sábado, 11 de abril de 2015

UM DIA NA FEIRA HISTÓRIA_14



Um dos meus roteiros preferidos, era ir a feira com os meus Pais.

Gostava de respirar aquele ar, carregado de múltiplos aromas.

Juntando a tudo isto, toda a variedade de produtos, bem como o colorido e pregões que se ouviam, misturados com conversas fragmentadas, e saudações efusivas e calorosas, emprestava-lhe uma grande singularidade.

Era o ponto de encontro de gerações oriundas de várias paragens do concelho, de todos os estratos sociais.

Nós já estávamos familiarizados com os feirantes, e os artigos que vendiam.

Claro está que eu tinha uma grande preferência pela dona Carlota, que vendia uns doces caseiros maravilhosos.

Era uma personagem pitoresca.

Gordinha, faces rosadas, olhar terno, vestia um avental de cores garridas bem alegres, com um grande bolso onde estava bordado (Doces da Carlota).

Além de simpática, nutria por mim um carinho muito especial, vá-se lá saber porquê!

Era dotada de uma longa e farfalhuda bigodaça que fazia inveja a muitos homens.

Eu que nunca fui dado a beijos, naquele momento sentia-me feliz por tal facto, pois não gostaria nada de me sentir beijado por uma boca encaixilhada em tão másculo bigode.

 

Ó meu amor, estou a pôr dois bolinhos a mais para comeres na viagem.

 

Não o estrague com mimos dona Carlota, disse a minha Mãe sorrindo.

 

A agora!

Uma coisa tão bonita tem de ser mimada.

Só é pena que seja por uma velhota.

Não é Diogo?

 

Corei e sorrindo agradeci-lhe.

 

De nada meu amor, dei porque quis.

Voltem sempre, gosto de saber que estão bem.

 

Seguimos viajem, a lambuzar-me com um daqueles bolos deliciosos.

Os meus Pais olhavam para mim e riam.

O que foi?

 

Diogo, limpa a boca e o nariz. Já tens farinha do bolo por todo o lado.

 

Comia com tanto entusiasmo, que o meu Pai gracejou dizendo:

 

É pá, até parece que não comes há 15 dias!

 

Pois, mas o que é doce nunca amargou, não é filho?

 

Respondeu-lhe a minha Mãe.

 

O meu Pai acercou-se da barraca do Claudino, mais conhecido por spock, já que as suas orelhas eram avantajadas.

Ele vendia sementes e utensílios diversos para jardinagem.

 

Diogo, não (bulas) mechas nisso, podes-te cortar na lâmina, recomendou-me ele.

 

Íamos caminhando a desfrutar da magia de toda aquela panóplia de produtos, cheiros e pregões.

 

Ó freguesia, olhem calças, é (pró) para menino, e (prá) para menina!

Ó riqueza, não quer calças para o menino?

São da moda!

Olha que calças bonitas meu amor!

Não gostas?

Tenho mais modelos!

E são de marca!

 

Não, obrigado não quero.

 

Hoje não, acrescentou a minha Mãe.

 

A dona Natália valia-se dos seus dotes vocais para se fazer ouvir.

Ó freguesia!

Olhem o (pijame) pijama barato, para ter sonhos cor-de-rosa!

 

Achava piada ao tratamento dos feirantes para com os clientes.

Ó riqueza, ou ó meu amor.

As vozes misturavam-se com o megafone do Sr. Augusto que leiloava jogos de cama, e atoalhados.

 

Quem dá mais?

É a última oportunidade.
Ninguém dá mais?
Fica para aquele cavalheiro.


Depois tínhamos a banca do Sr. Jorge que vendia cassetes e cds com uma enorme variedade de estilos musicais.

 

Olhe!

Ó senhor!
Tá a ouvir!

(Bote) coloque a tocar o Quim Barreiros!


Sugeria uma transeunte.
Era um barulho diversificado, mas ao mesmo tempo agradável, pela beleza que emprestava ao recinto da feira.

Naqueles dias a vila ganhava outra vida, tinha um bulício que em circunstâncias normais não acontecia.

Estávamos nós a passar junto dos vendedores de galinhas, quando uma delas fugiu, esvoaçando em direção a uma senhora assustando-a, que por sua vez, me abalroou.

Quase me deitava por terra.

Agrediu-me com os seus longos e avantajados seios.

 

Magoei-te?


Não!


Desculpa meu amor!
Diabos levem a galinha!

 

Não faz mal, disse eu, a recompor-me daquele episódio.

Olhei para os meus Pais que disfarçadamente riam, a bom rir, principalmente o meu Pai.

 

Tem uma piada?

O meu desabafo ainda estimulou mais as gargalhadas do meu Pai.

 

Deixa lá filho, já passou, dizia a minha Mãe, ao ver-me com uma expressão de aborrecido, e envergonhado.

 

Aqueles personagens de aventais coloridos e a irradiar alegria exerciam sobre nós um verdadeiro contágio, ao qual não podíamos ficar indiferentes.

Os meus Pais lá foram comprando os artigos que precisavam, cujos preços fossem convidativos.

Eles sabiam regatear com os vendedores o custo dos produtos que pretendiam adquirir.

Principalmente a minha Mãe que esgrimia todos os argumentos para poder comprar o mais barato possível.

Estava ali bem patente o instinto de dona de casa, saber gerir é uma virtude, e a minha Mãe tem-na.

Entre saudações do meu Pai a várias pessoas, já que era bastante conhecido na vila, bem como a minha Mãe, eu, também ia encontrando colegas de escola, e até mesmo professores e funcionários.

A feira, não há dúvida, que mais se assemelha a uma peça de teatro, onde os atores são os vendedores, e nós os figurantes.

É um local de convívio e de alegria, assente na mais perfeita reciprocidade de quem vende, e quem compra!

 

DIOGO_MAR 

5 comentários:

  1. É um local onde tudo pode acontecer, e são essas histórias que nos marcam para sempre.

    Bom fim de semana*

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  2. Feiras, encontro multifacetado com a Vida.



    Abraços



    SOL

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  3. Passando por aqui, só para o cumprimentar, Diogo! Estive alguns dias fora, e ainda não tive tempo suficiente para, com calma, apreciar o seu texto, convenientemente.
    Assim que tiver mais um tempinho... cá estarei novamente!
    Beijos. BFDS
    Ana

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  4. Efectivamente, as feiras, serão sempre um lugar encantado, barulhento, diversificado, de descoberta e divertimento, no espírito dos mais novos...
    A vivacidade de tal ambiente, passou na integra, através das suas palavras, Diogo!
    Excelente descrição e texto!
    Abraço!
    Ana

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  5. Sempre apetecíveis estes relatos, Diogo!
    Claro que me (re)vi nesta feira!
    Eu ainda sou do tempo em que ficava especada a ouvir as histórias de faca e alguidar, ditas por uma senhora (tentando, ao mesmo tempo vender o "folheto"), sempre acompanhada pelo marido (suponho eu) que tocava acordeão...
    Bjo, amigo :)
    (Partilho do teu bom gosto musical)

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