sábado, 2 de novembro de 2013

MÃO CHEIA DE NADA




Sentado nesta janela de sacada, repouso o meu olhar sobre o frenesim de uma cidade a contas com o seu norte.
Um bulício de vidas que há muito perderam a sua identidade.
Agora tudo está circunscrito a um vai e vem que as obrigações nos impõem.
Dias que cabem numa hora de uma loucura desenfreada de tudo fazer.
A vida vai passando por nós, sem que disso se dê conta.
Abraçamos o vazio, que nos castiga, como areia fina que nos escapa por entre os dedos.
Tornamo-nos herméticos, ao suco que jorra da saudade, que nos trespassa a alma, e corrói as mais profundas entranhas, do nosso fragilizado corpo.
O marasmo em que mergulhamos é um caminho sem rumo, nem direção.
Somos uma amálgama de incertezas de insatisfações.
Nesta cálida e pardacenta tarde de outono, as tonalidades ficam esbatidas.
O cinzento da atmosfera, e desta granítica cidade, alastra-se aos semblantes agastados e moribundos, de viver uma vida, sem vida.
Nem o sol da esperança ressuscita a vontade de dar cor a tela que nós próprios esborratamos de forma negligente.
A caducidade da nossa vivência afoga-se num mar de folhas que despem as árvores.
Retrato a la minuta onde refletimos projetos de um futuro adiado.
Que nos importa ter tanto e saber, a tão pouco?
Tornamo-nos indiferentes a tudo, e a todos, envoltos numa carapaça de egocentrismo, que nos impede, de olhar para o nosso semilhante.
Já só sopram ventos agrestes e sinistros, da irracionalidade, a que nos esposemos.


 

DIOGO_MAR

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

E TUDO O TEMPO LEVOU


 
Por vezes, dou por mim a rebobinar o filme percorrido até aqui.

São a retrospetiva de episódios que irão ter o seu epílogo.

Uma travessia, dos capítulos de vida, que vou esmiuçando retratando-a, ao fazer esta introspeção.

Nascemos expostos a todos os desafios que a nossa existência nos vai confrontar, como se tratasse do bilhete com o número a sortear pela lotaria da vida.

Se eu, passasse ileso as agruras cáusticas, será que tinha amadurecido, no trilhar escarpado pela erosão do implacável tempo corrosivo e cruel, que por vezes levanta-nos barreiras intransponíveis?

É um verdadeiro e penoso teste as nossas capacidades!

Lembro-me que até aos meus 16 anos, do espirito de conquista que era fazer as marcas na umbreira da porta do meu quarto, vendo orgulhosamente a minha desenvoltura física.

O relógio nem o calendário representavam nada para uma vida que eu próprio comandava.

Ou pensava eu que comandava!

Um ano que parecia infindável, havia-se tornado tão fugaz.

Os dias, meses, anos vestiram-se de volatilidade implantando em mim, uma escravatura a qual eu, estou irremediavelmente confinado.

Os braços do tempo, são como algemas invisíveis, que nos marca a cadência feroz, de metas que nos propusemos alcançar.

Sob o jugo do relógio e do calendário, tornamo-nos robotizados, por uma vida obcecada pela valorização pessoal.

O mundo cego e louco da competição.

Uma verdadeira lei da selva.

O salve-se quem poder.

Aglutinamos num verdadeiro turbilhão, todas as ambições que estabelecemos de forma sôfrega e doentia.

Já não temos tempo, para o tempo.

O relógio e o calendário tornaram-se uns ditadores implacáveis, com voz altiva onde já não cabe o contraditório.

São os nossos carrascos.

Esvanecem todas as estações da primavera da vida, que ilustrava um guião que tínhamos conjeturado.

Resta-nos o outono da nossa vivência, com as suas folhas caducas a deixar-nos um trago de insatisfação e frustração de vida onde o vento parece varrer para bem longe a simplicidade de algo que se tornou inatingível, entapetando as realizações.

Que sabor amargo!

Em suma:

Uma mão cheia de nada!

Agora sou mais um, estandardizado e manietado, para onde me empurram, sem ter poder de escolha, restando-me um nó no peito de angústia.

Olho para as marcas ainda visíveis na umbreira da porta do meu quarto, e sinto uma vontade inconsolável, de regredir aos tempos em que o tempo não tinha tempo para mim.

Ou que eu tinha todo o tempo para ele!

 

DIOGO_MAR

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Porque foi assim?



Retratos de uma memória flagelada pela saudade.
Folheio as páginas que o tempo não apagou,
Momentos únicos que passei contigo, em horas de autenticidade.
 
 
Sobra-me o vazio na penumbra da escuridão
Onde está o farol que no breu, me guiava a tua mão.
 
 
Acorrentado a uma alucinação que alimenta o meu ser,
Vivo a noite sem um amanhecer.
 
 
Prisioneiro de bebedeiras de tantas recordações
Jorrado no meu leito solto desabafos onde explicito as minhas frustrações.
 
 
Sangro palavras ofuscadas numa solidão lancinante
Exaurido morro e vivo a cada instante.
 
 
Amordaço os desejos adiados, de palavras e atitudes abortadas por falta de coragem
Paira diante dos meus olhos a silhueta da tua imagem.
 
 
Se eu pudesse voltar a traz, se eu pudesse ser o que não fui, amava a cumplicidade que eu releguei, num pedaço de vida que tanto amei.
 
 
Agora sobra-me nas mãos retalhos de uma história inacabada
Desembainho a minha vida, já mais que moribunda, na ponta da espada.
 
 
Ó capítulos de uma narrativa, manchada de covardia enganadora e mentirosa
Esvaio-me nesta vida, cruel cega e raivosa.
 
