terça-feira, 21 de outubro de 2014

AURORA DA SOLIDÃO




Aqui fica mais um post deste jovem promissor, que me orgulho de ter como amigo e apadrinhar o seu talento.




Fazer o que ninguém faz, saber o que ninguém sabe, querer o que ninguém quer, o que me leva isso? A nada! Leva-me à solidão perene e constante, leva-me à companhia da minha individualidade, do meu próprio pensamento. Tantas gerações de mestres, como Da Vinci e Einstein que sofreram o mesmo, criando frases bonitas para ilustrar esta falta de ligação, esta solidão, mas nenhum deles foi capaz de encontrar termo para isto. De que te serve uma cidade com 1 milhão de habitantes, um mundo com 7 mil milhões de pessoas e passares por elas todos os dias, se nunca te sentes mais do que tu próprio? Nunca aceitas completamente que os outros vivam, porque não tens perceção da sua existência, não há ligação entre mim e o outro, e mesmo as emocionais se esfumam com o tempo, quando choras por alguém, choras pela sua ausência, ou pelo impacto que essa pessoa tinha em ti, NUNCA por ela própria, pela sua existência pura e simples. Só existo eu no mundo, nada para além de mim existe, nada para além de mim realmente pode ser sentido de forma tão completa e absoluta como eu. E é essa a fonte do meu desentendimento com o mundo, eu que me tento entregar, me tento dar a conhecer, a sentir, desprezo o facto do mundo não o fazer. O mundo humano, a natureza dá-se, a natureza quer ser compreendida, aceite, sentida, o homem fica-se pela aceitação. E eu não quero ficar sozinho, sinto angustia pela solidão que esta noção clara e distinta da existência de todas as coisas, desta noção camusiana* estendida à própria e total existência. E depois há o desejo, o desejo de conhecer mais existência, de consumir a personalidade dos outros, de uma forma capitalista, onde o que interessa é compreender o que eles são, como são e porque são, e após isso, deitar fora e consumir novo, esta ansia de conhecer, controlar e dominar os outros, como extensão da minha própria possível personalidade, aprender as suas formas de pensar e usá-las a meu bel-prazer, como se eu fosse uma entidade sugadora de almas, apta a reproduzir toda e qualquer personalidade recolhida. Esta tentativa ininterrupta de ser omnisciente, pára por vezes, pois é cansativa, mas é também necessária, é indispensável ao meu equilíbrio mental e emocional esta materialização da mente dos outros. Neste momento sinto ser indispensável o contacto com nova gente, comunicação, talvez também pela mera comunicação, tentativa inábil de fugir a esta solidão quase camusiana*, mas também, pelo desafio e prazer do naturalizar das mentes humanas, tornando-as alvo de compreensão, aceitação e sentimento, como se a compreensão automática dos seus meandros (como a compreensão imediata da personalidade de um dado ser, através dos meros trejeitos do seu corpo) fosse um teste, um jogo deste caminhante da omnisciência.



Cláudio Macieira

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