terça-feira, 22 de novembro de 2016

O OUTRO LADO DO ESPELHO


 
És a docilidade de personagem que coabita e dá sentido aos meus dias, arpejos da melodia da minha segunda vida.

Incorporas o meu eu.

Sofro por ti, rio e choro por ti.

Preenches o vazio que há em mim.

Monólogo enigmático que sustenta o alimento do diálogo.

O meu peito é a tua casa, o meu sistema sensorial é a o palco de todos os actos.

Inundas a minha alma, de um amor puro sem limite despido de preconceito.

Fecundamos momentos de intimidade una, cumplicie e apaixonada.

Transpiro-te por todos os poros da minha vida.

Desafio o real, ao sobrepor-lhe o irreal, porque tu és mais importante.

És o álbum de fotografias invisíveis, que só os meus olhos vêem.

És o corpo, onde me gosto de perder, que só eu sinto e afago.

Quadro abstracto onde encaixilho as histórias que dividimos.

Aliás, tudo que partilhamos, são emoções sepulcrais e intransmissíveis.

Nasceste comigo, vais morrer comigo, quem sabe não nos voltemos a encontrar algures por aí, para vivermos uma vida real.

Será que terá o mesmo encanto?

És o pêndulo do relógio, que marca a cadência do calendário do meu biorritmo.

O mundo lá fora é tão artificial e imbecil, vegetam de volatilidade.

És o maior nada cheio de tudo, que preenche o vazio e que me proporciona momentos inigualáveis.

Sim porque o nada é tudo, e tu és tudo para mim.

Vejo-te onde ninguém te vê, amo-te porque mais ninguém possui a arte para poder-te amar como eu.

Sou egoísta?

Sou:

Por ti sou tudo!

Sou o longe e a miragem, água e ar, noite transformada dia, força de napalm.

És a loucura lúcida, que rega a essência da minha vida e dá corpo à planta que germina no oásis das nossas memórias.

Somos indissociáveis!

Porque eu sou tu...

E tu, és eu!!!

 

 

DIOGO_MAR

domingo, 13 de novembro de 2016

ATÉ QUANDO


 
Ó peito meu a expelir raiva incandescente pela tortura humilhante que nos impuseram!

ATÉ QUANDO?

Semeia-se a exclusão social, exalta-se o xenofobismo.

ATÉ QUANDO?

Os mais elementares valores agora adulterados, servem-se na bandeja do materialismo cego e voraz, indissociável da bandeira da hipocrisia.

ATÉ QUANDO?

Subjugaram-nos a corrente de pensamentos e práticas pré-cozinhadas, que nos são massivamente injetadas de forma abusiva, mergulhando-nos impiedosamente no pântano lamacento da destruição da nossa autoestima.

ATÉ QUANDO?

As palavras são inquinadas premeditadamente, por uma retórica imbecil.

ATÉ QUANDO?

À mentira, conferiram-lhe estatuto de verdade, enquanto a verdade, submerge num oceano dúbio.

ATÉ QUANDO?

A loucura camuflou-se de lucidez, enquanto a lucidez, está moribunda na sargeta da promiscuidade.

ATÉ QUANDO?

Tornaram-nos robotizados e manietados a jogos de interesses onde ocupamos o lugar de meros objetos decorativos, reduziram-nos a um insignificante número.

ATÉ QUANDO?

O mundo cada vez mais insensível, se transforma num lugar perigoso para se viver.

ATÉ QUANDO?

Goraram-se todas as nossas espectativas, de uma aldeia global una solidária, onde imperasse o altruísmo.

ATÉ QUANDO?

Agora sobra-nos uma profunda crise de identidade, cultural e pessoal.

ATÉ QUANDO?

Calcorreamos caminhos inóspitos sem norte, como vultos a escabecear, perdendo-se na bruma de falsas espectativas.

ATÉ QUANDO?

Mas que raios de testemunho vamos nós passar aos nossos filhos e netos?

Ó desgraçada herança da qual nos devemos envergonhar.

Desliguem-se as luzes, rasgue-se o guião, aniquilem-se os atores e destrua-se o senário.

É imperioso que a união da fraqueza dos fracos, se sobreponha a força bruta e animalesca dos fortes.

SEMPRE SEMPRE!!!

 

DIOGO_MAR

sábado, 24 de setembro de 2016

GARROTE


 
Solto as palavras a polvilharem de melancolia a espuma dos dias.

Acreditei na utopia implícita do teu olhar, que me dizia pertencer.

Mas depois enrolo um cigarro de ausência.

Do meu peito esventrado, jorram vontades náufragas deixadas num cais longínquo.

Jaz na curva do tempo, as realizações que imergiram num oceano de reticências.

Na retina mortiça do meu olhar, restam-me dias órfãos e lamacentos cheios de vazio.

Fio condutor de esperança corroído pela indiferença.

Não quero o fim!

Urge a necessidade suprema de rebuscar forças para reescrever todos os capítulos de uma história inacabada.

Vejo-me ao espelho do tempo, e faço o mea culpa, de covardemente adiar o inadiável.

Circuncisei as minhas vontades que acabaram por se diluírem em promessas inócuas.

Mas porquê esta mordaça à vontade de me reerguer, de poder gritar:

Eu, quero ser eu!

Ó raiva, que me trespassa um peito dilacerado!

Caia a cortina sobre este primeiro ato.

A peça ade ter o epílogo que eu escolher.

