui, sempre que puder...
    Excelentes opções por aqui.
    Abraço
    Ana

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  4. Um texto escrito com palavras bem marcantes, profundas e que talvez saíram do mais recôndito do seu Ser. Gostei de ler ! Ah, também gostei da musica. Parabéns amigo, jinho

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  5. É raro encontrar na blogosfera uma escrita tão profunda acerca dos tempos actuais, e acerca dos valores que têm vindo a tornar-se raros, numa sociedade apostada no egoísmo e vaidade, e como tal só pode transpirar desalento.
    Muito bem escrito! E bela música, também, Diogo.
    Boa semana!
    xx

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  6. Está traçado o perfil da sociedade em que vivemos e subscrevo as suas palavras.
    Quero agradecer o seu comentário, a pertinência do que escreveu é cúmplice com a minha forma de pensar e agir....e por incrível que pareça, vi o seu "retrato", em acerca de mim.... e sinto-me retratada também!
    Parabéns por esta apresentação!
    PN

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