 
Esta magoa cravada no meu peito, crucifica a minha dor
Procuro na noite gélida e vazia, pelo teu corpo enternecedor.
 
 
Verto lágrimas salgadas de amargura
Chamo por ti
Tenho saudades da tua ternura!
 
 
Autoflagelo-me por não ter sido o que quis
Trespassado pelo arrependimento
O tempo há-de ser o meu juiz.
 
 
Condena-me, dita a tua sentença de tempos idos que não voltam mais
Aqui fico eu, com um rascunho de uma vida a morrer de arrependimento, soluçando pelos nossos testemunhos intemporais!
 
 
 
DIOGO_MAR

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

EM NOME DA MENTIRA!



Sempre ouvi dizer que uma mentira dita muitas vezes transforma-se numa verdade.
Nunca entendi bem esta frase.
Mas já ouvi rebatê-la dizendo, que a mentira tem perna curta.
Por vezes dou por mim, a refletir sobre a carga que estas expressões representam hoje mais que nunca, numa sociedade altamente corrompida e facilmente aliciada.
Começa a ser quase que uma utopia o carater e a personalidade.
A sofreguidão cega de atingir os objetivos, sem olhar a meios, é algo que cada vez mais me angustia.
O abismo económico, em que caíram um elevado número de famílias, Portuguesas fez quase desmoronar os já fracos alicerces morais de uma sociedade inusitadamente consumista.
A par desta lamentável realidade, sobra-nos outra:
Uma classe política e uma elite económica, que manobra a seu belo prazer um barco, onde a culpa morre solteira.
Ou seja:
Todos mentem, mas ninguém é mentiroso.
Agora que ele se apresenta cheio de rombos, eles mais parecem ratos do porão a fugir sacudindo a água do capote isentando-se de culpas.
Vemos que todos esses lóbis mergulham num verdadeiro antro de corrupção e mentira.
Daí vejo com muita perplexidade, que se começa a perder a noção, de onde começa a verdade, e onde acaba a mentira.
Ou seja, é o adulterar por completo de princípios que os nossos progenitores nos incutiram.
A mentira instalou-se, e até já goza de um elevado estatuto, já tem status social.
Os mentirosos compulsivos.
E no que concerne a esta matéria, ela é abrangente e transversal, a todo o quadrante politico.
Os abutres estão aí, sedentos de sangue fresco.
Agora já nem eu mesmo sei, se a mentira tem de facto perna curta.
Bom, pelo menos uma certeza tenho, é que não vos menti!

 
Diogo_Mar

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

NA PALMA DA MINHA MÃO



Na palma da minha mão
Tenho o mundo guardado
Calcorreei todos os caminhos, para te ter ao meu lado.

 
Na palma da minha mão
Estão gravadas as linhas do meu viver
A seda da tua Pele, a luz do teu olhar
Faz Desabrochar em mim a fome por cada amanhecer.

 
Na palma da minha mão
Encerro a história de um amor inacabado
A cumplicidade dos nossos corpos
Dão cor, ao mais belo quadro com sabor a pecado.

 
Pecado doce e consentido
Fonte de todos os meus desejos
Entrecortamos as nossas palavras
Na sofreguidão dos nossos longos e molhados beijos.

 
Ó bocas loucas, de um amor voraz
Tu dás-me o paraíso
Eu?
Sou o o teu guerreiro da paz.

 
Fundimos os nossos corpos
Num ato de amor sem limite
Eu sou o teu rastilho
Tu és o meu dinamite!

 
Na palma da minha mão
Leram-me o meu destino
Disseram-me que de velho voltarei a menino!

 
Leitura trivial e desinteressante
Que me importa a mim o futuro
Quero é viver, e saborear cada instante!

 

 Diogo_Mar

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O MAR TAMBÉM É MEU



Sonhei que o mar era meu
No embalo dos meus braços ele adormeceu.

 
Ó mar gigante, de mil músicas cantadas
Dormes no meu peito com tantas histórias ancoradas.

 
A tua imensidão, nesse leito tão Profundo
O teu ventre dá guarida, aos mais belos tesouros do mundo

 
O vai e vem do teu embalo, como se chamasses por mim
Ó mar imponente, diz-me onde é o teu fim!

 
Mar de mitos e lendas, no meu sonho derramado
A tua voz trauteia tão lindo fado.

 
Mar salgado e doce, de bonanças e temporais
Sussurra-me ao ouvido, os teus segredos ancestrais!

 
Acredita na minha cumplicidade
Mar dos meus encantos, amo a tua docilidade.

 
Três letras te dão nome, força bruta do universo
Mar do meu sonho, deixo-me adormecer no teu leito submerso!

 

DIOGO_MAR

quinta-feira, 4 de julho de 2013

PÁGINAS DA VIDA


Na palma da minha mão
Disseram-me que tinha o destino
Quando um dia for velho
Irei voltar a menino!

 
Chamam a isto a roda da vida
Eu chamaria patamares do meu viver
Desde o que nasço
Até ao que vou morrer.

 
Escadaria de uma vida, íngreme e sinuosa
Cravaram em mim tantos espinhos
Até chegar a almejada rosa.

 
Ó vida acre e doce
Tantas vezes vestiste o teu fato de fel
Coube-me a mim como teu ator
Saber desempenhar o meu papel.

 
Uma peça que se divide em múltiplos atos
Onde a vida não passa de uma interrogação
Quantas vezes num laivo de raiva, rasguei o guião!

 
Ó vida de lume brando
Mas por vezes incandescente
Lavraste-me na tua terra
Germinaste esta semente.

 
Desfolho o calendário
Da estrada da minha vivência
Escrevo e faço a história
Que guardo da minha existência!

 

DIOGO_MAR