quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

ASSIM VAMOS AQUI PELO BURGO

Há quem passe a vida a apontar o dedo aos imigrantes como se fossem eles a causa de todos os males do país. É a conversa de sempre: “roubam-nos os empregos”, “aceitam tudo”, “estragam o mercado de trabalho”. Mas a verdade, nua e crua, é bem mais simples — e bem mais incómoda para quem vive de espalhar este veneno.


Os imigrantes não criaram a precariedade. A precariedade é que cria o terreno perfeito para explorar quem chega sem rede, sem apoio e muitas vezes sem alternativa. E enquanto houver patrões prontos a pagar salários de miséria, haverá sempre alguém — português ou imigrante! — empurrado para aceitar essas condições porque a sobrevivência fala mais alto que a demagogia.


O problema nunca foram os imigrantes.

O problema são os salários de miséria que tornam qualquer trabalhador substituível, descartável, vulnerável.


Quem ataca os imigrantes para disfarçar esta realidade está a fazer o jogo dos exploradores. É tapar o sol com a peneira. É gritar contra quem está mais abaixo em vez de enfrentar quem está em cima a puxar os cordelinhos, os abutres.

Salários justos, salários que permitam às pessoas recusar humilhações, recusar contratos de fantasia, recusar “favorzinhos”, recusar ser mão-de-obra barata. Salários que elevem o padrão e fechem a porta à lógica de “quem vier aceita”.


Quando o salário é digno, o trabalho deixa de ser um privilégio frágil e passa a ser uma escolha.

E quando o trabalho é uma escolha, ninguém pode ser explorado — nem quem cá nasceu, nem quem veio procurar vida melhor.


É isto que os vendedores de ódio nunca dizem: a exploração não tem nacionalidade, mas a solução também não. A solução é estrutural e chama-se justiça laboral.


Atacar imigrantes é fácil.

Lutar por salários justos é que dá trabalho — e é por isso que tanta gente prefere espalhar medo a enfrentar o verdadeiro problema.

Nunca os empresários de praticamente todos os ramos, ganharam tanto dinheiro à custa da exploração criminosa  da fragilizada mão de obra de imigrantes. Nunca os senhorios ganharam tanto dinheiro como ganham atualmente à custa do autêntico roubo que cometem junto de imigrantes perdidos e desorientados. É um escândalo nacional, é uma vergonha. Atacar o pequeno e desamparado, naturalmente que é mais fácil, deixando o tubarão a reinar alarvemente cada vez mais altivo, possessivo, impune e gordo.

Este é um regime político covarde, que só vê aquilo que lhe interessa.

Tal como a justiça, é forte com os fracos... E muito fraca com os fortes. Mera hipocrisia política.


Diogo_Mar

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