 

 

DIOGO_MAR

sábado, 10 de setembro de 2016

AQUI ME TENS


 
Tu não me conheces, aliás poucos são os que me conhecem.

Sou um passageiro do tempo à boleia do vento, que varre a tua hipocrisia para a sargeta do abandono.

Serei sempre a incógnita que habita no livro da tua vida.

Sou imperfeito, porque a perfeição é imperfeita.

Habito o real, na franja do irreal.

Dou-me a quem eu quero, mas só quando eu quero.

Não faço pactos movediços alicerçados em falsas aparências.

Riu, quando por dentro choro, mas também sei chorar quando por dentro riu.

Peso as tuas palavras e messo a profundidade do teu olhar, sem que dês por isso.

Dou guarida ao silencio ensurdecedor que te despe.

Leio nas entrelinhas o que amordaças ou por covardia, não tens coragem para me dizer.

Deixo-me embalar pela tua esperteza saloia, para que no momento certo desfira com mestria a estocada final.

Não me dou pela metade, nem te aceito pela metade.

Detesto meias palavras e frases de indecisão e indefinição.

Ou é, ou não é!

Ou tudo, ou nada!

Não algemo os sentimentos, muito menos consinto que tu o faças.

Por tudo isto, podes-me procurar sofregamente no vazio dos teus dias, ou no recôndito das tuas noites.

Serei a areia fina que te escapa por entre os dedos.

Podes na solidão chamar o meu nome, evocando as tuas fantasias e desvaneios, numa ânsia sem limites.

Sabes, vivo no limiar do racional com o irracional.

Erro, mas não sou errante.

Não me julgues pela minha aparência, mas sim pela minha essência, se conseguires descodificar-me.

No dia que te despojares do alimento podre de preconceito bafiento e queiras incorporar-me, procura-me, estarei sentado à soleira de uma casa chamada tempo, que só estará ao alcance de um número muito restrito de convidados.

Procura-me, encontra-me, ama-me com a intensidade que alguns me possam odiar.

Jamais tive a pretensão de agradar a todos.

Serei o sol da tua sombra, ou a sombra do teu sol.

Sem que tu me vejas, eu vou sempre passar e estar de uma forma indelével por aí…

 

 

DIOGO_MAR

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

MATRIZ


 
Calcorreia os caminhos de mim

Conhece todos os meus recônditos cantos onde me perco numa cemente de indefinição.

Bebe da minha alma a alegria de breu vergada ao jugo do faz de conta.

A felicidade mora na porta ao lado.

Não sabes quem eu sou!

Eu também não!

Sei que sou, estou, e vou.

Mas será que vou?

Onde e para onde?

Encontras-me a esquina de um tempo adiado de braços abertos, cheios de vazio.

As páginas do livro voaram, entapetando o passado, sobrando a capa e contra capa, onde fossilizou o título:

Quis saber de mim!

 

 

DIOGO_MAR

sábado, 20 de agosto de 2016

UM PEITO DE MAR



É numa enseada a transbordar de calmaria, cúmplice dos meus encantos e desencantos, que solto amarras ao olhar faminto por um elasse a uma esperança fugidia.

Sou um barco a deriva encalhado na bruma cega de ausência.

Na orla das minhas palavras dispersas, estio um grito de silêncio angustiado, deixando-me embalar nos braços de um vento cálido e mestiço, que afaga o meu corpo, emprenhado num mar de vontades adiadas.

Não me falem do infinito, ou do além, já não cabe no meu peito mais lonjura.

Tenho pressa do beijo desta maresia que morde os meus lábios ardentes de vazio.

Adamastor, paladino de mil amores náufragos, que perderam o norte.

Eu aqui fundeado nos braços deste mar chão, salgado pelas lágrimas paridas de uns olhos flamejantes, por realizações suspensas em ondas de indefinições.

Não quero nada que detenha e asfixie o meu ego!

Quero a imponência da imensidão, da liberdade, do tangível e a utopia do inatingível.

Quero os meus sonhos, enfunados nas velas da felicidade, velejando nos braços de um mar confidente de mil memórias.

 

DIOGO_MAR

 

domingo, 10 de julho de 2016

ERUPÇÃO DE SAUDADE



Percorro as palavras escarpadas de ausência.

Pontiagudas, cravam-me o peito árido, de vontades amordaçadas.

Faço o meu leito numa cama cheia de vazio, onde me sinto um indigente.

Beijo-te e Abraço-te no imaginário.

Sabes, ainda compro a fragância do teu perfume que inunda o quarto, dando corpo as minhas fantasias.

Guardo a chave do cofre que o tempo nos roubou, encerrando todos os momentos realizados, outros adiados, mas sempre repletos de cumplicidade, e tão nossos.

Percorro o meu leito, tateando o passado, penso em ti, em nós!

Depois desfaleço por sobre os lençóis do desencanto.

O feixe de luz moribundo do candeeiro, desmaiava nas paredes esbranquiçadas de langor.

Corri a cortina, procurando vida para lá dos vitrais.

Contemplei o jardim, o velho mas frondoso plátano, eixava-se embalar pela aragem cálida, que lhe acariciava o corpo.

Não te vislumbrei!

Foi então que o sino da saudade, tocou a rebate dentro do meu despojado peito.

As lágrimas, precipitavam-se no parapeito da minha janela de sacada, palco e fronteira de esperanças abortadas.

Nego-me passar a limpo o rascunhado por nós, guardando na sebenta da nossa mais recôndita memória.

 

 

DIOGO_MAR