sexta-feira, 1 de novembro de 2013

E TUDO O TEMPO LEVOU


 
Por vezes, dou por mim a rebobinar o filme percorrido até aqui.

São a retrospetiva de episódios que irão ter o seu epílogo.

Uma travessia, dos capítulos de vida, que vou esmiuçando retratando-a, ao fazer esta introspeção.

Nascemos expostos a todos os desafios que a nossa existência nos vai confrontar, como se tratasse do bilhete com o número a sortear pela lotaria da vida.

Se eu, passasse ileso as agruras cáusticas, será que tinha amadurecido, no trilhar escarpado pela erosão do implacável tempo corrosivo e cruel, que por vezes levanta-nos barreiras intransponíveis?

É um verdadeiro e penoso teste as nossas capacidades!

Lembro-me que até aos meus 16 anos, do espirito de conquista que era fazer as marcas na umbreira da porta do meu quarto, vendo orgulhosamente a minha desenvoltura física.

O relógio nem o calendário representavam nada para uma vida que eu próprio comandava.

Ou pensava eu que comandava!

Um ano que parecia infindável, havia-se tornado tão fugaz.

Os dias, meses, anos vestiram-se de volatilidade implantando em mim, uma escravatura a qual eu, estou irremediavelmente confinado.

Os braços do tempo, são como algemas invisíveis, que nos marca a cadência feroz, de metas que nos propusemos alcançar.

Sob o jugo do relógio e do calendário, tornamo-nos robotizados, por uma vida obcecada pela valorização pessoal.

O mundo cego e louco da competição.

Uma verdadeira lei da selva.

O salve-se quem poder.

Aglutinamos num verdadeiro turbilhão, todas as ambições que estabelecemos de forma sôfrega e doentia.

Já não temos tempo, para o tempo.

O relógio e o calendário tornaram-se uns ditadores implacáveis, com voz altiva onde já não cabe o contraditório.

São os nossos carrascos.

Esvanecem todas as estações da primavera da vida, que ilustrava um guião que tínhamos conjeturado.

Resta-nos o outono da nossa vivência, com as suas folhas caducas a deixar-nos um trago de insatisfação e frustração de vida onde o vento parece varrer para bem longe a simplicidade de algo que se tornou inatingível, entapetando as realizações.

Que sabor amargo!

Em suma:

Uma mão cheia de nada!

Agora sou mais um, estandardizado e manietado, para onde me empurram, sem ter poder de escolha, restando-me um nó no peito de angústia.

Olho para as marcas ainda visíveis na umbreira da porta do meu quarto, e sinto uma vontade inconsolável, de regredir aos tempos em que o tempo não tinha tempo para mim.

Ou que eu tinha todo o tempo para ele!

 

DIOGO_MAR

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