sábado, 21 de fevereiro de 2015

GRITO



É na cálida noite, inundada por ventos mestiços, com o perfume a áfrica, que dou por mim, na encruzilhada de uma selva obscura, emparcelada na terra estéril do nada.

Sustento todos que de mim se servem, sobrando eu, transformado em restolho.

Ó chão entapetado pelas cinzas que rastejam sem norte.

Calcorreio, este penoso caminho, dos dias lúgubres vestidos de falsas ilusões, relegando-me, para um labirinto existencial.

Estou perdido.

Sufoco dentro do meu peito trucidado, o ser que não sou.

Digo sim ao não.

Digo não ao sim.

Resta-me ficar, confinado a uma ínfima partícula, da minha essência, nas estrias melancólicas da memória.

Adultero os atos e as palavras, imponho um garrote à vontade, hipoteco o presente, algemo o futuro.

No desfiar dos dias e anos, tudo mais longe e impessoal se torna.

Procuro-me nesta selva moribunda, onde não me encontro, transportado nas asas de uma monção, de Desejos e ambições.

Retrocedo no tempo ao encontro de momentos longínquos onde matei a cede de mim.

Metade loucura, metade racional, mas era eu!

O quanto anseio, por cobro a esta guerra fria, corrosiva e desesperante, num adiamento sem prazo.

Livro escrito pelo avesso, de enganos e mentiras, capítulo inacabado, história segredada de mim e para mim, rascunho sincopado, no esboço que só eu sei decifrar.

Sobra uma substância envenenada de crueldade, em erupção asfixiante e reprobatória, ostentando uma carapaça de valores, normas e regras padronizadas e acusatórias, onde a tradição bolorenta é a máscara dos imbecis.

Quem Ousa chamar-me de louco?

Despe a covardia, e logo encontrarás, um ser acorrentado as imposições, das doutrinas aglutinadoras.

Onde mora a felicidade?

Exausto, sinto-me uma amálgama a flanquear a saudade moribunda e órfã a perder-se, pelas ameias do desencanto.

 

DIOGO_MAR

7 comentários:

  1. A maneira como início o texto é absolutamente incrível. Adorei tudo o resto!

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  2. r: É sempre bem-vindo :)
    As palavras e as fotografias são ótimas para eternizarmos momentos e depois voltarmos a eles quando quisermos. Obrigada!

    Beijinho*

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  3. Este texto é pura poesia!
    Onde está a felicidade?...A pergunta que todos fazemos, e tantas vezes não encontramos resposta.
    E que bela música de fundo!
    Tudo bom! Boa semana, Diogo.
    xx

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  4. Boa tarde, Texto maravilhoso, a felicidade é relativa, o que é para um, pode não não ser para o outro, nunca sabemos se vivemos a felicidade total ou parcial.

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  5. Mais uma vez, um excelente texto, Diogo!
    De vez em quando, há que fazer mesmo estes balanços, entre o passado e o presente, para se reflectir, até que ponto, a vida colocou um garrote, e sufocou as ambições, projectos, sonhos e vontades...
    Há que perspectivar tudo... analisar o que se ganhou, ou perdeu durante o processo... para que não se algeme o futuro... como o Diogo tão bem diz...
    Fantástico este texto!
    Adorei este grito de revolta! De basta!... Realmente não podemos sentir sede de nós mesmos...
    Ainda estarei a dever alguns comentários por aqui, e no seu novo blogue... Conto vir amanhã ver o que ainda estou perdendo...
    Bjs. Continuação de bons trabalhos, Diogo...
    Ana

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  6. Todos temos direito a "gritos", Diogo e eu senti-os...
    Parabéns pelo texto. Gostei imenso.
    E, sabes, os amanhãs são sempre diferentes...
    Bjo :)

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